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Crianças eram trancadas em quarto escuro de berçário como forma de castigo: ‘Fiquei com medo e chorei’

“Uma professora colocou eu no quarto escuro, eu fiquei com medo e chorei. Ela puxava meu cabelo no banheiro". Esse relato é de uma criança de 3 anos que ficava sob os cuidados de um berçário particular no Centro de Sinop, no norte do estado. Um casal dono do local foi preso preventivamente pela Polícia Civil na sexta-feira (14), após denúncias de pais e ex-funcionários da empresa. O local atendia crianças de 0 e 5 anos e cobrava cerca de R$ 948 na mensalidade.

A polícia informou que ouviu testemunhas que narraram diversos episódios de violência contra os alunos, como tapas nas nádegas e na boca, mordidas, puxões, golpes com raquetes, empurrões e beliscões. Além disso, conforme os depoimentos, existia um “cantinho do pensamento” – um corredor escuro, que dava acesso ao quarto da proprietária, onde ela trancava as crianças que se comportavam mal.

Ao g1, o advogado de defesa, William Puhl, alegou que os proprietários do berçário são inocentes e que uma das mães teria agido de má-fé ao denunciá-los à polícia, apresentando imagens de ferimentos ocorridos fora da unidade de educação. A defesa também negou que as crianças eram trancadas em um quarto escuro.

“O imóvel onde fica o berçário é uma casa bem ampla e arejada. As janelas são grandes e não existe nenhum quarto escuro”, disse.

Em entrevista à TV Centro América, a mãe da aluna de 3 anos contou que a filha mudou o comportamento em casa devido às agressões sofridas na escolinha.

“Ela pegava a boneca e, de repente, começava a dar socos, a gritar com a boneca. Passou a ter medo de dormir sozinha no escuro, coisa que nunca aconteceu antes. Fiz a denúncia não só pela minha filha, mas pelos bebês que não sabem falar. A gente se indigna e quer fazer justiça com as próprias mãos, mas temos que ser inteligentes e denunciar para não acabar na cadeia”, declarou.

Segundo a mãe, ela tinha confiança na proprietária do berçário, mas, após o aniversário de 3 anos da filha realizado na escolinha, uma das convidadas presenciou momentos de agressão e contou à família.

“Pedimos autorização para que uma amiga da minha filha, de 7 anos, pudesse ir na festinha na escola. Ela [dona] autorizou, mas no dia ficou doente e não avisou ninguém sobre a visita. Eles não perceberam que a menina não fazia parte da escola e continuaram fazendo o que faziam de costume, agredindo as crianças”, contou.

Após a festa, a mulher disse que recebeu uma ligação da mãe da amiga da filha contando que a menina presenciou e relatou as cenas de violência, entre elas, contra um bebê de 4 meses que teria sido sufocado após chorar.

“Essas violências físicas e psicológicas as crianças vão levar para vida e terá muitas consequências. Como mãe, eu poderia ver isso e falar que não daria em nada. Poderia apenas tirar minha filha de lá e seguir a vida, mas e os outros bebês? Se acontecesse alguma coisa, eu sabendo de tudo e sem denunciar, me sentiria culpada”, pontuou.

Ameaças aos funcionários

A delegada Jéssica Assis, responsável pela investigação do caso, afirmou que ouviu ex-funcionárias do berçário, que confirmaram as agressões. Elas afirmaram à polícia que não denunciaram antes, porque eram ameaçadas pelo dono do imóvel.

"Trouxeram imagens que mostram boca de criança cortada, marcas de tapas na bunda das crianças. Tem um acervo probatório bem robusto que sustenta a denúncia. Há também diversos relatos de que ele [proprietário] ameaçava de jogá-las em uma vala no Maranhão caso elas denunciasse o caso à polícia", ressaltou a delegada.

O advogado de defesa afirma que a relação entre os donos e as funcionárias era amigável e que está juntando mensagens trocadas entre eles para entregar à Justiça.

O Núcleo de Violência Doméstica da Delegacia de Sorriso informou que a dona deve responder por tortura e o marido dela pelos crimes de omissão mediante tortura, ameaça e perseguição.

Redação

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