O Ibovespa iniciou julho marcando o terceiro maior nível de fechamento da história, em alta de 0,50% nesta terça, 1º, aos 139.549,43 pontos, com giro enfraquecido a R$ 17,1 bilhões na sessão. Entre a mínima e a máxima, oscilou de piso na abertura aos 138.854,89 até os 139.695,23 pontos. Na semana, em alta pelo segundo dia, sobe 1,96%, colocando o avanço no ano a 16,02% – estendendo o ganho de 15,44% do primeiro semestre, seu melhor desempenho no intervalo desde 2016.
Com apoio dos carros-chefes das commodities, Vale (ON +1,36%) e Petrobras (ON +0,41%, PN +0,35%), o índice da B3 recuperou a linha dos 139 mil pontos em encerramento pela primeira vez desde 16 de junho – e obteve um nível de fechamento superado apenas pelo recorde de 140.109,63, do fechamento de 20 de maio, e o do dia anterior (19 de maio), então a 139.636,41 pontos.
O avanço de Vale ON, a ação de maior peso individual na carteira Ibovespa, ocorreu a despeito do minério de ferro – que hoje fechou em queda de mais de 1% em Dalian, China, ainda abaixo de US$ 100 por tonelada.
Os investidores, contudo, estão à espera de novos dados sobre a economia chinesa, que possam sinalizar um eventual reforço da demanda e, consequentemente, dos preços da commodity. Nesse sentido, o índice de gerentes de compras (PMI) do setor industrial subiu em junho ante maio, em leitura também acima da expectativa do mercado, indicando expansão da atividade econômica – acima do limiar de 50, a 50,4: a expectativa era de que fosse a 49,8 em junho, após leitura a 48,3 em maio.
Outro setor de peso na composição do Ibovespa, o financeiro, também foi bem nesta terça-feira – à exceção no fechamento de BB (ON -0,81%) -, com ganhos entre 0,46% (Itaú PN) e 2,02% (Santander Unit, na máxima do dia no encerramento). Na ponta ganhadora do dia, Embraer (+4,42%), Cosan (+3,06%) e Pão de Açúcar (+2,60%). No lado oposto, Azzas (-4,42%), Assaí (-3,20%) e Natura (-2,26%).
“Depois de um pregão forte ontem, o Ibovespa seguiu em alta. Foi um dia de agenda esvaziada, em que os investidores estiveram atentos a notícias das empresas para se orientar nos negócios – como o anúncio de encomendas recebidas pela Embraer, que colocou a ação da fabricante de aviões na lista das maiores altas da sessão”, diz Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Dólar
Após três pregões seguidos de queda, o dólar à vista fechou a sessão desta terça-feira, 1º, em alta de 0,50%, a R$ 5,4612, com máxima a R$ 5,4699 à tarde. Operadores afirmam que o desconforto com o imbróglio em torno do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a alta das taxas dos Treasuries abriram espaço para uma realização de lucros no mercado local.
Embora analistas avaliem que há boas chances de nova rodada de apreciação do real no curto prazo, a tendência é que investidores adotem uma postura mais cautelosa daqui para frente, uma vez que o dólar recuou 4,99% em junho e fechou o primeiro semestre com desvalorização de 12,07%, nos menores níveis desde meados de setembro.
“A decisão do governo de judicializar a questão do IOF traz um pouco de insegurança para os investidores em um ambiente em que o dólar já caiu bastante”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, para quem as incertezas em relação ao quadro fiscal doméstico podem pesar sobre o real nos próximos meses. “O exterior e a taxa Selic em 15% por enquanto mantêm o dólar em um nível para mim muito baixo”.
Pela manhã, o ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, informou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF) ação para restaurar os efeitos do decreto que aumentava as alíquotas do IOF. A argumentação é que a derrubada do decreto do governo pelo Congresso na última quarta-feira, 25, viola o princípio da separação dos poderes.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse hoje que para fechar o orçamento de 2026 com cumprimento da meta fiscal, de superávit de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB), vai precisar do aumento do IOF, além de corte de R$ 15 bilhões em benefícios tributários e dos efeitos da Medida Provisória encaminhada ao Congresso com elevação de tributos sobre bets e aplicações financeiras, entre outros pontos.
“Mesmo com uma eventual vitória do governo no STF na questão do IOF, há um desgaste da relação entre Legislativo e Executiva, o que tende a piorar as chances de aprovação de projetos neste segundo semestre e comprometer as medidas de ajuste fiscal”, afirma o economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho.
No exterior, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – apresentava leve recuo no fim do dia, na casa dos 96,700 pontos. As taxas dos Treasuries de 2 e 10 anos subiram com a aprovação, pelo Senado americano, do pacote orçamentário do presidente dos EUA, Donald Trump, que traz cortes de impostos e pode agravar a situação fiscal do país.
