Sempre fui adepta das sete: minha primeira lei de vida sempre foi “sete ondas fracas e sete ondas fortes para entrar e sobreviver no mar”. É isso mesmo. Desde criancinha que aprendi a esperar a hora certa (as sete ondas fracas) de ultrapassar a arrebentação e outras sete (dependendo da altura das ondas) para me atirar lá de cima, em direção à praia como se não houvesse amanhã. Digo dependendo porque se o mar está muito grande confesso, do alto dos meus cinquenta e poucos anos de experiência, que prefiro uma marola veloz que um paredão inexpugnável e, quem sabe, assassino.
E por viver pintado o sete, seguindo as fases da lua que mudam aproximadamente a cada sete dias e tentando ver as sete cores do arco-íris, é que reparei na onda dos cinco que assola as redes sociais e, portanto, o cotidiano de grande parte da população hoje ligada e linkada ao mundo virtual.
Como já disse antes tudo eram dez: “dez lugares que você tem que conhecer antes de morrer”, “dez conselhos para uma vida saudável”, “dez alimentos que não podemos deixar de consumir”, “as dez cidade mais poluídas do planeta” e por aí ia…
E eis que, acho eu, a velocidade do mundo encurtou o número de opções disponibilizadas a cada postagem, especialmente as de 144 toques do Twitter. Criaram até um site amplamente divulgado por ali que apresenta sempre as tais cinco opções de tudo! Dez é muito, três é pouco, cinco está de bom tamanho, estabeleceu a onda de postagens no meu timeline.
A impressão que fica é que uma única opção nunca vai satisfazer a todo mundo e acabará gerando polêmica e/ou discussões acirradas conta ou a favor, então o truque é ampliar o leque de possibilidades e, assim, abarcando mais variáveis, atingir – e agradar – a um público maior e mais diversificado.
Fico pensando aqui com os fios das franjas puídas da minha canga estendida nas areias calientes da praia, na Ponta do Leme, banhados que somos sob um único sol que passeia vagarosamente cortando o céu de leste a oeste, que ser uno é uma prática parece em extinção. Ficamos assim, com os cinco que já são sentidos, dedos, e por mais um tempo, títulos mundiais do futebol… Agradeço a paz (una) voltou ao paraíso que hoje compartilho com um pouco mais de cinco gatos pingados que observo no entorno. Mais adiante, no marzão que vai e vem no ritmo das ondas, há mais de cinco surfistas evoluindo, afinal, o mar está alto e nos convida a quebrar a “heptaescrita”, fazendo dos cinco a regra e, nela, como tal com todo direito, somos a exceção. Mas não a única!
Viajando pela rede, me deparei com outra variante muito justa e apropriada. Numa postagem de viagens, as que mais têm me atraído ultimamente, – graças a proposta de dar dicas e mostrar por fotos ou textos os lugares que já visitei ou gostaria de um dia conhecer e que gerou o “No Rumo”, encontrei no Catraca Livre: “Confira 35 dicas geniais antes de fazer as malas”
Minha conclusão? Fico com as exceções. Gosto mesmo é das descobertas que podem me surpreender muito mais do que cinco vezes. Vêm delas a sensação única de que não há limites para as inúmeras e incontáveis coisas que ainda quero descobrir – e sentir – nessa vida…
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica da série “Ponta do Leme”, do SEM FIM… delcueto.wordpress.com