Plantão Policial

Corretor diz que ganhou netbook por apoiar morte de empresária em MT

 
O crime gerou repercussão devido aos requintes de crueldade, pois a vítima estava amarrada durante os golpes, e pela acusação de que o mandante foi o marido da empresária, Damião Francisco Rezende.
 
Esta foi a primeira vez em que Eduardo se manifestou no processo desde que foi preso, em abril. Cerca de dez familiares da vítima compareceram ao Fórum de Cuiabá com camisetas estampadas com uma foto dela. Madrinha de Ângela, Maildes Conceição Peixoto, ficou do lado de fora o tempo todo, mas afirmou que confiava na Justiça para amenizar a perda da família, chocada pela crueldade do crime.
 
Na 1ª Vara Especializada contra Violência Doméstica em Cuiabá, Eduardo explicou que fora chamado por Daniel Paredes Ferreira no dia 15 de novembro de 2011 para participar de um furto a uma casa, não tendo qualquer conhecimento da intenção do amigo (a quem já conhecia há cerca de um ano) de realizar uma execução naquela noite.
 
Segundo ele, Daniel assegurou que seria uma ação rápida e sem vítimas, pois não haveria moradores na casa, cujas câmeras de segurança estariam previamente desativadas e cujo controle do portão de estacionamento estava inclusive em seu poder.
 
Execução
 
Tudo que Eduardo teria de fazer seria transportar Daniel e seu comparsa, Maycon José Cardoso, em seu carro até a casa da vítima, no Bairro Jardim Presidente, e ajudá-los a retirar bens de valor da residência. Por isso, ele receberia uma quantia de R$ 500 a R$ 700. Não foi esta a recompensa que ele acabou recebendo posteriormente pela participação.
 
O dinheiro seria parte da quantia de R$ 3 mil que Daniel e Maycon rateariam pelo furto, o qual havia sido encomendado pelo marido da vítima, Damião, a fim de “tirar vantagem, benefício do relacionamento”. Ainda segundo o acusado, o furto serviria “para aproximar o relacionamento deles, que estava conturbado”.
 
Eduardo contou que não conhecia Damião nem a vítima e afirmou que resistiu à proposta de participar do furto. Chegou a dizer a Daniel que não tinha combustível e que estava ocupado, pois teria de levar um lanche à namorada, mas acabou cedendo e conduziu a ele e Maycon, a quem conheceu naquele dia, até o local do crime.
 
O trio chegou à frente da casa e a ação se desenrolou rapidamente. Eduardo estacionou o carro e deu uma volta pelo bairro por 20 minutos. Ao chamado de Daniel pelo telefone celular, retornou à casa e entrou com o carro para carregar os bens retirados do local – como televisão, home theater, bolsas, notebook, netbook, aparelho de DVD – e chegou a adentrar na sala para ajudar Daniel a retirar um televisor mais pesado enquanto Maycon "terminava o serviço" lá dentro. 
 
"Recompensa"
 
“E o meu dinheiro?”, perguntou Eduardo ao terminar de carregar o carro, lembrando da recompensa combinada. “Toma este aqui e depois eu acerto com você”, teria respondido Daniel, entregando um netbook furtado na casa.
 
Eduardo explicou à Justiça que logo depois levou Daniel e Maycon para suas respectivas casas sem enxergar qualquer mancha de sangue neles, que, segundo a acusação, haviam acabado de assassinar Ângela dentro de casa. O acusado também afirmou não ter percebido qualquer indício de que havia alguém dentro da casa onde, reiterou, teria participado apenas de um furto.
 
Só no dia seguinte, afirmou, veio a saber por meio de relatos na imprensa que havia participado de uma ação agora tratada na Justiça como um homicídio triplamente qualificado. “Conforme a mídia falava, eu fiquei sabendo”, contou Eduardo, que dois dias depois chegou a procurar a Polícia Civil para explicar o que havia acontecido e para devolver o netbook “de espontânea vontade”.
 
Ele nunca chegou a receber a quantia em dinheiro combinada. Perguntado por que um corretor profissional participaria de um furto para ganhar de R$ 500 a R$ 700 ou apenas um aparelho eletrônico, argumentou que seus vencimentos não são fixos, que conta apenas com comissões, mas que está arrependido de ter participado da ação.
 
Justiça
 
Os advogados de defesa Lucas Fratari e Bruno Proença pediram à Justiça uma acareação entre Eduardo, Damião, Daniel, Maycon e o quinto acusado que teria sido responsável por intermediar a contratação levada a cabo por Damião. Segundo os advogados, houve no início do processo cerceamento da defesa, pois Eduardo não seria ouvido antes das alegações finais não fosse por força de um habeas corpus protocolado há dois meses. A acareação pleiteada com todos os acusados está marcada para o dia 23 de maio, em Cuiabá.
 
Por sua vez, a defesa de Damião sustenta a tese de que o que ocorreu no dia 15 de novembro de 2011 foi um latrocínio cometido por Daniel e Maycon. "Não tem indício para comprar que Damião teve participação", declarou o advogado Davi Marques.
 
Já o assistente da acusação, advogado Luciano Augusto Neves, considerou a versão de Eduardo inconsistente. “Ninguém sai de casa num feriado às 23h para buscar duas pessoas e ir à casa de uma outra para retirar um monte de objetos de valor e sair”, ironizou, argumentando também que, em depoimento, Daniel e Maycon (réus confessos) apontaram que Eduardo sabia de seus reais propósitos naquela noite.
 

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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