Cidades

Com unidades psiquiátricas sucateadas, sociedade assume papel do Estado

 
Devido a esse descaso do poder público, há uma divisão entre os grupos que estudam os problemas psiquiátricos. Há quem defenda que os pacientes nunca devam ser internados, e caso isso aconteça, deve ser apenas em hospitais comuns. E o outro grupo acredita que apenas com internação é possível fazer o tratamento completo.
 
Para tratar do assunto, o Conselho Regional de Psicologia (CRP) abriu o debate em Cuiabá sobre a Luta Antimanicomial, cuja proposta é de fortalecer os Caps e acabar com qualquer sistema de internação de pacientes. 
 
Para o Conselho Regional de Psicologia (CRP), a importância dessa discussão se dá pelo fato de eles considerarem que o Estado nunca deixou de ter manicômio e cada vez mais sucateia os locais de tratamento, deixando assim sob a tutela da sociedade o cuidado das pessoas com problemas psicológicos.
 
De acordo com o presidente do CRP, Luiz Guilherme Araújo, algumas mudanças ficaram apenas na tentativa, porque vários locais em Cuiabá ainda realizam o tratamento nos moldes de manicômio, e isso se deve principalmente à falta de políticas públicas para atender aos pacientes adequadamente. 
 
“Todo local que evita a prática de cidadania da pessoa é um manicômio. Então, a instituição que prende esse indivíduo pode ser entendida como um manicômio, e esses locais podem ser desde Caps, hospital psiquiátrico e também as comunidades terapêuticas”, diz Araújo.
 
Ainda segundo Luiz Guilherme, todo paciente retirado da sociedade sofre transtornos mais graves e o seu retorno para a família se torna mais complicado. “O caminho mais correto a se tomar é a internação em hospitais gerais, nos quais deveria haver uma ala especial para esses pacientes, pois assim eles permaneceriam menos tempo e manteriam contato com a família”, diz.
 
O professor de psicologia da Bahia Marcus Vinicius de Oliveira frisa, por outro lado, que apesar de a situação política não colaborar com o tratamento psiquiátrico, muita coisa melhorou, principalmente com a abertura do debate das drogas.
 
“O tema ‘drogas’ levantou o interesse da sociedade em discutir os problemas psiquiátricos da sociedade e na política, tanto que já há uma evolução no discurso no SUS. Contudo o andamento ainda está andando a passos lentos, pois infelizmente a droga e suas consequências ainda são utilizadas como moeda de barganha política”, afirma Oliveira.
 
Fim do Neuropsiquiátrico foi o marco da luta Antimanicomial
 
As tentativas de mudanças no sistema de atendimento psiquiátrico no Estado começaram em 2004 quando o Hospital Neuropsiquiátrico, que funcionava na Avenida Fernando Corrêa, em Cuiabá, foi fechado. O local, que ficou conhecido por ser um ‘depósito humano’ e funcionava como um verdadeiro manicômio, chegou a abrigar até 600 pessoas. 
 
Ali, durante o tempo de internação eram retiradas totalmente a dignidade e a cidadania, através de remédios capazes de deixar os pacientes totalmente dopados. 
 
Após o fechamento, alguns pacientes que não tinham familiares foram encaminhados para residências especiais e outros para o Adalto Botelho, que é considerado a nova reformulação do Neuro, pelo CRP.
 
Depois de um período fora do ‘Neuro’, alguns pacientes apresentaram razoáveis melhora e até conseguiram retornar para a família. E de acordo com relatos na época, esses pacientes mal se lembram dos momentos que passaram no hospital, pois lá viviam praticamente em estado vegetativo.
 

Redação

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