Opinião

CORTE 8 VERSÃO FIM MESMO

Fazer um documentário tem que ter muita paciência. Ver e rever a mesma entrevista diversas vezes. Costurar os entrevistados numa mesma narrativa. Tirar o excesso, definir quais as melhores histórias, ter coragem de tirar coisas que você gosta, mas que é muito você. Engraçado quando você vê um ano de trabalho em 80 minutos. Tem 3 semanas que eu vivo, respiro e só penso nesse projeto. A gente volta a ser criança. Parece um jogo de videogame, em que você não quer parar de jogar enquanto não passarem as fases. Num filme é assim. Faz o primeiro corte. Faz o terceiro. Faz o décimo. Coloca os filtros. Desenha as animações. Faz o corte 12. E vai criando uma relação de pertencimento para aquela obra.

– João, por favor, para de ver esse filme!

– Por que Flor…… ainda tá nota 7.8…..

– Porque já tá mudando de novo! Acho que é a quinta vez que você muda o final!

– Na realidade, essa é a versão 7!

Fazer arte não é fácil. Ainda mais em nosso Estado. Aqui a arte não é prioridade. De ninguém. Você não recebe o suficiente para poder mergulhar. Você recebe para poder fazer. O lance é que não entro pra brincar. Já que é pra fazer, que façamos com o que temos de melhor. 

– Temos de entregar João. Já tá mais que atrasado. Não pode adiar de novo. E ainda falta finalizar o áudio. Aliás pode anotar aí: é mais uma conta que a Donamaria vai ter que pagar. 

Eu e minha eterna mania de não terminar as coisas. Começo e largo. Sempre fui assim. Ainda bem que agora tenho Flor, que me pega pela mão e me coloca pra frente. Pego o mouse, aperto salvar como e digito « Corte Hirigaray na cidade das artes versão 8".

João Manteufel Jr.

About Author

Mais conhecido como João Gordo, ele é um dos publicitários mais premiados de Cuiabá e escreve semanalmente a coluna Caldo Cultural no Circuito Mato Grosso.

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