O diretor executivo da Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat), Custódio Rodrigues de Castro Júnior fala sobre o panorama do setor, consumo interno e externo, crise econômica, e perspectivas para o futuro.
Confira entrevista.
Qual a performance de Mato Grosso no mercado da carne suína?
Custódio de Castro: Mato Grosso tem uma suinocultura praticamente bem nova, surgiu em meados da década de 70 para 80, com animais oriundos do sul, trazidos por produtores sulistas, cresceu substancialmente, saímos de 4.500 matrizes que vieram no início e hoje nós falamos de 180 a 190 mil matrizes em função de projetos que serão implementados em Mato Grosso até 2017/2018. No ranking do Brasil estamos chegando em 5º lugar no país podendo chegar em 4º lugar, apesar da crise.
E em relação ao consumo interno e externo?
Custódio de Castro: Na realidade nós produzimos bastante e por isso temos que tirar essa carne daqui para outros estados. Essas matrizes, em torno de 140 mil matrizes consideradas tecnificadas de qualidade que nós temos hoje, produzem 25 animais terminados/ano com abate no estado que oscila entre 2,5 milhões de abate. Por isso 85% a 90% dessa carne tem que ser retirada para outros estados e também para outros países como Ucrânia, Bielorrússia, Rússia, Hong Kong, China, por isso dessas preocupações quando estamos em crise e pela sustentabilidade no negócio da suinocultura no que tange a logística e de mercado. Estamos longe dos grandes centros consumidores e temos obrigatoriamente que andar mais. Por isso temos que prestar bastante atenção na questão do milho.
Hoje nós estamos falando em custo de produção mais barato do mundo, mas no entender da Acrismat o custo mais barato que nós temos é somente do milho. E também temos muita preocupação com outros entraves que encontramos para tirar essa carne de Mato Grosso.
Como a Acrismat analisa a qualidade da carne suína produzida em Mato Grosso?
Custódio de Castro: Na realidade nós temos uma excepcionalidade. Hoje obrigatoriamente os animais que vem de outros estados para povoar as granjas daqui devem ser oriundos das granjas chamadas GRSCs, que obrigatoriamente tem que passar pela averiguação do Ministério da Agricultura. Aqui em Mato Grosso já vamos passar para a 7ª granja CRSC. Então nós temos a sustentabilidade ambiental das granjas por ter um cinturão verde ao seu redor, nós temos as questão sanitária, aspectos que dão essa particularidade para Mato Grosso ao exportar animais dessas granjas para outros estados.
Num passado recente exportamos genética para a Argentina, de Nova Mutum, e isso vem fazer com que o estado, dentro dessa questão de qualidade técnica, genética e de mercado, represente uma excepcionalidade em nível de Brasil.
Qual a análise que a Acrismat faz do cenário atual da suinocultura?
Custódio de Castro: A associação tem trabalhado bastante em função do crescimento da suinocultura no Estado. Tem havido uma migração de grandes corporações para trabalhar a suinocultura aqui em função principalmente dos grãos. Mato Grosso está no centro do país, é um grande produtor de grãos, teremos num futuro muito próximo como a saída para o pacífico, ferrovias, a Cuiabá Santarém, a possibilidade da navegabilidade dos nossos rios. Então vejo uma possibilidade muito grande de Mato Grosso transformar-se no centro das atenções. Os grandes centros consumidores são Goiânia, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, então na realidade nós estamos começando a fugir pela tangente inclusive mandando carne para o Nordeste.
Outra questão que a gente vê com muita preocupação, e isso vem sendo anunciado pelo presidente da Acrismat Raolino Teixeira Machado e pelos presidentes anteriores, é a preocupação com as cadeias produtivas em relação basicamente ao que nós estamos passando hoje.
Nós estamos com o milho a R$ 35 reais, o custo de produção oscila entre R$ 2,90 a R$ 3,00 e estamos vendendo a carne suína hoje a R$ 2,50 a R$ 2,60. Um prejuízo de R$ 40 a R$ 50 reais por cada animal de 100 quilos. Tem produtor que chega a ter prejuízo de até R$ 1,5 milhão por mês.
Então essa é uma preocupação. Os produtores estão há algum tempo acenando que a questão do milho é bastante grave. Sabemos que somos um grande produtor, que o milho é uma cadeia importantíssima no estado, sabemos que eles tem que sobreviver, mas sabemos também que temos que ter políticas tanto a nível federal quanto estadual e que consigam trabalhar essa questão de sustentabilidade das cadeias produtivas que não envolvem apenas a suinocultura, mas também avicultura, bovinocultura e outras que trazem a possibilidade de consumo desse milho.
Hoje, segundo o próprio IMEA, nós consumimos no estado em torno de 3,1 toneladas de milho. Especificamente agora nós devemos ter um baque muito grande porque nós já temos uma produção que começou a ser colhida há pouco tempo e nós sabemos que essa produção já está comercializada pelas grandes trades. Como houve uma queda de produção em torno de 25%, existe uma preocupação muito grande porque a partir de agosto, quando termina a safrinha, teremos que levar esse milho até julho do ano que vem e o produtor está começando a se descapitalizar pra poder levar esse milho sabendo que ele não vai ficar à disposição.
Devemos ir ao Mapa, acionar a frente parlamentar da suinocultura que foi institucionalizada no dia 1º de maio para trabalhar junto com o Governo do Estado essa sustentabilidade da cadeia que com certeza vai ter um baque muito grande.
Quais as expectativas do setor para o setor diante desse cenário?
Custódio de Castro: A esperança é a última que morre. Nós estamos longe dos centros consumidores. O que tem se levantado é que diferente da crise de 2012 – quando tivemos uma crise de mercado internacional de não exportação – vários produtores saíram da atividade, e nós estamos enxergando esta crise muito parecida com aquela, talvez num olhar mais pessimista porque nós temos um problema muito grave da ordem econômica do país. As pessoas estão minimizando o consumo de embutidos e quem está pagando a conta mesmo é a carne suína. As pessoas estão parando de comer e temos uma oferta muito grande de mercado interno. Nós entendemos que as expectativas são as melhores possíveis, tivemos uma melhora até considerável com a chegada do frio, mas temos que ter um socorro maior. Acreditamos que o governo tem que abrir novos mercado e temos que dar uma injeção de ânimo na própria população.
A Acrismat, por sua vez, continua fazendo trabalho de marketing para o aumento do consumo e enxergamos que até o final do ano deve melhorar um pouquinho o cenário. Mas continuamos preocupados e reforçamos a todos os produtores que olhem com bastante cuidado a sua atividade e que nos procurem na Acrismat quando acharem necessário buscar alternativas para as cadeias produtivas dentro da sua propriedade.
Com Agro News