A produção merece cuidados especiais. Não se trata de um dia como outro qualquer, mas da festa do vermelho e branco. Os rostos são pintados pertinho do portão de entrada da arena. Os acessórios estão na cabeça, no pescoço, nas mãos. E essas têm muito trabalho antes mesmo de o jogo começar. O clima é dado por palmas, as músicas são marcadas por elas. A equipe polonesa, ainda no aquecimento, olha e entende que terá mais um importante "jogador" em ação contra a Rússia ou seja contra quem for.
O barulho de 12.000 mil pessoas, de todas as idades, é alto, desconcentra. O hino, sempre cantado à capela, arrepia quem é da terra e quem não é. Faz adversários mostrarem semblantes preocupados. E se uma parte da arquibancada resolve vaiar Muserskiy e seus companheiros durante a execução do hino de seu país – inimigos históricos -, uma outra parte reprova e começa a aplaudir.
E quando o árbitro autoriza o início da partida, as vozes ganham ainda mais potência. Se o time está ganhando ou perdendo, o incentivo é o mesmo. O volume, a cantoria não diminuem. "Polska, bialo czerwoni" (Polônia, branco e vermelho) é cantado. Eles não desistem e querem que seus ídolos façam o mesmo dentro de quadra.
Há quem só sente na cadeira quando os jogadores fazem o mesmo. Boa parte assiste ao jogo de pé. E olhando para o telão, claro. Nos intervalos, a exemplo dos momentos que precedem a partida, a torcida se diverte ao se ver ali, flagrada por uma lente. Com direito a câmera do beijo e câmera da dança. E obedece direitinho às ordens do animador. Ao seu lado, tem um DJ, que vai da valsa ao rock nacional e internacional, e parece saber direitinho o que sua plateia quer ouvir. Cantam na hora pedida, sem atravessar. Fazem o mosaico quando ele autoriza.
A mascote também é outra atração. A águia, amada pelas crianças, entra em cena ao som de I got you (I feel good) de James Brown. Percorre todos os cantos da quadra. Sobe na caixa de som e toca uma guitarra imaginária. Um pouco antes, já havia tomado conta da cadeira do árbitro para reger a arquibancada. Nem mesmo os juízes costumam escapar das brincadeiras. Em alguns jogos, veem toda a arena imitar seus movimentos (veja ao lado). As cheerleaders também fazem seus números.
No segundo set, uma certa dose de sofrimento. Spiridonov e Muserskiy davam trabalho para os anfitriões. O alívio só veio depois que a parcial foi fechada, e a vaga na semifinal estava assegurada. A Atlas Arena explodia em alegria. Parecia até comemoração de título. No intervalo, a festa teve direito a apresentação da cantora Margaret, estrela local.
Na volta, as meninas seguiam com os olhos vidrados em Kubiak. O camisa 13 da Polônia é o jogador favorito de muitas. Os motivos variam. A resposta mais comum e dada sempre de forma tímida, porque "ele é bonito". Uma delas vai além e diz que gosta dele por considerá-lo "o melhor jogador do mundo". Mas dentro das quatro linhas quem se destacava pelo time da casa era Wlazly, o mesmo que marcou 31 pontos na vitória sobre o Brasil e que tem musiquinha de incentivo com seu nome (Mariusz/Wlazly/Mariusz!).
Com o lugar garantindo na próxima fase, os poloneses relaxavam, e os russos aproveitavam para roubar uma parcial. Mesmo eliminados, os campeões olímpicos poderiam tirar dos anfitriões a condição de primeiro da chave e forçá-los a enfrentar a França, contra quem precisaram do tie-break para vencer na segunda etapa, em vez da Alemanha. Conseguiam vencer o terceiro set. Um breve silêncio se fez quando Wlazly caiu e levou a mão ao joelho.
Não demorou para voltar ao normal. Foi só tocar "La Bamba", acompanhada por um coro, que tudo ficava bem. A brincadeira de acompanhar as batidas da bateria com palmas arrancava risadas quando uma ala errava. O ritmo seguia frenético. Um dos seguranças, que deveriam passar o jogo inteiro virados de costas para a quadra, não resistia e dava suas espiadas. A Polônia empatava (16/16), e o DJ dava seu recado escolhendo "We will rock you", do Queen. Os russos sabiam o significado da letra e respondiam. Tie-break.
Entendidos de vôlei que são, sabiam o que poderia significar o set desempate. E a tirar pelas caras preocupadas, não consideram boa coisa voltar a medir forças com a embalada França. O animador pedia por gritos de "Polska". Foi prontamente atendido. Pavlov tomava uma grande vaia quando se colocava na área de saque. A falha dele rendeu aplausos. E o 4/1 no placar fazia toda a arena ficar de pé. Muserskiy também errava o seu. A vitória já era comemorada antecipadamente. A pancada de Kubiak provocava nova explosão. Braços erguidos. Abraços na quadra e na arquibancada. Ninguém deixava a Atlas. Havia mais tempo para a cantoria ao som de Margaret.
G1