Política

Confissão de Pedro Nadaf confirma denúncias do Circuito Mato Grosso

Pedro Nadaf, ex-secretário da Casa Civil, cadeira que ocupou durante a gestão de Silval Barbosa (PMDB) à frente do Palácio Paiaguás (2010-2014), confessou que, de fato, havia uma organização criminosa que era chefiada pela cúpula do poder executivo estadual na concessão fraudulenta de incentivos fiscais. Se para alguns as declarações podem ter caído como uma bomba, para outros, restou apenas a indignação, mas sem surpresas – ao menos para os leitores do Circuito Mato Grosso

Preso desde o dia 15 de setembro de 2015, durante a primeira fase da Operação “Sodoma”, que investiga um esquema de concessão fraudulenta de incentivos fiscais para a instalação de empresas em Mato Grosso, Pedro Nadaf prestou depoimento à juíza da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Selma Rosane de Arruda, na última segunda-feira (15). Em seu testemunho, o antigo titular da Casa Civil no Estado afirmou que “refletiu muito” durante sua estada na base do Serviço de Operações Especiais (SOE), onde estádetido.

Durante a oitiva, Nadaf afirmou que vem recebendo ameaças que poderiam atingir sua família e a si próprio, sem revelar, no entanto, o autor das coações. Ele explica que em 2010 foi procurado pelo ex-governador Silval Barbosa que lhe fez uma proposta indecorosa: participar de um esquema com o objetivo de levantar recursos para que ele pudesse se reeleger para mais um mandato – Silval era chefe do poder executivo pois foi vice na chapa de Blairo Maggi (PP), atual Ministro da Agricultura, que deixou o governo para disputar uma vaga no Senado.

Pedro Nadaf afirma que o grupo conseguiu levantar R$ 12 milhões, dizendo que o dinheiro foi distribuído entre Caixa 2 e doações oficiais à campanha de 2010. Cita que projetos de lei – como o 10.207 – foram criados com o intuito de fornecer “total blindagem” para futuras investigações que poderiam colocar em risco a atuação do grupo, formado também pelo ex-secretário de fazenda Marcel de Cursi, pelo procurador aposentado Francisco Lima, o “Chico Lima”, a secretária Karla Cecília e o ex-chefe de gabinete do governador, Sílvio Côrrea.

O ex-secretário da Casa Civil explicou ainda que João Rosa, proprietário do grupo Tractor Parts, recebeu R$ 4 milhões em incentivos fiscais e que, a título de propina, repassou R$ 500 mil a Silval Barbosa. Segundo Nadaf, o ex-governador vinha sofrendo ameaças por conta de uma dívida de R$ 2 milhões.

“Colaboração Premiada”

Nos bastidores, comenta-se que Pedro Nadaf tenha feito um acordo de colaboração premiada para tentar diminuir sua dívida com a justiça, fato negado tanto pela defesa do ex-secretário da Casa Civil quanto pelo Ministério Público Estadual. Os advogados de um dos homens de confiança de Silval Barbosa tentaram “suavizar” sua detenção, que já dura 11 meses, por conta das declarações. No entanto, o pedido foi rechaçado pelo Ministério Público Estadual, além da juíza Selma Rosane de Arruda.

EDIÇÃO 386

A edição extraordinário do Circuito Mato Grosso, de abril de 2012, trazia na capa Pedro Nadaf, então secretário de indústria e comércio no governo do Estado. A reportagem denunciava, há mais de quatro anos, que benefícios fiscais eram concedidos a empresas “à revelia do rigor da lei” e que os incentivos custariam aos cofres públicos R$ 1 bilhão a menos na arrecadação. O Tribunal de Contas do Estado, por meio do Conselheiro José Carlos Novelli, afirmou na época que essa era a “grande causa do desfalque do caixa no Governo”

 

EDIÇÃO 387

Publicada também em abril de 2012, “Crise explode, Silval descarta Eder”, afirmava que as denúncias de fraudes na concessão dos incentivos havia derrubado Eder Moraes, titular da antiga Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa). A reportagem trazia ainda um esquema feito pelas esmagadoras de soja que estariam simulando vendas internas para se creditarem do ICMS na conta gráfica, criando, assim, um crédito fictício, mas que seria cobrado do Estado

 

EDIÇÃO 432

Empregos pífios e custo milionário”, de abril de 2013, apresentava números que corroboravam os fatos negativos acerca da concessão de incentivos fiscais pelo Governo de Mato Grosso. A reportagem afirmava que a política de benefícios havia resultado num efeito contrário a sua proposta: o aumento do desemprego. Segundo o conselheiro Waldir Teis, do TCE, entre os anos de 2008 e 2011, este tipo de “auxílio” aos empresários havia aumentado quase 30%, enquanto a geração de empregos apresentou queda de 35% no mesmo período

Diego Fredericci

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