Cidades

Crianças estão há 12 dias sem quimioterapia e pais relatam angústia; fotos e vídeo

Fotos e vídeo: Willian Matos 

Indignação, medo, angústia, desespero e ao mesmo tempo esperança. Esses são os sentimentos das pais e mães de pacientes com câncer que esperam pela retomada das atividades do Hospital de Câncer de Mato Grosso (HCanMT) para que seus filhos voltem a fazer quimioterapia. Nesta sexta-feira, 18 de novembro, completam doze dias que as atividades dos hospitais filantrópicos da Capital estão suspensas. Em meio à incerteza dos próximos dias, o Circuito Mato Grosso ouviu aqueles que mais esperam pelo retorno dos atendimentos.

Juntos, mães e pais, buscam uns nos outros a força para enfrentarestá espera dolorosa que a doença proporciona. Em comum, a fé e a esperança de que Deus toque o coração dos gestores para que os repasses sejam feitos e os filhos possam retornar com o tratamento.

Nesta quarta, o filho de quatro anos da Leidiane dos Santos, que veio de Colíder há cinco meses para o tratamento, estaria realizando a terceira quimioterapia, mas com a paralisação ele não tem previsão de fazer nem a segunda que deveria ter sido feita há doze dias.

“Com tudo parado, a gente fica preocupada, porque ele não pode perder tempo. Fica um sentimento de indignação. Mas, não podemos perder a esperança né? É um direito deles o tratamento”, contou emocionada. Durante a entrevista concedida, Leidiane permitiu que gravássemos o depoimento dela que pode ser conferida no vídeo abaixo.

O diagnóstico da filha de 4 anos do casal, Lucio Oliveira e Dinalda Santos, foi dado há um mês e eles foram direcionados para o Hospital de Câncer de Mato Grosso, mesmo morando no Estado do Pará, pois possuem família aqui. Após três dias de viagens de ônibus até Cuiabá, Lúcio conta que recebeu o segundo baque quando anunciaram a paralisação dos atendimentos.

“Minha filha precisava da quimioterapia e por não ter atendimento ela precisou tomar sangue, plaquetas e a gente ficou em desespero. Nós ficamos bem apreensivos porque não sabe o que fazer né? A doença vai só acelerando… A gente vê ela inchando, aonde tinha caroços está inflamado e isso nos deixa com medo”, contou Lucio. “Todos os dias a gente está ali, para e fica refletindo e imaginando que vai dar tudo certo”, desabafou Dinalda.

Os cinco hospitais filantrópicos de Mato Grosso, Santa Casa de Misericórdia, Santa Helena, Hospital do Câncer, Santa Casa de Rondonópolis e Hospital Geral Universitário  suspenderam o recebimento de novos pacientes nas Unidade de Terapia Intensiva (UTI's), bem como suspenderão a programação das cirurgias eletivas e ambulatoriais até que o governo e município façam o  repasse dos recursos atrasados, no dia 07 de novembro de 2016. Esta é a segunda paralisação só este ano em Mato Grosso.

A Secretaria Estadual de Saúde estaria devendo R$ 7 milhões de repasses atrasados para Cuiabá. Além disso, precisaria formalizar a finalização do custeio mensal dos R$ 3,6 mi dos déficits mensais destes hospitais, segundo dados levantados pela consultoria Planisa e disponibilizado pelo próprio Governo do Estado de Mato Grosso.

Já a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) estaria pagando a produção de média e alta complexidade com mais de 60 dias de atraso. Os hospitais atualmente atendem cerca de 80% da população pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e somam cerca de 3,5 mil internações por mês, sendo que 750 leitos estão disponibilizados ao SUS. Em cada unidade são feitas aproximadamente 500 cirurgias por mês.

A doença não espera

Com a filha de 6 anos em tratamento, a Luciana Lauro veio de Aripuanã há uma semana. Como não tem parentes na capital, as duas se hospedam na Associação de Amigos da Criança com Câncer de Mato Grosso (AACC) e aguardam o retorno dos atendimentos. “Minha filha precisa de quimioterapia e a gente fica aqui esperando, esperando para ver o que vai ser resolvido. Eu não tenho como voltar para minha cidade, pois já me informaram que não vão dar passagem pra eu voltar agora neste resto de ano então o jeito é esperar”.

