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Consumidores enfrentam dificuldades para manter finanças em ordem com salário mínimo

Inflação e taxa de juros elevadas impactam poder de compra e prejudicam a saúde financeira dos mato-grossenses e brasileiros. Isso porque os impactos dessa combinação comprometem o orçamento familiar, especialmente entre os mais carentes. Segundo estudo da plataforma CupomValido, o salário mínimo do Brasil é o quinto mais baixo da América Latina – ficando acima apenas de países atolados em profundas crises econômicas como Colômbia, República Dominicana, Argentina e Venezuela.

Basta ir ao supermercado para constatar que a manutenção do padrão de vida com R$ 1.302 é uma missão espinhosa. Mesmo ganhando pouco acima do mínimo e cortando gastos supérfluos no dia a dia, a autônoma Adriana Roque conta que passa sufoco para não fechar o mês no vermelho em função das despesas com o rotativo do cartão de crédito, modalidade que tem as taxas mais caras do mercado e responsável por 80% do endividamento no país.

“Ele (cartão) acaba sendo um complemento de renda porque parece que todo mês há algum tipo de aumento. No caso do mercado, quando algo dispara, tento buscar outras opções mais baratas, mas nem sempre é possível. As vezes o jeito é reduzir o consumo, infelizmente”.

A impressão dela está faz sentido porque o preço médio da cesta básica em Cuiabá – R$ 774,37, conforme a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Mato Grosso (Fecomércio-MT) – corresponde a 75% da remuneração. Ou seja, o salário mínimo consegue comprar apenas um sacolão de itens essenciais de alimentação, higiene e limpeza.

Em maio próximo, o SM vai subir para R$ 1.320. De acordo com o economista Emanuel Daubian, o reajuste com ganho real de 2,8% teve como base a inflação e o Índice Nacional de Preços do Consumidor (INPC) do ano anterior.

O valor, no entanto, ainda é muito aquém do necessário, conforme cálculos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Segundo a entidade, o salário mínimo necessário para sustentar uma família de quatro pessoas no Brasil é de R$ 6.298,91. A conta considera gastos com alimentação, educação, higiene, lazer, moradia, saúde, vestuário, transporte e previdência.

Gerar novas fontes de renda é necessário

O orçamento insuficiente para a manutenção do padrão de consumo força os trabalhadores a encontrar uma segunda fonte de renda.

“Esse fenômeno estava acontecendo em menor escala até 2019, mas se acentuou muito após a pandemia. Muita gente foi obrigada a reduzir a carga horária no serviço e tiveram perda de até metade dos seus vencimentos. O problema é que os gastos com produtos e serviços continuaram os mesmos”, comenta o economista Emanuel Daubian.

A perda na qualidade de vida se reflete no endividamento e inadimplência em Mato Grosso. Conforme a Fecomércio-MT, 4 em cada 5 pessoas estão com contas na Capital, enquanto que o percentual de consumidores com despesas atrasadas subiu 4% em todo o estado, indica a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL Cuiabá).

Para grande parte da população, a oportunidade para gerar receita além do salário convencional vem por meio da informalidade. Dados do Observatório da Indústria apontam que Mato Grosso tem 1,7 milhão de pessoas ocupadas, sendo que 618 mil pessoas trabalham sem carteira assinada. “Grande parte destes profissionais que começam como informais acabam apostando no empreendedorismo e passam a ser donos dos seus negócios”, frisa.

Dólar aumenta impacto

O peso da cesta básica no bolso das famílias tem como um de seus vários componentes a variação cambial. O economista Emanuel Daubian explica que a alta da cotação do dólar aumenta os gastos com importação de produtos, que, por tabela, enfraquece o poder de compra dos brasileiros. Em 2015, por exemplo, o salário mínimo era de R$ 622 – R$ 680 inferior aos atuais R$ 1.302.

No entanto, ao converter os valores para a moeda americana, o antigo valor é US$ 71 superior ao SM reajustado em janeiro último (US$ 316 em 2015 contra US$ 246 em 2023).
Conforme o especialista, o dólar elevado favorece as exportações de commodities brasileiras.

“Os produtos nacionais ganham muita competitividade no exterior diante deste cenário. Mesmo com a alta das despesas operacionais com fertilizantes e outros insumos para a produção, os ganhos com os envios para o mercado exterior acabam superando os custos”, analisa.

Redação

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