A gestão da Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP30) divulgou nesta terça (1º) que o Curupira será o símbolo escolhido para ser símbolo de um dos maiores eventos de sustentabilidade do mundo. A entidade do folclore brasileiro, que tem cabelo de fogo e pés virados para trás, atua como guardião das florestas.
Para a organização, o Curupira “reflete o compromisso da presidência brasileira em solidificar ações de redução das emissões dos gases que provocam o aquecimento da Terra”. Além disso, ele serve como papel educativo, uma vez que o conhecimento sobre as lendas brasileiras está ligado à preservação da natureza.
Em carta à comunidade internacional, o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, defende que as florestas serão um “tópico central” no evento.
“Quando nos reunirmos na Amazônia brasileira em novembro, devemos ouvir atentamente a ciência mais avançada e reavaliar o papel extraordinário já desempenhado pelas florestas e pelas pessoas que as preservam e delas dependem”, escreveu o embaixador.
“As florestas podem nos fazer ganhar tempo na ação climática durante uma janela de oportunidade que se está fechando rapidamente. Se revertermos o desmatamento e recuperarmos o que foi perdido, poderemos ativar remoções maciças de gases de efeito estufa da atmosfera e, ao mesmo tempo, trazer ecossistemas de volta à vida”, acrescentou ele.
Corrêa do Lago também cita os saberes dos povos originários na estratégia de mitigação dos efeitos da mudança do clima. “A cultura brasileira herdou dos povos indígenas nativos do Brasil o conceito de “mutirão” (“Motirõ” em tupi-guarani), que se refere a uma comunidade que se reúne para trabalhar em uma tarefa compartilhada, seja colhendo, construindo ou apoiando uns aos outros”, disse.
“Ao compartilhar essa inestimável sabedoria ancestral e tecnologia social, a presidência da COP30 convida a comunidade internacional a se juntar ao Brasil em um mutirão global contra a mudança do clima, um esforço global de cooperação entre os povos para o progresso da humanidade”, apontou.
Quem é o Curupira?
Espírito protetor da floresta. Apesar da apresentação do Curupira mudar de acordo com a região, sempre estão presentes os característicos pés para trás, que são uma artimanha usada para confundir aqueles que tentam seguir seus passos.
Curupira vem da língua indígena tupi-guarani, em que “curumim” significa menino e “pira” corpo. O personagem é muito presente na tradição amazônica e associado à proteção das matas e dos animais, especialmente contra a caça. Esconde os animais dos caçadores, não permite a captura de bichos recém-nascidos e é inimigo de quem caça sem necessidade.
De acordo com o pesquisador Paulo Maués, autor do livro Histórias de Curupira, “personagens como o Curupira, o Boto, a Iara, são verdadeiros agentes de consciência ecológica, de educação ambiental”.
Segundo a organização do evento, a primeira referência ao Curupira na história brasileira foi feita pelo padre José de Anchieta, em 1560, em carta feita em São Vicente, litoral de São Paulo.
O jesuíta veio ao Brasil introduzir o catolicismo nas comunidades indígenas e, para isso, escrevia poesias e peças de teatro. Em um desses textos, descreveu que os indígenas temiam muito essa figura folclórica e faziam oferendas para não serem atacados.