Luciana está desempregada, pois após receber o diagnóstico da filha precisou faltar ao trabalho e a antiga empregadora disse que não poderia manter o emprego. “Ninguém vê o nosso lado sabe? Mesmo que eu tente arrumar um emprego, eu preciso vir pra cá pelo menos uma vez no mês e ninguém quer dar emprego quando eu explico a situação. Eles falam que pra eles daí não dá”, desabafou. A ajuda para se manter aqui vem da mãe que mora em Aripuanã.

Com a filha em tratamento desde os 16 anos de idade, Dilma Barbosa, sofre com a angustia do retorno da doença e a paralisação. “Rescindiu a leucemia dela, teve que voltar com o tratamento. Somos muito bem atendidas aqui, mas agora com o que está acontecendo né… A gente fica sem saber o que fazer porque isso é uma vergonha para os governantes”, apontou.

Segundo ela o sentimento dela é de incapacidade. “Não é só a minha filha que precisa, são várias crianças que precisam. Eles precisam de medicamentos, atendimento. Eu precisei pagar um exame particular para minha filha do meu bolso de R$ 200,00 se eu quisesse fazer o exame. Porque aqui não estava fazendo, faz, mas neste momento não está. Ai eu tive que pagar o exame particular pra ela e nisso você tira da boca pra poder pagar”.

O filho de 14 anos da Leoní, está há dois anos em tratamento e está em uma fase de manutenção que segundo ela é uma fase bem delicada onde a criança precisa fazer a quimioterapia toda semana e não pode ficar sem. “O hospital fechou as portas e o meu filho ficou sem medicamentos. A gente fica muito apavorada, muito nervosa, por que não é brincadeira. É uma coisa séria, uma doença muito grave. As crianças não podem ficar sem receber a medicação e está acontecendo tudo isso, não só com ele, mas com a maioria das crianças”.

O desabafado com a voz embargada é de quem pede por socorro. “O Hospital fechou as portas e o que falam pra gente é que não estão atendendo por falta de repasse e a gente vê na televisão, mas não sabe se é Estado ou Município, não sabemos o que é. E a informação que temos é que enquanto não receber tudo que eles estão em falta, eles não vão voltar atender”, relatou.

Leoní esclareceu que o filho nunca ficou sem tomar a medicação durante todo o tempo de tratamento e que sempre foi bem atendido, mas que agora não sabe como o problema da paralisação será resolvido. “A gente não tem expectativa de volta porque pelo que estamos acompanhando o atendimento não vai voltar tão cedo e essa é a nossa maior preocupação”.

Para Silvana do Nascimento, que é de Vilhena em Rondônia o apoio entre as mães é fundamental para enfrentar tudo o que está acontecendo. “Não estão liberando os atendimentos e isso da um desespero até pra gente, por que nós convivemos com bastante mães e a gente pensa nos filhos. Nós já temos os nossos filhos, então é um desespero coletivo”. A filha dela, de 10 anos, saiu semana passada da internação e conseguiu receber a medicação.

“Tem muitos aqui que precisam toda semana tomar a medicação e sem isso a doença já vai se agravando. Pra quem já toma a medicação a doença já agrava, imagina para quem está todos esses dias sem tomar né?”, expões Silvana. Segundo ela o risco de ‘acontecer o pior’ é grande, ainda mais pela falta de medicação. “Isso é muito triste e nós ficamos uma pela outra aqui. Os nossos filhos estão pagando por tudo isso que está acontecendo. Eu espero que Deus toque no coração deles [gestores]”.

Leia mais: Hospitais filantrópicos pedem socorro e param pela segunda vez no ano

 

Catia Alves

About Author

Você também pode se interessar

Cidades

Fifa confirma e Valcke não vem ao Brasil no dia 12

 Na visita, Valcke iria a três estádios da Copa: Arena Pernambuco, na segunda-feira, Estádio Nacional Mané Garrincha, na terça, e
Cidades

Brasileiros usam 15 bi de sacolas plásticas por ano

Dar uma destinação adequada a essas sacolas e incentivar o uso das chamadas ecobags tem sido prioridade em muitos países.