Crise pode afetar abastecimento de sangue, diz presidente da ABHH (Foto: Maurício Glauco/EPTV)
O presidente da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), Dimas Tadeu Covas, confirmou nesta quarta-feira (6) que o país corre risco de sofrer um desabastecimento nas doações de sangue devido a uma crise financeira enfrentada pelos hemocentros.
Em entrevista à reportagem da EPTV, o também diretor-presidente da Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto (SP) e professor titular da Faculdade de Medicina da USP no mesmo município atribuiu o problema à alta do dólar e a um déficit de 30% dos repasses do Sistema Único de Saúde (SUS) em relação aos custos de operação.
"Os hospitais públicos que dependem dos hemocentros públicos precisam estar em alerta de que hoje o financiamento para os hemocentros é insuficiente para a manutenção das atividades. Portanto, se nada acontecer nos próximos meses, daqui a algum tempo o próprio fornecimento de sangue para esses hospitais estará prejudicado", disse.
Em nota, o Ministério da Saúde negou a possibilidade de desabastecimento e destacou medidas como repasses da ordem de R$ 659,5 milhões em 2014 e R$ 562,5 milhões em 2015, além de projetos para substituição de insumos importados.
Covas afirma que, apesar das constantes altas nos custos de operação, os valores repassados pelo SUS não são atualizados há cinco anos.
"Os hemocentros públicos dependem fundamentalmente do recurso que vem do SUS. Por outro lado, suas despesas estão atreladas à importação, ao dólar, que só no último ano valorizou-se 45% em relação ao real", afirmou.
Situação que prejudica diretamente os processos que garantem a qualidade dos serviços de coleta de sangue nos hemocentros públicos, explica o presidente.
"Os hemocentros têm que ter necessariamente um sistema de qualidade, têm que controlar seus processos, fazer a calibração dos seus equipamentos, têm que fazer a manutenção preventiva. Na falta de recursos, esses procedimentos são eliminados, são reduzidos.".
Caso a situação não seja revertida, um desabastecimento de sangue pode começar a ser percebido pelos hospitais em seis meses, afirma Covas. "É muito grave eventualmente se isso vier a acontecer."
Ministério da Saúde
Por meio de sua assessoria de imprensa, o Ministério da Saúde informou que não haverá desabastecimento na captação, no armazenamento e na distribuição de sangue e citou medidas para manter a viabilidade econômica dos hemocentros.
Dentre elas, destacou aumento de 6,6% nos repasses entre 2013 e 2014 – com um montante de R$ 659,5 milhões – e R$ 562,5 milhões investidos até outubro de 2015.
O órgão federal ainda comunicou manter parcerias com instituições como a Hemorrede, a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP-PR) para desenvolvimento de novas tecnologias e reagentes que substituam equivalentes importados, "diminuindo os riscos de subfinanciamento por possíveis variações do dólar".
Fonte: G1