Por G1, Foto: reprodução, Acesse a matéria AQUI
O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) concluiu que a Ciclovia Tim Maia, entre o Leblon e São Conrado, na Zona Sul do Rio, não apresenta condições adequadas de segurança para os usuários e sugere que ela fique interditada nos meses em que são recorrentes as ressacas no mar. O resultado do laudo foi apresentado nesta terça-feira (28).
Em abril do ano passado, um trecho da ciclovia desabou e matou duas pessoas. O Crea-Rj foi intimado pela Justiça a periciar a obra e apresentar seu parecer. Ao concluir o estudo, a entidade identificou problemas nos pilares da estrutura, como pontos de corrosão.
O Crea foi oficialmente notificado pela Justiça do Rio em janeiro para que fosse feita a perícia no local. Após estudos e análises dos projetos e laudos da ciclovia, a comissão de seis engenheiros nomeada pelo presidente do Conselho, engenheiro eletricista e de segurança do trabalho Reynaldo Barros, chegou aos resultados da investigação. O laudo deve ser anexado ao processo.
O trabalho de análise do Crea pegou todo trecho da ciclovia, desde São Conrado até o Leblon, e não só onde ocorreu o acidente já que, de acordo com o presidente do Crea, a comissão identificou necessidade de apresentar outros problemas que também havia em todo esse trecho.
Segundo Barros, foram constatadas vários pontos de corrosão em vários pilares, que causam a movimentação inadequada das vigas. Em um trecho que fica depois de onde ocorreu o acidente, por exemplo, também há pontos com desnível e fissuras, além de sinais corrosão.
“A fixação dos elementos metálicos de guarda corpo, de forma geral, apresenta estado de deterioração, gerado pela incompatibilidade de materiais e/ou pela falta de proteção adequada dos elementos metálicos de fixação", explica o texto do documento.
Para o presidente do Crea-RJ, problemas na realização da obra seriam a causa dos problemas na estrutura. Ele afirma que os membros da entidade se surpreenderam com o desgaste tão acentuado em uma obra tão nova.
"Houve problema na execução. É claro que pelas fotos a gente percebe que houve essa execução mal feita. Na questão do planejamento, não entrei no mérito pra verificar. Nós analisamos os projetos e o que mostra é que a execução foi comprometida e hoje a ciclovia não tem nem um ano de operação e já apresenta sinais de desgastes. Nesse planejamento, você tem que considerar a agressividade daquele ambiente, você tem ventos, salinidade, esgoto. A execução podia ter sido melhor", afirmou Barros.
O relatório destaca também fissuras no piso da ciclovia, incompatíveis com a idade da obra.
“O piso da ciclovia, composto pelas vidas ‘pi’, apresenta estado de fissuração inaceitável, em muitos casos, denotando padrão de falhas que comprometem o conforto do usuário – incluindo desníveis – e sobretudo a durabilidade da obra, o que pode ser observado pela quantidade de fissuras (mesmo que de pequena abertura) por onde penetram agentes agressivos ao concreto e em especial às suas armaduras, ocasionando processos de corrosão precoces”, conta o relatório.
O documento conclui que a Ciclovia Tim Maia não apresenta condições adequadas de segurança para os usuários. A recomendação do Crea é que a obra só seja liberada ao uso quando a estrutura e seus elementos complementares estiverem recuperados e reforçados estruturalmente.
O laudo reforça que o que causou o desabamento do trecho da ciclovia não foram os problemas de corrosão e sim o impacto da onda que não estava previsto no projeto.
"Esses problemas que existem, de envelhecimento precoce da ciclovia, não foram eles que determinaram o acidente. O que determinou o acidente foi o impacto daquela onda, em função da característica executiva da obra, em que os tabuleiros eram apenas apoiados", explicou o presidente do Crea-RJ.
A recomendação do Crea, de acordo com o laudo apresentado, é que a ciclovia fique fechada de abril a agosto, meses em que há maior possibilidade de ocorrerem ressacas. Nesse período, o Conselho acrescenta que poderiam ser feitas as obras de reparo, para que não seja necessário interditar a ciclovia novamente, após esse período, para realizar as reformas sugeridas. Apesar da recomendação de interrupção do trânsito na ciclovia, os integrantes do Crea-RJ destacaram que a decisão de impedir a circulação é da justiça e do poder público.
"O juiz é que vai decidir isso. Nós estamos recomendando preventivamente, nesse período da ressaca que pode ou não acontecer ondas daquela magnitude naquele dia do acidente. O ambiente é muito agressivo e aí recomenda-se uma obra de arte especial que já é previsto num padrão de técnica da engenharia civil," destacou o presidente do Crea.
O laudo feito pelo Crea será encaminhado à Comissao de Ética, que será responsável por decidir sobre 14 profissionais envolvidos na obra.
Entenda o caso
A polícia indiciou 14 pessoas pela queda da Ciclovia Tim Maia, no dia 21 de abril. Os 14 responderão por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar. Duas pessoas morreram no acidente: o engenheiro Eduardo Marinho Albuquerque, de 54 anos, e o gari comunitário Ronaldo Severino da Silva, de 60.
O delegado responsável pelo caso, Alberto Lage, diz ter encontrado erros em todas as etapas da obra. A começar pela licitação, com o projeto básico incompleto. Houve falhas também no projeto executivo, apresentado em partes e já com a obra iniciada. Vinte e sete pessoas foram ouvidas, entre testemunhas e pessoas envolvidas no caso.
Sete indiciados são da GEO-Rio – orgão da prefeitura responsável pelo projeto básico e pela fiscalização da obra.
Outros seis indiciados foram responsáveis pelo projeto executivo. A investigação concluiu que eles também não levaram em conta a ação das ondas. Destes, quatro deles são do consórcio Contemat-Concrejato, que construiu a ciclovia. Os outros dois são ligados à Engemolde Engenharia, contratada pelo consórico para construir pilares e lajes.
Na época, o consórcio Contemat-Concrejato e a Engemolde informaram que não tiveram acesso ao inquérito e não irão se pronunciar sobre o assunto. A Defesa Civil do município e a GEO-Rio também não se manifestaram.