O Conselho Regional de Medicina (CRM) de Mato Grosso informou que vai apurar a denúncia de possível negligência médica no caso da jovem Edleia Daniele Ferreira Lira, de 33 anos, que morreu após procedimento de lipoaspiração e mamoplastia, realizado no Hospital Militar, em Cuiabá. A morte da vítima foi registrada no último domingo (13).
Ao Circuito MT, a presidente do CRM, doutora Maria de Fátima de Carvalho Ferreira, confirmou que já solicitou cópias das documentações referente ao procedimento médico a qual a vítima foi submetida. Além dos documentos, a Comissão de Ética do CRM também vai ouvir o Hospital Militar, a equipe médica e a família de Daniele. Na sindicância, o Conselho irá considerar os exames pré-operatórios, procedimentos cirúrgicos e pós-operatório para, só então, apontar se houve ou não falha médica.
De acordo com a médica, a instituição tomou conhecimento do caso por meio da imprensa e ainda não sabe a respeito da identidade do médico. “Eu ainda não sei quem foi o executor da cirurgia, porque teve uma notícia que era um médico, depois já não era ele. Depois teve outra notícia apontando outro médico. Mas, para nós, do Conselho, o dado oficial é o registro em prontuário e nós já solicitamos, mas ainda não tivemos acesso ao documento”, ponderou.
A presidente também deixou claro que o local mais adequado para realizar a cirurgia é decisão do cirurgião e destacou que não seria necessário uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no local, como é o caso do Hospital Militar, onde ocorreu o procedimento.
“Quem avalia é o médico. É uma cirurgia de baixa complexidade? De média complexidade? É uma lipoaspiração de grande ou de menor magnitude? O médico escolhe o melhor local para essa cirurgia, mas ele tem que fazer isso em cima do risco, que a gente chama de ‘risco cirúrgico’, que tem que ser avaliado”, observou.
Apesar de não ser necessário uma UTI no local onde faz a cirurgia, a presidente do CRM observou que é preciso ter equipamentos adequados para atender as possíveis intercorrências, considerando que toda cirurgia apresenta algum risco ao paciente.
“Pode acontecer uma cirurgia de baixa complexidade e complicar, por exemplo, então eu preciso ter um local de recuperação pós-anestésica, um carrinho de emergência e uma equipe pronta para atender uma reanimação”.
Maria de Fátima avalia que, ao todo, serão necessários ao menos seis meses para a conclusão da sindicância sobre o caso. “É muito complexo. As pessoas às vezes acham que o Conselho protege o médico, mas é uma análise técnica, porque tem doenças que vão levar a óbito independente do que se faça”, explicou.
O caso
No Boletim de Ocorrências registrado na Polícia Civil consta que o procedimento médico durou cerca de 8 horas e foi realizado na manhã de sábado. Após a cirurgia, Daniele teria dito que se sentia muito cansada. Quando um enfermeiro entrou no quarto para observá-la, percebeu que seus dedos estavam muito brancos (o que indica falta de circulação) e, portanto, algo estaria errado.
Segundo a esposa de Daniele, Simone Bueno Pall, não havia médico na unidade quando a jovem passou mal. À polícia, ela informou que havia apenas enfermeiros sem identificação no jaleco.
Ainda de acordo com o relato, Daniele ficou sem pulso logo em seguida, e os enfermeiros buscaram o equipamento desfibrilador e fizeram massagens cardíacas, na tentativa de recuperar a pulsação. Um médico teria chegado na unidade apenas uma hora depois.
Antes de encaminhar a paciente ao hospital particular Sotrauma, a equipe pediu que Simone deixasse um cheque caução de R$17,5 mil. A transferência de Daniele, então, só aconteceu após das 18h30. No novo hospital, ela foi medicada, mas sofreu várias paradas cardíacas. Em seguida, sofreu paralisia cerebral e faleceu, já na tarde de domingo. Segundo a unidade médica, a causa da morte seria um choque hipovolêmico. No entanto, a Polícia Civil aguarda um novo laudo.
O diretor do Hospital Militar, coronel Kleber Duarte, garantiu que todo apoio foi prestado e que não houve erro médico. Segundo o oficial, a paciente deixou o local consciente e conversando com a família. Apesar disso, o coronel destacou que o Hospital Militar apenas alugou o centro cirúrgico para a equipe, e informou que, em razão da média complexidade da cirurgia, não seria necessário ter uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no local.
De acordo com a família, Daniele fez a cirurgia por meio do programa Plástica para Todos, lançado em algumas cidades do país com o intuito de proporcionar maior acesso às cirurgias, que costumam ter valores altos.
Daniele teria encontrado o programa por meio de uma rede social e conseguiu agendar a cirurgia por meio do Whatsapp. Ela teria pago R$ 50 para entrar no grupo e outros R$ 50 para agendar uma consulta médica. Ao total, as duas cirurgias teriam custado mais R$ 6 mil.
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