Plantão Policial

Crimes de feminicídio e execução marcaram o Grande CPA

Quarenta e quatro anos após a sua fundação, o Centro Político Administrativo (CPA) deixou de ser apenas a sede do Palácio do Governo e se desdobrou em muitos bairros, tornando-se uma das mais densas áreas povoadas da capital. Com o crescimento da região, que hoje conta com aproximadamente 200 mil habitantes, a segurança virou uma das prioridades do local.  Ao longo desses anos, alguns crimes chamaram a atenção não só dos moradores da região como também da população cuiabana, que ficaram chocados com acontecimentos que até hoje seguem sem que os responsáveis tenham sido punidos.

Um dos casos de maior comoção foi o brutal assassinato de Juliene Gonçalves Anunciação, de 19 anos. A jovem foi encontrada morta, nua e pendurada pelo pescoço no miniestádio do CPA. Desde o assassinato de Juliene nenhum acusado foi punido. O caso segue em análise pelo Ministério Público Estadual (MPE), que até hoje não ofereceu denúncia.

Outro caso que marcou a capital mato-grossense e também aconteceu no CPA foi a morte de André Luiz Oliveira, de 27 anos. O rapaz morreu baleado após ele e o irmão dispararem contra a Polícia Militar e matarem o soldado Élcio Ramos Leite, no dia 2 de agosto de 2016. Na ocasião, o pai de André disse que a Polícia Militar agiu com covardia e matou seu filho mesmo após ele ter se entregado. A família de André denuncia que o crime seria uma vingança dos militares pelo colega morto.

Atualmente a região do CPA tem como principal unidade militar o 3º Batalhão da PM. Sete unidades de policiamento militar compõem o batalhão e atuam em um total de 120 bairros, atendendo aproximadamente 350 mil habitantes. Apesar do baixo efetivo, o comando da PM afirma que a segurança na região está melhor.  “A Polícia Militar tem realizado policiamento ostensivo constantemente a fim de coibir os delitos na região, e tem conseguido, pois os indicadores apontam diminuição no número de crimes, seja tráfico, roubo, homicídios, furtos entre outros”, disse o tenente-coronel Fernando Augustinho de Oliveira Galindo, comandante do Terceiro Batalhão, ao Circuito Mato Grosso.

Morte no campo de futebol

No dia 28 de maio de 2012, nas primeiras horas da manhã de segunda-feira, a Polícia Militar foi acionada e informada por moradores que no “Campo do Botafogo” uma jovem tinha sido encontrada morta e pendurada com uma calça no pescoço. A cena levava a crer que a vítima teria tentado contra a própria vida.

Quando as viaturas da Polícia Militar chegaram ao local da morte, eles encontram vários curiosos em torno do campo de futebol. A área foi isolada para a chegada da Perícia Oficial de Identificação Técnica (Politec) e realização dos trabalhos que auxiliariam a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) na elucidação do caso.

As investigações duraram aproximadamente quatro anos e o inquérito só foi finalizado pela Polícia Civil em 15 de dezembro de 2016, que o encaminhou ao Ministério Público. Durante toda a investigação apenas um suspeito surgiu pela morte de Juliene. Ele teria inclusive forjado a cena do crime.

Segundo a delegada Anaíde Barros, que ficou à frente das investigações na época, o inquérito apurou que o vendedor A.R.S., 34, teria estrangulado Juliene.  Ao ser detido, o suspeito chegou a confessar que no dia do crime havia dado carona à jovem. A.R.S. era vizinho da avó de Juliene e amigo do primo da jovem e eles teriam saído no dia do crime.

Foto: Marcus Mesquita 

No depoimento, o acusado informou que conhecera Juliene no domingo (um dia anterior ao assassinato) em uma casa de pagode localizada no bairro Beira Rio, em Cuiabá. A partir dali deu carona a ela e ao primo, em seguida levou Juliene para lanchar e teria deixado a jovem em casa.

O celular da vítima teria sido encontrado dentro de seu veículo e também um fio com as mesmas características do utilizado para a morte de Juliene, segundo a perícia. O suspeito chegou a ficar um tempo preso e hoje aguarda o julgamento em liberdade.

