Nas sociedades indígenas, junto às atividades de subsistência como agricultura, caça, pesca, coleta de frutos e insetos, as horas do dia são preenchidas também pela força do trabalho artesanal. No frescor da manhã, o pátio à frente da casa pode servir para a execução das atividades, quando aproveitam a sombra projetada por ela.
Homens e mulheres manuseiam com habilidade utensílios de corte, alisamento e perfuração. Entre o povo Nambiquara, localizado em terras a Oeste de Mato Groso, homens trançam os cestos-cargueiros (os do Cerrado e da Serra do Norte, pois no Vale do Guaporé essa atividade está sob a responsabilidade das mulheres) e fabricam suas armas, armadilhas e enfeites corporais. As mulheres preparam alimentos e confeccionam colares de contas de tucum.
Alguns artefatos caracterizam-se por ser de uso individual como, por exemplo, o colar de contas de tucum, a pérola negra do cerrado. O Nambiquara demonstra muito apreço por esse artefato. O trabalho divide-se em diversas fases e pode, a depender do tamanho das contas e do número de voltas, durar alguns meses. Ele se inicia com a coleta: por vários dias, as mulheres, acompanhadas por seus filhos, até mesmo os de colo, caminham em busca dos cocos. Depois, passam a quebrá-los em muitos e muitos pedacinhos para, na próxima etapa, perfurá-los, um a um, centenas deles, e atravessar um cordão das fibras da palmeira do tucum. As habilidosas artesãs responsabilizam-se em presentear seus maridos e filhos e, nesses casos, passam a ter uma valoração diferenciada, repleta de sentimentalismo.
Os índios creem que os colares de contas pretas são também utilizados pelos espíritos ancestrais que apreciam, em especial, coisas belas, gentes belas, gentes enfeitadas. Ser bonito extrapola as qualidades físicas de uma pessoa, principalmente porque consiste em um importante mecanismo para afugentar infortúnios, malefícios e doenças.