As urnas com as cinzas da família brasileira assassinada na Pioz, na Espanha, devem ser liberados para a repatriação na quinta-feira (3). A informação foi repassada nesta terça-feira (1º) por Walfran Campos, irmão de Marcos Campos Nogueira, uma das vítimas, e tio de Patrick Gouveia, suspeito confesso do crime. Segundo ele, todo o procedimento foi pago e os corpos devem ser cremados na cidade de Lugo, região da Galícia, e enviados para João Pessoa.
Ainda de acordo com Walfran Campos, a repatriação demorou um pouco mais porque a defesa de Patrick pediu uma segunda autópsia. “Falei com meu advogado na Espanha, na segunda-feira, e ele me adiantou que o juiz vai liberar na quinta-feira. A funerária vai pegar os corpos na quinta, levar para Lugo, cremar e depois mandar para João Pessoa. Já está tudo pago”, explicou Walfran.
No processo de translado das quatro urnas, o consulado brasileiro vai precisar expedir as certidões de óbito, de acordo com Walfran Campos. Ainda segundo o irmão de Marcos Campos Nogueira, o processo de liberação dos corpos pela justiça espanhola também demorou porque Davi, que tinha um ano e havia nascido na Espanha, ainda não tinha registro.
Para custear o translado dos quatro mortos, a família de Janaína, esposa da Marcos Nogueira, chegou a promover um financiamento coletivo pela internet. Na ocasião, foi arrecadada uma quantia de mais de R$ 10 mil. O custo total do serviço era de aproximadamente R$ 20 mil. A prima de Janaína, Sevânia Américo, comentou à época que as duas famílias iriam providenciar "uma pequena cerimônia para que as famílias tivessem paz".
Prisão de segundo suspeito mantida
Foi mantida a prisão preventiva de Marvin Henriques Correia, detido na sexta-feira (28) suspeito de participação na chacina de uma família brasileira na Espanha. A decisão foi tomada em uma audiência de custódia nesta segunda-feira (31).
Segundo o advogado do suspeito, Sheyner Asfora, a defesa pediu que o jovem tivesse a integridade física preservada e, por isso, a juíza decidiu que ele deve ficar detido no Complexo Penitenciário Romeu Gonçalves de Abrantes, o PB1, em Jacarapé.
O advogado de Marvin Henriques Correia – preso na Paraíba por suspeita de envolvimento na chacina de uma família brasileira na Espanha -, Sheyner Asfora, disse ao G1 que o jovem não pode ser considerado envolvido no crime e que a conduta do suspeito "não é reprovável para o direito penal". Ele explicou que teve acesso ao inquérito policial nesta segunda-feira (31) e contou qual vai ser a tese da defesa.
Segundo a Polícia Civil, após matar e esquartejar os tios e os primos, François Patrick Gouveia fez fotos dos corpos, tirou "selfies" e mandou para o amigo Marvin, de 18 anos.
No dia em que a polícia estima que o crime aconteceu, 17 de agosto, Marvin chegou a fazer uma postagem no Twitter que estaria relacionada ao caso. "Hoje aconteceu uma doidera que nunca poderei contar a ninguém", escreveu o suspeito na rede social.
O delegado geral da Polícia Civil da Paraíba, Marcos Paulo Vilela, afirmou que os suspeitos mantiveram um contato em tempo real por meio do aplicativo Whatsapp. "Os dois mantinham a conversa pelo Whatsapp sobre a execução do crime e Patrick mandou as fotos dos corpos e até 'selfies' com os corpos das vítimas para Marvin", afirmou.
Na conversa mantida entre os dois presos, ambos se mostravam extremamente frios, apesar da crueldade do caso, segundo os delegados.
No depoimento dado à Polícia Civil, Marvin afirmou que não procurou a polícia por medo de Patrick Gouveia. "Ele chegou a dizer que tinha medo de Patrick e que, por isso, não procurou a polícia para denunciar o crime. Mas, durante a conversa dos dois, a gente percebe que há uma intimidade e uma frieza que não indicam isso", disse Vilela.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, havia o receio de que Marvin Henriques Correia viajasse para a Espanha, para fugir de qualquer tipo de implicação criminal no Brasil. A prisão do estudante foi feita a partir de um pedido do Ministério Público da Paraíba.
Os mandados de prisão e de busca e apreensão contra Marvin Henriques foram expedidos na quinta-feira (27) e cumpridos na sexta-feira (28) pela Polícia Civil. O estudante de 18 anos foi preso no bairro Jardim Oceania, em João Pessoa, quando saía de casa para ir à escola.
Preso 'deu dicas' via Whatsapp
Marvin deu dicas a Patrick sobre como agir na morte e esquartejamento da família brasileira na Espanha. "Patrick conversava pelo Whatsapp em tempo real com o suspeito preso na Paraíba. Patrick perguntava como agir, como ele podia ocultar os corpos, o que fazer", afirmou o delegado de homicídios Reinaldo Nóbrega
Ainda de acordo a Polícia Civil, o estudante confirmou a participação no homicídio, no entanto, não tinha noção da dimensão do que aquela conversa com Patrick poderia causar.
"Marvin se mostrou arrependido e triste com a situação e chegou a colaborar conosco, esclarecendo alguns pontos", disse o delegado Marcos Paulo Vilela. Ainda de acordo com a polícia, a participação de Marvin Henriques foi confirmada após um amigo dele ter acesso ao seu celular e encontrar fotos dos corpos da família Nogueira esquartejada, imagens que teriam sido enviadas pelo próprio Patrick via aplicativo de celular.
O celular do amigo de Patrick foi encaminhado para a Polícia Federal. Exames técnicos confirmaram que se tratavam de imagens verídicas e feitas pelo principal suspeito de matar e esquartejar Janaína, Marcos e das duas crianças em uma casa em Pioz, na região metropolitana de Madri, na Espanha. Com o suspeito a polícia apreendeu um CPU, que foi apresentado como uma das evidências do caso.
"Ele [Marvin Henriques] só acreditou que Patrick tinha de fato matado a família quando viu as fotos. Mesmo sabendo do crime cometido por Patrick, o estudante continuou ajudando Patrick como proceder no caso. Ele é partícipe no crime", acrescentou o delegado de homicídios de João Pessoa. Ainda de acordo com a polícia, Marvin chegou a se encontrar pessoalmente com Patrick duas vezes em João Pessoa. Todo o material apreendido com Marvin Henriques Correia foi encaminhado para a polícia espanhola.
Entenda o caso
Os corpos de Janaína, Marcos e das duas crianças foram achados esquartejados em uma casa na cidade espanhola de Pioz em setembro, depois que um vizinho alertou sobre o mal cheiro perto da casa da família.
Após o início das investigações, a Justiça emitiu uma ordem de prisão europeia e internacional contra Patrick, mas até então o suspeito ainda não havia recebido nenhuma notificação sobre o mandado de prisão no Brasil.
Ele resolveu se entregar após o advogado dele, Eduardo de Araújo, voltar para o Brasil e explicar à família os detalhes do processo. O advogado informou que Patrick acreditava poder se defender melhor das acusações na Espanha.
O advogado disse que ficou surpreso ao saber da confissão, uma vez que, enquanto estava no Brasil, Patrick negava ter cometido o crime. “Foi algo que surpreendeu, na verdade, porque o Patrick volta para a Espanha alegando que precisaria estar lá porque teria melhores condições de apresentar suas versões do fato e se defender de suas acusações. Aqui, ele insistiu em sua inocência”, disse.
Fonte: G1