O crime ficou conhecido nacionalmente como um exemplo da violência praticada contra a mulher e um símbolo dos casos de feminicídio que ocorrem em Mato Grosso, um dos estados com as maiores estatísticas nacionais de violência contra mulheres. A morte de “Juju”, como era conhecida a vítima, é relembrada por ativistas dos direitos das mulheres todo dia 8 de março.

Família de Juliene aguarda julgamento

Desde que morreu, a família da jovem Juliene Gonçalves Anunciação aguarda um posicionamento da justiça para que o culpado seja julgado. Um ato realizado em maio de 2016, em frente ao Pantanal Shopping e Ginásio Verdinho, foi denominado “Maio Juliene” e buscou protestar pelas mulheres vítimas de violência e também do caso que chocou a população e até hoje não tem uma resposta.

No dia do ato de manifesto, a mãe de Juliene, a professora Marlene Costa Anunciação contou que ela e o marido não tiveram condições de pagar um advogado para acompanhar o inquérito de perto. Marlene Costa afirma viver uma grande angústia, sem saber como andam as investigações e se realmente alguém seria julgado pelo crime praticado.

Marlene também conta que guardou algumas peças de sua filha para ter recordação. Amigos da jovem relataram que ela era muito vaidosa e gostava de se produzir e de se cuidar. Apenas restaram à família as saudades de tudo isso.

Quando aconteceu a morte da jovem, a Associação das Famílias de Vítimas da Violência (AFVV) ofereceu apoio aos familiares, o que segundo a AFVV foi negado à época, segundo relatou o presidente da ONG ao jornal. Comovidos com a história da família, os advogados Alberto Scaloppe e Antônio Alexandre da Silva Júnior ainda se propõem a acompanhar o caso.

“Nós queremos contribuir com o Ministério Público e dar a nossa parcela de contribuição à família da Juliene”, disse Alberto Scaloppe em entrevista ao Circuito Mato Grosso na época.

Faroeste no CPA

Outro caso que dividiu a opinião pública foi a morte de André Luiz Oliveira, 27 anos.  O crime aconteceu na tarde do dia 2 de agosto de 2016, depois de ele e de seu irmão sacarem um revólver e atirarem contra o policial militar em serviço Élcio Ramos Leite.

A PM chegou até André e seu irmão Carlos Alberto Oliveira Júnior, por meio do seu serviço de inteligência. Segundo a investigação que apurava venda de armas por meio das redes sociais, os irmãos estariam à frente das negociações na região do CPA.

No dia da morte, o militar Élcio e outro policial estavam descaracterizados e sem uniforme fazendo o serviço de investigação e se mostraram interessados em comprar uma arma. Carlos Alberto marcou com a dupla, na casa onde vivia com o irmão, próximo ao terminal do CPA I.

Chegando ao local, os irmãos surpreenderam o militar e atiraram na cabeça do PM Élcio, que acabou indo a óbito. Uma operação da Polícia Militar foi montada na região após o militar ser baleado, integrando equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), Batalhão de Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam) e o Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer) que auxiliaram os policiais militares do 3º Batalhão e passaram a buscar os criminosos.

Um dos suspeitos, Carlos Alberto, foi encontrado na Lagoa Encantada, já André, foi localizado em uma residência vizinha. O major a PM Waldir Félix de Oliveira Paixão Junior assumiu a autoria do disparo que matou André, alegando legítima defesa, já que no momento da abordagem o criminoso morto estaria com uma arma na mão e ameaçava a vida dos demais policiais.

Carlos Alberto de Oliveira, pai de André, acusou a Polícia Militar de ter executado seu filho sendo que ele era inocente e não devia nada à justiça. Carlos ainda fez graves acusações à instituição militar.

Reprodução 

Policiais indiciados

Após uma longa investigação e devido à comoção pública, o Ministério Público Estadual (MPE) acatou o inquérito realizado pela Polícia Civil e indiciou o major Waldemir Félix de Oliveira Paixão por homicídio qualificado.