Entre indicadores dos EUA, o índice de atividade industrial (PMI, na sigla em inglês), elaborado pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM) subiu de 48,5 em maio para 49 em julho, praticamente em linha com as estimativas (49,1). Leituras abaixo de 50 indicam contração da atividade.
De outro lado, relatório Jolts mostrou abertura de 7,769 milhões de postos de trabalho em maio, acima da estimativa de analistas (7,3 milhões). A grande expectativa é pela divulgação, na quinta-feira, 3, do relatório mensal de emprego (payroll) de junho. Números mais fracos podem reforçar apostas em cortes de juros pelo Federal Reserve já em julho.
Em participação no seminário promovido pelo Banco Central Europeu (BCE) hoje em Portugal, o presidente do Fed, Jerome Powell, não descartou a possibilidade de redução dos juros em julho. “Dependerá dos dados”, afirmou Powell, quando indagado sobre o tema.
O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, lembra que o Dollar Index acumulou queda de mais de 10% no primeiro semestre e teve no segundo trimestre seu pior desempenho trimestral desde 1986. “Esse movimento está relacionado tanto ao excesso de compras no final do ano passado quanto às pressões políticas nos EUA para corte de juros. Donald Trump tem pressionado fortemente o Fed”, afirma Gala, lembrando em no fim de 2024 o mercado embarcou no chamado Trump trade, esperando um fortalecimento da moeda americana.
Juros
Os juros futuros percorreram a segunda etapa do pregão desta terça-feira, 1º, em leve viés de alta, seguindo o movimento da curva a termo dos Estados Unidos. Lá fora, dados mais fortes de atividade referentes à economia americana foram observados com atenção, ao mesmo tempo em que os agentes acompanharam a aprovação pelo Senado do projeto orçamentário do presidente dos EUA, Donald Trump, que aumenta a dívida pública americana em US$ 3,3 trilhões.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 encerrou o dia em 14,915%, de 14,928% no ajuste da véspera. O DI para janeiro de 2027 oscilou de 14,090% ontem no ajuste para 14,105%. O contrato que vence no primeiro mês de 2028 ficou em 13,290%, vindo de 13,248% no ajuste de segunda. Já o DI para janeiro de 2029 passou de 13,068% no ajuste anterior para 13,080%.
Segundo o relatório Jolts, do Departamento do Trabalho dos EUA, a abertura de postos de trabalho na economia americana ficou em 7,769 milhões em maio, ante previsão de 7,3 milhões colhida pela FactSet. Também divulgado nesta terça, o índice de gerentes de compras (PMI) industrial do país avançou a 52,9 em junho. Números acima de 50 indicam expansão da atividade manufatureira.
“Após um forte rali com números fracos do Caged, hoje o mercado brasileiro sentiu um pouco a abertura dos juros globais”, afirmou Roberto Motta, estrategista macro da Genial Investimentos, para quem a maior parte do comportamento da curva local hoje se deve à movimentação externa. “Apesar dos dados de atividade acima do esperado, seria possível uma visão mais construtiva para reforçar a queda dos juros nos EUA, mas o mercado preferiu olhar estes números e realizar os lucros praticamente às vésperas do payroll”, diz Motta, acrescentando que o relatório de emprego da economia americana virá a público nesta quinta.
No âmbito doméstico, o estrategista avalia que a intenção do governo Lula de ingressar no Supremo Tribunal Federal (STF) com uma ação para restaurar os efeitos do decreto do IOF “não ajuda”, ao reiterar a percepção de que o ajuste fiscal no Brasil só será feito via aumento de arrecadação. “Mas diria que entre 80% e 90% da realização dos juros no Brasil hoje vieram da abertura dos juros globais”, ressaltou. Por volta das 17h, o rendimento do Treasuries de 10 anos subia a 4,247%, vindo de 4,237% ontem.
Do lado positivo, O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) cedeu de 0,34% em maio para 0,16% no fechamento de junho, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). O resultado, divulgado hoje, ficou perto do piso das estimativas contidas na pesquisa do Projeções Broadcast, de 0,14%. A mediana era de 0,21%.
Para Motta, da Genial Investimentos, a dinâmica inflacionária está mais comportada. Devido às expectativas ainda desancoradas em relação à meta, porém, o BC brasileiro “não pode falar diferente”, diz o estrategista, referindo-se ao tom mais duro da autoridade monetária. Para a Genial, o Copom só dará início a um ciclo de flexibilização da Selic, atualmente em 15%, no segundo trimestre de 2026.