Foto: Gabriel Paluski
Após o detalhamento técnico apresentado pelo atual governo do Estado, em que apontou inúmeras falhas “grosseiras” na implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), o consórcio (formado pelas empresas CR Almeida, CAF Brasil Indústria e Comércio, Magna Engenharia Ltda. e Astep Engenharia Ltda) responsável pela obra se manifestou por meio de nota a imprensa. Além de rebater as críticas apontadas pela gestão de Pedro Taques (PDT), o Consórcio VLT – Cuiabá / Várzea Grande afirmou o restante de R$ 160,4 milhões a receber.
Conforme esclareceu o consórcio, este valor é referente às medições de outubro, novembro e dezembro de 2014, variação cambial e correção monetária, sendo que ainda deve ser somada uma multa por atraso no pagamento.
No total, o governo já repassou R$ 1.066.132.266,32 ao consórcio. Sendo que este valor engloba os projetos, aquisições de 40 trens, sistemas e edificações de toda a estrutura necessária aos 22 quilômetros, no qual o modal irá se locomover.
O consórcio desqualificou as críticas apontadas pelo Gabinete de Projetos Estratégicos e Secretaria de Cidades, quanto aos graves erros na construção, além da falta de projetos arquitetônicos e de cronograma.
Os principais erros encontrados foram nos viadutos da UFMT (Jornalista Clóvis Roberto) e no da Sefaz (Jamil Boutros Nadaf).
“Todas as correções eventualmente necessárias nas obras contidas no âmbito do VLT, a exemplo do Viaduto da Sefaz, são feitas sem nenhum custo para o Governo do Estado”, diz trecho da nota.
Por fim, o consórcio destacou o crescimento gerado pela implantação do modal, com a geração de mais de 3.000 empregos diretos e mais de 9.600 empregos indiretos. Além disso, se colocou a disposição em “estabelecer as tratativas necessárias com o contratante, para que sejam encontradas soluções que possibilitem a conclusão deste importante empreendimento”.
Erros
Considerado o grande legado da Copa na região metropolitana de Cuiabá, o VLT também é tido como o maior problema para o atual governo do Estado.
Para o secretário do Gabinete de Projetos Estratégicos, Gustavo Oliveira, alguns dos projetos executivos apresentados pelo consórcio responsável pela obra sequer poderiam ser classificados desta forma, já que o nível insuficiente de detalhamento da obra daria ao estudo a característica de “projeto básico”, o que acabou resultando na existência de falhas graves de execução em algumas obras.
Um dos exemplos citados pelo secretário Gustavo Oliveira foi o da Trincheira do Zero Km, em Várzea Grande, onde foi constatado um problema de desaprumo de estacas de hélice. Ou seja, estacas que eram para ser implantadas com um espaçamento de dois metros acabaram sendo implantadas sem qualquer padronização.
No Viaduto da UFMT (Viaduto Jornalista Clóvis Roberto), na Avenida Fernando Corrêa, em Cuiabá, também foi detectada falha grave de execução e que difere do que havia sido previsto no projeto da obra. Um pilar projetado para ser oco, na execução, foi concretado sólido. “A gerenciadora pediu que fosse alertado o projetista, pois aquilo não havia sido projetado daquela forma e o viaduto terá um sobrepreço, já que vai ter mais concreto do que deveria e pode impactar nas fundições”, explicou Gustavo Oliveira.
Além disso, de acordo com a empresa Planservi/Sondotécnica, que foi contratada pelo governo do Estado para fiscalizar as obras do VLT, as vias marginais do viaduto da UFMT não estão de acordo com o projeto original, já que elas deveriam ter cerca de seis metros cada, comportando a passagem de dois carros. Porém, no fim da obra, entregue em dezembro de 2013, o que se vê é que apenas um veículo consegue passar pelo local.
O Viaduto da Sefaz (Jamil Boutros Nadaf), na Avenida Historiador Rubens de Mendonça (Av. do CPA) é um exemplo claro da má execução de uma obra civil. Orçada em R$ 1,447 bilhão, a obra, em outubro de 2013, antes mesmo de ser inaugurada, já apresentava problemas na pavimentação.
O consórcio VLT foi obrigado a refazer a pavimentação e, posteriormente, a extinta Secopa teve de alterar os materiais usados no serviço.
Seis meses após sua inauguração, ocorrida em fevereiro de 2014, a Secopa admitiu a falha no viaduto relativo às fissuras nas juntas de dilatação, e foi determinada a suspensão do tráfego no local, inicialmente pelo período de quatro meses. Contudo, o prazo de suspensão foi ampliado até o final do ano passado, mas permanece até hoje.
Para continuidade nos serviços de reforço estrutural no elevado, a Avenida do CPA pode ficar parcialmente interditada por mais sete meses.
Algumas das medidas para sanar a instabilidade na execução das obras compreendem a realização de auditorias, por parte da Controladoria Geral do Estado, nos contratos relativos ao VLT com o objetivo de apurar irregularidades e a identificação dos responsáveis por possíveis superfaturamentos e negligências.
A Secretaria de Estado de Cidades (Secid) está incumbida de buscar junto ao Consórcio VLT Cuiabá, responsável por tocar as obras, soluções compensatórias visando minimizar os impactos pela lentidão e atraso na execução dos trabalhos, bem como as relativas a previsões contratuais de reparos nos locais em que sejam necessários.