Com forte impulso de Petrobras (ON +5,23%, PN +3,98%) após o anúncio de dividendos extraordinários e do Plano Estratégico, e apoio também de Vale (ON +0,97%), o Ibovespa subiu hoje 1,74% e retomou a linha dos 129 mil pontos, em máxima da sessão que coincidiu com o fechamento. Assim, acumulou ganho de 1,04% ante a sexta-feira passada, vindo de quatro semanas em baixa. Hoje, oscilou de mínima na abertura aos 126.944,33 pontos até o pico de 129.125,51, no encerramento, com giro a R$ 22,1 bilhões na sessão. Em porcentual, foi o maior avanço para o índice da B3 desde 4 de novembro, quando havia subido 1,87%. E o nível de 129 mil pontos não era visto em fechamento desde 7 de novembro.
No mês, o Ibovespa segue no negativo, em baixa de 0,45% no intervalo. No ano, ainda cede 3,77%. Além de Petrobras e Vale, o dia foi positivo para o setor financeiro, com destaque entre os grandes bancos para Santander (Unit +3,63%). Na ponta ganhadora do índice, destaque também nesta sexta-feira para Brava (+7,44%), Raízen (+7,00%) e Cosan (+6,10%). No lado oposto, Vamos (-0,65%), Totvs (-0,33%) e Suzano (-0,15%) – apenas estes três dos 86 papéis do Ibovespa fecharam em baixa.
“Foi um dia de recuperação para o Ibovespa, em semana com uma sessão a menos, pelo feriado de quarta-feira. Ainda há tensão em relação ao fiscal, pela demora na apresentação do pacote de cortes de gastos. A curva de juros continua a adicionar prêmio nos vértices, e a recuperação de hoje foi muito movida pelo desempenho de Petrobras”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, destacando também o relatório de receitas e despesas programado para o fim do dia, com bloqueios, segundo ele, abaixo do esperado, a R$ 5 bilhões, que haviam sido antecipados ontem pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“Governo parece estar mirando não o centro da meta, mas sim a banda inferior da meta de déficit do arcabouço, correspondente a 0,25% do PIB”, acrescenta. “Não há solução ainda para o problema estrutural, de forma que a incerteza sobre o fiscal permanece no radar” do mercado, com efeito para os preços dos ativos de risco, diz Spiess. “Dezembro pode até ser positivo, mas ao longo de outubro e novembro houve acúmulo de fatores negativos”, que condicionaram as precificações, observa o analista. Ele destaca, em contraste, o desempenho sólido da atividade dos EUA no intervalo, o que dá suporte aos ativos americanos. Assim, no mês, Dow Jones avança 6,07%; S&P 500, 4,63%; e Nasdaq, 5,02% até o fechamento desta sexta-feira.
Para Bruna Centeno, sócia e advisor da Blue3 Investimentos, o “corporativo” predominou na sessão, o que garantiu um dia mais positivo para o Ibovespa, com o índice futuro já sinalizando, desde cedo, desempenho favorável no fechamento da semana. “Petrobras trouxe dividendos extraordinários de R$ 20 bilhões e o plano de negócios para os próximos cinco anos. E os dividendos reforçaram a demanda pelos papéis da empresa na sessão”, diz Bruna, acrescentando que o foco nos anúncios da estatal deixou hoje em segundo plano o pacote de cortes de gastos, cuja divulgação já havia sido sinalizada para o começo da próxima semana.
O mercado financeiro manteve nesta semana praticamente o mesmo otimismo com o desempenho do Ibovespa, segundo o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. De acordo com o levantamento, 62,5% dos que responderam à pesquisa esperam alta na próxima semana. O número é um pouco inferior ao apurado na semana passada, quando 66,6% estimavam avanço do índice no período atual. As apostas em estabilidade cresceram de 16,6% para 25%. O porcentual de queda caiu para 12,5% na edição de hoje, contra 16,6% na última sexta-feira.
Dólar
Em dia marcado por instabilidade e troca de sinais, o dólar à vista encerrou cotado a R$ 5,8144 (+0,05%). As oscilações foram contidas, de pouco mais de quatro centavos de real entre a máxima (R$ 5,8324) e a mínima (R$ 5,7898). Operadores relataram falta de apetite por apostas mais contundentes, com mercado à espera do anúncio do pacote de corte de gastos do governo Lula, prometido ontem à noite pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para segunda ou terça-feira. Na semana, o dólar acumulou valorização de 0,45%.
No exterior, a moeda americana experimentou nova rodada de fortalecimento, com o índice DXY ultrapassando pontualmente os 108,000 pontos. O euro chegou a tocar o menor nível em relação ao dólar em quase dois anos, abalado por dados fracos de índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês) de serviços e indústria na zona do euro e pelo agravamento do conflito entre Rússia e Ucrânia.
“Na Europa, indicadores econômicos fracos reforçam a possibilidade de cortes adicionais nas taxas de juros pressionando o euro e fortalecendo o dólar”, afirma a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, ressaltando que PMIs de novembro “mostram atividade econômica robusta nos EUA”.