O major era comandante do 24º Batalhão de Polícia Militar em Cuiabá quando assumiu a autoria do disparo que matou André Luiz Oliveira.  No boletim de ocorrência ele narrou que agiu em legítima defesa, tendo em vista que o suspeito (André) teria apontado a arma para ele durante a abordagem.  

No dia 28 de setembro de 2017, foi realizada uma reconstituição do crime com delegado e investigadores da DHPP e integrantes da Politec para elucidar novamente o crime. O pedido foi feito pela defesa do major que alegou que a denúncia do MPE não “corresponde à verdade”.

Já Carlos Alberto irmão de André está preso desde o dia do crime no Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC), no bairro Carumbé. Em agosto de 2017, o Ministério Público denunciou Carlos pelos crimes de homicídio qualificado, tentativa de homicídio e posse ilegal de arma. A justiça alegou que Carlos imobilizou o parceiro do PM Élcio, facilitando que o seu irmão atirasse contra a vítima que não pôde se defender.

“Ao invés de atender à ordem de prisão e se render, o denunciado escolheu afrontar não o agente policial mas a instituição da Polícia Militar, e pôr fim à vida de um jovem policial, que estava apenas cumprindo a sua missão em defesa da sociedade”, diz parte da denúncia do Ministério Público Estadual.

PM afirma que segurança depende da colaboração

Em conversa com o jornal, o comandante do 3º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Fernando Augustinho de Oliveira Galindo, destacou que o papel principal nas ações da PM na região é a participação da população, ligando, denunciando e colaborando.

“As nossas ações desenvolvidas na região e prisões têm bastante participação da população que liga e denuncia um crime, um ponto de venda de entorpecentes e ajuda a polícia, e isso é fundamental para a segurança. Sempre que souber de algo, o morador pode ligar para o 190 ou no 0800 65 3939 e fazer a denúncia anonimamente que iremos checar a veracidade dos fatos”, disse o comandante.

O comandante revelou que na região diariamente são realizadas operações de saturação e bloqueio a fim de localizar e prender pessoas que estejam cometendo atos ilícitos, seja tráfico de drogas, foragidos da justiça, ladrões que praticam roubos e furtos e homicidas que venham a cometer crimes no grande CPA.

Outra grande demanda da região, de acordo com o tenente-coronel Fernando, têm sido as fiscalizações em bares e tabacarias da região. “Temos apoiado, quando solicitados, a prefeitura de Cuiabá nas ações de fiscalização para identificar menores que estão fazendo uso de bebidas alcoólicas e até consumo de drogas nesses locais. Diversas ações nesse âmbito já foram realizadas este ano e muitas outras virão”, reforça o comandante.

O tenente-coronel explicou que a Polícia Militar atua de forma inteligente e com base em estatísticas de criminalidade, por isso reitera o importante papel do cidadão na segurança.

“Atuamos de forma inteligente, colocamos a polícia onde precisa combater a criminalidade, ao invés de colocar o policial para fazer ronda aleatoriamente, por isso, sempre que acontecer algo, o cidadão deve comunicar a polícia ou até mesmo registrar o boletim de ocorrência da situação, para que a PM atue mais na área que vem sendo problemática”, relatou.

“Às vezes as pessoas podem falar que a polícia não atua em determinada área que tem muito tráfico, mas se não houver denúncia ou comunicação do crime à polícia, os militares não têm como saber da real situação do local e passar a realizar rondas, por isso toda colaboração é bem-vinda e ajuda”, completou Fernando.

Operações de inteligência

O setor de inteligência da Polícia Militar, ao receber a denúncia, passa a monitorar o local por meio de estatísticas e atua no caso. O coronel relata que tal modus operandi tem surtido efeito e que os indicadores de crimes diminuíram em toda a região do CPA, e inclusive na Grande Cuiabá.

Para finalizar, o comandante pediu que o cidadão quando for comunicar algo à PM busque ser mais objetivo e passe as informações corretas. Segundo ele, em algumas situações a viatura demora a chegar ao local do crime, pois não consegue achar o endereço que foi passado e isso toma tempo da polícia e do próprio denunciante que acaba achando que a polícia que não quer ir ao encontro da possível vítima.

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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