Aumento no desmatamento em Mato Grosso ameaça compromissos climáticos. É o que alerta o Instituto Centro de Vida (ICV) em nota técnica divulgada nesta segunda-feira (17.11). O documento aponta que o estado registrou um crescimento de 25% no desmatamento da Amazônia e de 5,5% no Cerrado no período entre agosto de 2024 e julho de 2025. Ao todo, foram 1.572 km² de floresta amazônica e 455 km² de vegetação nativa do Cerrado destruídos, colocando em risco as metas de zerar o desmatamento ilegal até 2030.
Segundo o ICV, 65,5% do desmatamento em ambos os biomas ocorreu sem autorização para supressão da vegetação. Para cumprir os compromissos ambientais, os especialistas apontam que, além de reduzir o desmate ilegal, será necessário diminuir pela metade o desmatamento autorizado no Cerrado. A entidade destaca que o controle ambiental enfrenta dificuldades diante de propostas estaduais que fragilizam políticas de fiscalização e proteção florestal.
Entre as maiores ameaças ao cumprimento das metas, o ICV cita o fim dos efeitos da Moratória da Soja em Mato Grosso, após decisão da Assembleia Legislativa (ALMT) que retirou incentivos fiscais de empresas aderentes ao pacto — medida sancionada pelo governo estadual. O acordo, que impede a compra de soja produzida em áreas desmatadas na Amazônia após 2008, foi fundamental para reduzir o avanço da cultura sobre vegetação nativa, diminuindo de 30% para cerca de 1% o desmatamento associado à soja.
Outro ponto crítico destacado pela nota técnica é o Projeto de Lei Complementar (PLC) 18/2024, que pretende alterar a classificação oficial da vegetação mato-grossense, enquadrando áreas de floresta como Cerrado. Segundo o ICV, a mudança pode abrir caminho para a supressão de mais de 5 milhões de hectares de Reserva Legal, além de contrariar classificações técnicas do IBGE e do Mapa de Vegetação do Brasil.
A entidade também chama atenção para o avanço do desmatamento por degradação progressiva, especialmente na Amazônia, onde incêndios recorrentes reduzem gradualmente a biomassa e a integridade estrutural da floresta. Esse tipo de desmatamento representou 58,2% da área destruída no bioma dentro do estado. Marcelândia foi o município que mais desmatou, com 97,5% de destruição não autorizada e predominância de degradação causada por fogo.
O ICV reforça que reverter o cenário exige políticas públicas alinhadas às metas climáticas e a integração do capital natural aos modelos econômicos sustentáveis. “Evitar o desmatamento e valorizar os serviços ambientais dos biomas é essencial para garantir a produção de chuvas, a regulação do clima, a conservação dos solos, a biodiversidade e a qualidade de vida da população”, conclui a nota técnica.



