Um retrato poético sobre crescer e seguir acreditando, mesmo após o
encanto se perder.
O encanto vai embora devagar. Você vê suas certezas desmoronarem, as
histórias que eram linhas retas se tornarem labirintos, as pessoas em quem confiou
tornarem-se estranhos e até você mesmo parecer outro. Quando a gente cresce, a
mágica de não saber tudo se transforma muitas vezes em desencanto. expectativas
se quebram, sonhos se arrastam sob a poeira da vida adulta e a gente começa a
carregar a frustração de quem acreditou demais. E não é que você tenha acreditado
errado, é que o mundo é maior e mais complexo do que cabia no início. É que
alguns planos se dissolvem, alguns amores se revelam passageiros, algumas
causas geram mais perguntas do que respostas.
Mas crescer também é isso: continuar. Continuar acreditando naquilo que
sobreviveu. Continuar se dispondo mesmo após se decepcionar. Continuar lendo,
criando, amando, mesmo quando o livro tem páginas riscadas, quando o quadro
está trincado, quando o outro já provou que não quer ver. Crescer é ir para a rua
mesmo sabendo que pode chover, é colocar os pés no cimento frio da realidade e
continuar.
Entender a realidade dura é importante, mas desistir diante dela é outra
coisa. Você pode perder a promessa que viu no primeiro encontro, pode descobrir
que a amizade não se sustenta na rotina, que a família também fere, que o sonho
precisa de mais apoio do que você tinha imaginado. E aí vem o grande ponto:
continuar. Continuar quando não faz sentido interno, continuar quando o corpo pede
pausa, continuar quando a cabeça diz que cansa. Continuar porque acreditar
mesmo quando tudo conspira contra é um ato de liberdade. É mostrar que você não
vai deixar o mundo moldar seu limite. É erguer a própria mão em direção a uma
vontade que persiste apesar das rachaduras.
E aí chega o momento em que você entende que, acreditando mesmo sem
garantias, você se expõe de novo. E aí você decide que vale. Que a verdade dentro
de você, aquela chama teimosa, ainda é mais forte que qualquer pulverização de
esperança. Então, você continua acreditando. Não, porque tudo vai dar certo. Mas,
porque o ato de continuar já é um gesto valioso. Crescer é tocar o chão duro, olhar
a tempestade nos olhos e escolher o recomeço mesmo sabendo que pode cair
novamente.
Você perde o encanto, mas não perde o que importa. Você entende que
acreditar não é ilusão, é escolha. Não é sinal de fraqueza, é sinal de coragem. Não
é fechar os olhos para a dor, é escolher o caminho apesar dela. E quem ainda
acredita após perder o encanto não vive no encanto — vive na potência. E a
potência, essa, sim, é poder puro.

@enricopierroofc