As divisas emergentes e de países exportadores de commodities recuaram em bloco. O rublo russo caiu mais de 3%. O real apresentou de longe o melhor desempenho entre as moedas latino-americanas. Operadores citam o apetite pela bolsa brasileira, na esteira da disparada das ações da Petrobras com anúncio de dividendos extraordinários, e certa acomodação e realização de lucros após o dólar ter voltado ontem a superar R$ 5,80 no fechamento, algo não visto desde 1º de novembro.
“Foi um dia de compasso de espera com a questão fiscal. O câmbio andou praticamente de lado, mas encerra a semana acima de R$ 5,80, uma cotação ainda elevada. Isso mostra que o clima ainda é de cautela”, afirma a economista-chefe do Ouribank, ressaltando que o ambiente externo de dólar forte e a aversão ao risco também jogaram contra o real nos últimos dias.
Para mais de 10 economistas de mercado que se reuniram hoje com o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, o pacote em estudo pelo governo já está refletido em grande parte nos preços dos ativos e não deve levar a uma apreciação relevante do real, de acordo com apuração dos repórteres Cícero Cotrim e Daniel Tozzi Mendes.
Segundo participantes do encontro, a leitura é a de que a cotação de R$ 5,70 veio para ficar. Cerca de 80% do impacto potencial do plano de corte de gastos já entrou nos preços dos ativos. Os 20% restantes podem causar algum impacto de curto prazo, mas seriam insuficientes para reduzir o dólar a uma faixa próxima de R$ 5,40.
Os economistas presentes já trabalham com um corte de despesas próximo de R$ 70 bilhões, como vem sendo aventado pela imprensa. A grande preocupação, eles disseram, é que a maior parte dessa economia venha de um pente-fino em programas sociais, e não de medidas estruturais, a exemplo da limitação para o aumento do salário mínimo. Se esse for o caso, a surpresa seria negativa.
Juros
Os juros subiram nesta sexta-feira, 22, refletindo a frustração do mercado com mais uma semana que termina sem anúncio das medidas de corte de gastos e também o desempenho fraco das moedas emergentes, embora o real esteja entre as que menos sofreram. Ontem, havia alguma expectativa de que o pacote pudesse sair hoje, junto com o relatório bimestral de avaliação de despesas e receitas, mas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já indicou que sairá até terça-feira.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 13,25%, de 13,18% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027, em 13,37%, de 13,32% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2029 terminou em 13,17% (de 13,14%). Na semana, a curva perdeu inclinação, com as taxas curtas encerrando de lado e as demais, caíram, ante os níveis da última quinta-feira (14).
A redução nos níveis de inclinação se deu em função de correção técnica em algumas sessões desta semana, especialmente na ponta longa, com o mercado buscando se antecipar à divulgação das medidas, o que acabou não acontecendo.
O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, destaca que como hoje foi um dia fraco de notícias e de agenda econômica o mercado de juros segue sua tendência “natural”. “Como não tem nada, as taxas sobem, e hoje é um dia de moedas mais fracas lá fora. O real está um pouquinho melhor, mas a semana foi ruim. E, ao mesmo tempo, temos um adiamento do pacote cheio de especulação, sobre o que vai entrar agora, o que não vai entrar. Então, o mercado fica nessas idas e vindas. Isso é muito ruim”, resumiu.
Economistas que se reuniram hoje no Rio com o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disseram que cerca de 80% do pacote já entrou nos preços de ativos e os 20% restantes podem causar algum impacto de curto prazo. Já se trabalha com o valor de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos apurado em matérias da imprensa, mas a grande preocupação é com a estrutura. Haverá grande decepção se o ajuste vier só de medidas como pente-fino em programas sociais e não, por exemplo, de alterações nas regras do salário mínimo.
“Quanto mais demora a divulgação, mais os ruídos se refletem no dia a dia. A liberação em doses homeopáticas de medidas pode ter efeito diluído, como a antecipação pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de contingenciamento de R$ 5 bilhões no Orçamento deste ano”, diz Alexsandro Nishimura, economista da Nomos.
Haddad disse que levará na manhã de segunda-feira, 25, a minuta do ajuste ao presidente Lula. A expectativa do chefe da equipe é que, ao fim dessa reunião, o pacote já possa ser anunciado entre segunda e terça-feira (26).
O mercado trabalhava com a ideia de que, passada a reunião de cúpula de líderes do G20 no Rio, após o feriado, não haveria por que não anunciar as medidas que, segundo Haddad, estavam prontas. Nada saiu ontem e, com isso, ganhou corpo a possibilidade de que fossem anunciadas hoje, juntamente com o relatório bimestral. Mas o Ministério do Planejamento informou nesta tarde que o documento só será publicado após as 21h e não há data para coletiva de imprensa.
Há certo consenso de que a meta fiscal deste ano será cumprida com o uso da banda inferior de déficit primário de até 0,25% do PIB e com reforço neste fim de ano de mais R$ 7,32 bilhões vindos da Petrobras. A União é dona de 36,6% do capital da estatal, que anunciou ontem a distribuição de R$ 20 bilhões em dividendos extraordinários.