Sem a realização das sessões de quimioterapia por conta do fechamento da Santa Casa de Cuiabá desde o mês de março, Cristina Dutra, 55 anos, está promovendo a rifa de um quadro do artista plástico Claudyo Casares, no valor de R$20, para custear exames e medicamentos. Para adquirir um cartão e concorrer ao sorteio do quadro, basta ir à Floricultura Bela Flor, localizada na Avenida Marechal Deodoro esquina com a Avenida Isaac Póvoas, na Capital.
Em agosto de 2018, em um autoexame, Cristina sentiu um nódulo em sua mama, procurou a unidade de saúde do seu bairro onde foi solicitada uma mamografia. Ela conta que, segundo o médico, no exame não constava nenhuma alteração, mas ela não concordou com o resultado e o médico pediu que fosse realizado um ultrassom de sua mama.
Cristina aguardava por sua vez na fila do Sistema Único de Saúde (SUS), mas o nódulo estava crescendo muito rápido e estava dolorido. Até então seus filhos não sabiam do problema. Quando contou, eles decidiram realizar o exame particular. Durante a ultrassom, o médico alertou que ela deveria procurar um especialista, pois já havia notado a seriedade do caso.
Cristina conseguiu uma consulta com um mastologista que pediu uma biopsia do nódulo. Seus amigos foram essenciais naquele momento. Eles organizaram um almoço beneficente e o dinheiro arrecadado foi destinado à coleta e analise do nódulo.
Após algum tempo, ela conseguiu uma consulta com um oncologista na Santa Casa em uma sexta-feira, quando ele determinou a internação imediata para que fosse submetida a uma cirurgia na segunda-feira.
“Foi no susto. Eu perguntei se seria retirado só o nódulo e ele disse que não, que ia tirar tudo”, relata Cristina
Um mês após a cirurgia, foram iniciadas as sessões de quimioterapia. “É muito agressivo! Eu sentia muito enjoo e tudo que eu comia fazia mal”.
Todavia, as sessões de quimioterapia da paciente foram interrompidas com a crise financeira da Santa Casa de Misericórdia, que acabou ocasionando o fechamento da unidade em Cuiabá. De volta à fila do SUS para um oncologista e encaminhamentos errados para médicos de outras especialidades, Cristina está sem seu tratamento.
Além de tudo, Cristina está desempregada e não conseguiu o auxilio doença do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Ela conta que buscou seu direito, porém foi negado pois não estava contribuindo ao INSS, visto que estava desempregada.
“Era como se eu estivesse pedindo um favor e o dinheiro fosse deles. Eu acho injusto, é um direito adquirido. Quem é que vai me dar um trabalho sabendo que eu preciso ficar saindo para ir ao médico? Ou sabendo que eu não posso levantar mais de 6kg de peso? Eu queria o auxílio doença, não quero me aposentar. Eu desejo trabalhar, mas enquanto eu estiver em tratamento eu queria assistência”.
A rifa
Claudyo Casares era amigo do pai de Cristina, que era pintor de letreiros. Certo dia uma amiga em comum deles contou ao artista plástico a situação que ela estava passando. “Ele me procurou e ofereceu um quadro, para poder me ajudar de alguma fora. É uma pintura feita exclusivamente para isso”.
Segundo ela, Claudyo Casares disse que o valor de venda da sua obra seria em torno de R$ 2.500, dessa forma Cristina decidiu vender as rifas à R$20 e determinou que pelo menos 100 números para sorteio devem ser vendidos.
A obra está exposta na Floricultura Bela Flor, local que Cristina trabalhou durante oito anos de sua vida. A atual proprietária do comércio forneceu o espaço inclusive para a venda das rifas.
“Eu estou quase concluindo a quimioterapia e tenho que fazer vários exames e o dinheiro é para isso. Pagar os exames, para não esperar mais pelo SUS, pagar alimentação e medicamento”.