Opinião

Corpo humano: percepções culturais

A milenar Medicina Tradicional Chinesa demonstra semelhanças entre o formato dos órgãos dos corpos de seres humanos com frutas, tubérculos, legumes e leguminosas. Os grãos de feijão, por exemplo, são associados aos rins; a noz, ao cérebro; o abacate, ao ovário; o aipo, aos ossos. A comparação vai além da forma e chega à sua composição. Assim, no que diz respeito ao cérebro, “por ser composto de cerca de 70% de gordura, não é à toa que a fruta noz, rica em gorduras monossaturadas e Ômega, é uma excelente opção para nutrir esse órgão do corpo. Além disso, ela também é rica em nutrientes essenciais para o bom funcionamento dos neurônios, nervos e músculos”.

Os indígenas da etnia Nambikwara, habitantes de terras a noroeste de Mato Grosso e sul de Rondônia, adotam práticas tradicionais para a cura dos males, muitas delas com a ação do pajé, mesmo que associadas às práticas terapêuticas ocidentais. Acreditam que a agricultura surgiu graças à interferência de uma criança. Antes, viviam da caça, pesca e coleta de frutos, tubérculos e insetos. De acordo com suas crenças, um menino saiu para caçar com o seu pai e no caminho pediu para que ele o deixasse sozinho e somente retornasse após uma lua. Passado esse tempo, o pai, junto com seu avô, tio, primos e irmãos, retornou ao local onde havia deixado o menino.

Para a surpresa de todos, o menino não estava lá, havia se transformado em diversas espécies vegetais. Sua cabeça foi transformada em cabaça; seus cabelos, nos estigmas da espiga de milho; as lêndeas, em sementes de fumo; as sobrancelhas, em algodão; as orelhas em feijão fava; seus olhos, na semente da abóbora, os dentes, em grãos de milho, suas mãos, em folhas de mandioca; seu sangue, em urucum; o fígado, em taiá; os testículos, em cará; os ossos das pernas, em araruta; as unhas dos pés, em amendoim; seus músculos, em massa de mandioca; sua urina em bebida à base de mandioca. Sua alma, na melodia da flauta.

Anna Maria Ribeiro Costa

About Author

Anna é doutora em História, etnógrafa e filatelista e semanalmente escreve a coluna Terra Brasilis no Circuito Mato Grosso.

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