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Crimes violentos continuam a assombrar famílias em Cuiabá

O dia 24 de abril de 2014 não sairá mais da cabeça de Mariana (nome fictício), 42. Apesar de ser pretérito, o tempo verbal ainda se mistura na fala desta mãe que perdeu seu filho, com 18 anos de idade, para uma dívida com traficantes em Sinop.  

O assassinato ocorreu a menos de um ano e, por isso, a mãe ainda sente muito medo de represálias e prefere não se identificar e nem ao filho assassinado, mas quer contar sua história.

“Porque perder um filho é ver não florescer a própria semente. Você não fica esperando nada de ruim. Espera que a vida ensine e ele volte pra casa”. Infelizmente, não foi assim com Tiago (nome fictício). Com 16 anos ele se envolveu com as drogas. “Começou usando maconha, mas não parou por aí e eu já nem sabia mais o que ele usava. Quando o vício  tomou conta, ele passou a roubar algumas coisas de casa e até de vizinhos. Daí em diante as coisas só pioraram”, narrou a mãe.

Diarista e sozinha, Mariana contou sua história e como foi difícil receber a pior notícia que uma mãe esperaria. “Às vezes ainda sinto ele batendo a porta da sala e perguntando se tinha comida. Não é fácil criar um filho nesses dias, há a violência, as drogas, a prostituição e todo tipo de maldade possível para complicar nossas vidas”, fala a mãe. Trabalhando oito horas por dia, com prazos curtíssimos de almoço, Mariana disse que tentava dar o melhor para o filho.

“Nada substitui a presença materna, mas como nós viveríamos se eu não trabalhasse?”, se questiona, com pesar pela tragédia. Ela conta que no dia do assassinato, Tiago tinha ido pra casa depois de um final de semana sumido. Segundo Mariana ele estava preocupado, mas não disse nada a ela. “Eu sentia que alguma coisa estava acontecendo, mas ele não quis me preocupar e até me deu um beijo, coisa atípica dele, pois era mais fechado e introvertido”, explicou.

Naquela tarde de  uma segunda-feira, a vizinhança escutou o som de três disparos. A polícia foi chamada e o telefonema de uma amiga avisou sobre o acontecido. “Lembro de pegar o telefone já com uma dor no coração. Mãe sente essas coisas. A notícia foi um baque, nem tive disposição de avisar nada. Deixei os pratos na pia e corri para casa”, contou, após uma pausa de silêncio na conversa. 

Estatísticas preocupam

A história desta mãe que perdeu seu filho integra uma realidade mais complexa revelada por meio de números alarmantes da Secretária de Estado de Segurança (Sesp-MT) em 2015. Em Mato Grosso, os crimes de homicídio, roubo, furto e tráfico de drogas continuam altos. A pesquisa, que contabilizou os oito primeiros meses de  2015 – em comparação com o mesmo período ano passado – revelou 564 homicídios contra 619, em 2014. Os roubos aumentaram de 9.975, em 2014, para 11.376 este semestre; Os furtos diminuíram para 20.596, contra 22.102, em 2.014; As prisões por drogas chegaram a 3.008, versus 2.806, em 2.014. 

O que mais preocupa é a região de Cuiabá onde os roubos, homicídios e latrocínios (roubo seguido de morte), aumentaram no período pesquisado. Em relação ao ano passado os assassinatos aumentaram 2,6% (155 mortes em 2015, contra 151 em 2014 ); os latrocínios tiveram um pico alarmante de 57% (11 em 2015. No mesmo período de 2014 ocorreram 7 casos) e os roubos (com armas de fogo e seguido de ameaças) tiveram aumento de 37% (5.305 em 2015, contra 3.850 em 2014).

Mães que choram

Pensando na dor de cada vítima que integra essas estatísticas, foi que a presidente da ‘Associação de Mulheres de Roo e da Região Sul’, Sandra Raquel, idealizou o projeto ‘Mães que Choram’. As mães se unirão para buscar força e consolo para seguir a vida e poder ajudar outras vítimas da violência. “O projeto tem o objetivo de amparar essas mães que tiveram seus filhos ‘levados’ precocemente pelas drogas, álcool, roubos e brigas. Dar um auxílio psicológico e até espiritual para elas terem força para seguir lutando com suas vidas”, explicou a presidente.

Ainda engatinhado, o projeto quer integrar forças para ser um grupo permanente de apoio e consolo entre as mães e famílias vítimas da violência no Estado. “Conhecemos pessoas que se isolaram em suas casas após a perda de um ente querido – seja por medo, por desespero ou por tristeza. Nós queremos ajudar, conversar, ser um ombro amigo, pois sabemos o quão triste é perder quem se ama”, contou Sandra.

O grupo ainda está na fase embrionária, mas foi desenvolvido a partir da percepção de que a sociedade precisa dar atenção aos parentes que ficam após um crime brutal – não apenas na punição dele. “Sentimos que a cada dia a criminalidade aumenta e a atenção para as vítimas que permanecem vivas é quase inexistente. Também gostaria de enfatizar que a atuação do grupo será estendida para a região sul. Infelizmente em todo canto do mundo existem mães que choram. Nós queremos que essa atitude seja exemplo em outros estados”, concluiu.

Confira mais detalhes da reportagem do jornal Circuito Mato Grosso 

Ulisses Lalio

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