Como na sexta-feira, 8, o Ibovespa voltou a testar a linha dos 136 mil pontos durante a sessão desta segunda-feira, 11, sem conseguir sustentá-la no fechamento – a marca não era vista em encerramento desde 11 de julho, até a última quinta-feira, quando foi aos 136,5 mil pontos naquele fechamento. Ao fim, marcava nesta segunda leve perda de 0,21%, aos 135.623,15 pontos, com giro também enfraquecido, a R$ 17,7 bilhões. No mês, o índice da B3 sobe 1,92%, colocando o ganho do ano a 12,75%. Nesta segunda-feira, oscilou de 135.495.75 a 136.307,33 pontos, saindo de abertura a 135.913,25.
“Ibovespa teve leve queda mesmo com a retração na ponta longa da curva do DI. Focus foi até favorável, especialmente com relação ao recorte da inflação para 2026. Mas ainda há tensão entre Estados Unidos e Brasil, especialmente com o cancelamento da reunião entre o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, e o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, que aconteceria nesta semana. Político ainda traz volatilidade com relação às tarifas”, diz Pedro Moreira, sócio da One Investimentos.
Dessa forma, o desempenho positivo de Petrobras (ON +0,46%, PN +0,62%) em dia de avanço moderado para o petróleo não foi o suficiente para assegurar ganho ao Ibovespa. Entre os grandes bancos, o sinal foi misto no fechamento, com variações entre -0,48% (Santander Unit) e +0,90% (Banco do Brasil ON). Na ponta vencedora do índice, Natura (+5,86%), Eletrobras (ON +1,92%, PNB +1,95%) e TIM (+1,16%). No lado oposto, Braskem (-7,76%), Azzas (-5,79%) e Vamos (-4,35%). Vale ON virou do meio para o fim da tarde, e caiu 0,11%, mesmo com a alta do minério na China.
Os contratos futuros de petróleo fecharam em alta em Londres e Nova York, com investidores monitorando a política tarifária de Donald Trump, bem como as tensões geopolíticas. À tarde, os EUA estenderam o prazo da trégua comercial com a China por 90 dias, e Trump deve se reunir com o presidente russo, Vladimir Putin, na sexta-feira, para discutir a guerra da Ucrânia.
Os dados de posicionamento mais recentes mostram que os especuladores reduziram apostas de que os preços do Brent subirão, apesar dos riscos de fornecimento decorrentes das ameaças de sanções dos EUA a quem comprar petróleo russo, aponta o ING, reporta a jornalista Thais Porsch, do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
O dia foi de leve alta do dólar frente ao real, a R$ 5,44, com o índice DXY, que contrapõe a moeda americana a referências como euro, iene e libra, também mostrando avanço nesta abertura de semana. Mesmo com incertezas, como as relacionadas ao efeito das tarifas americanas para o desempenho da economia brasileira daqui ao fim do ano, a Selic a 15% ao ano contribui para a manutenção de fluxo de capital externo ao Brasil, observa João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos.
“A gente tem percebido o dólar se enfraquecendo pelo mundo, com países buscando alternativas para a constituição de reservas, o que resulta também, como reflexo disso, em cotação elevadíssima do ouro, muito próximo das máximas históricas”, diz Soares, mencionando também a demanda por ativos como criptomoedas.
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou nesta segunda que a atuação da autoridade monetária se dá sempre sobre uma “segunda derivada” dos acontecimentos que influenciam a economia global, como, por exemplo, a nova política tarifária dos Estados Unidos. “Nossa bola é a inflação. Como é que a inflação está sendo afetada? Seja pelo tarifaço, seja pela política fiscal, seja a inflação corrente, ou as projeções e as expectativas de inflação. É isso que a gente está analisando. É sempre uma segunda derivada”, explicou.
“A semana tende a ter mais dados, mais movimentos, mais novidades do que tivemos na passada”, diz Alison Correia, analista cofundador da Dom Investimentos. Na agenda desta segunda-feira, ele destaca o Boletim Focus em que o mercado revisou a inflação para baixo pela 11ª semana consecutiva, com a estimativa para o IPCA no ano passando de 5,07% para 5,05%. “Amanhã, temos dados do IPCA que podem ser puxados pela pressão da emergia elétrica, mais cara, além do aumento das passagens aéreas”, acrescenta.
Dólar
Em pregão de liquidez reduzida, o dólar registrou leve alta nesta segunda-feira, 11, alinhado ao comportamento da moeda norte-americana no exterior. Operadores dizem que o dia foi de ajustes, após a queda de 1,97% na semana passada, diante das apostas de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em setembro.
Com agenda esvaziada, investidores ficaram cautelosos à espera do Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA em julho. A notícia de que o presidente Donald Trump estenderá as negociações com a China por mais 90 dias não afetou o câmbio.
Com variação inferior a três centavos entre a mínima (R$ 5,4342) e a máxima (R$ 5,4597), o dólar à vista fechou em alta de 0,11%, a R$ 5,4420.
Após subir 3,07% em julho, a moeda já cai nos sete primeiros pregões de agosto. No ano, recua 11,94% frente ao real.
“O dia foi fraco, com pequenos ajustes, sem um evento que direcionasse os negócios. O dólar caiu muito na semana passada no mercado internacional com a perspectiva de que o Fed corte os juros no mês que vem por conta da piora do mercado de trabalho americano”, afirma o estrategista-chefe da EPS Investimentos, Luciano Rostagno.
Ele diz que o real se beneficia da desvalorização global do dólar e da expectativa de Selic em 15% ao ano por período prolongado, que mantém elevado o diferencial de juros e estimula carry trade.
Pela manhã, em evento da Associação Comercial de São Paulo, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que não vê as projeções de inflação convergindo para a meta de 3% e que a autoridade monetária não se desviará “um milímetro” desse objetivo.
Investidores aguardam o plano de contingência do governo para mitigar o impacto da tarifa de 50% imposta pelos EUA a parte das exportações brasileiras. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reúne-se com o vice Geraldo Alckmin para tratar do tema.
À tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou que a reunião com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, prevista para quarta-feira, 13, foi cancelada sem nova data. Ele citou entrevista de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e disse que “não há como não relacionar uma coisa com a outra”.
Ao Financial Times, Eduardo declarou que os EUA, após sancionarem Alexandre de Moraes, devem aplicar novas sanções a ministros do Supremo Tribunal Federal pelo processo contra seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na visão de Rostagno, as “turbulências” internas podem limitar a queda do dólar. “No curto prazo, com o Fed entregando cortes de juros, podemos ver a taxa de câmbio real próxima de R$ 5,40. Mas não vejo espaço para recuar muito além disso”, diz.
A Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou superávit de US$ 1,286 bilhão na segunda semana de agosto, elevando o saldo do mês a US$ 2,217 bilhões e o anual a US$ 39,199 bilhões.
O Bradesco avalia que o enfraquecimento do dólar favorece o real, mas mantém a projeção de câmbio em R$ 5,50 no fim deste ano e do próximo, citando a incerteza internacional.
Juros
A segunda parte do pregão desta segunda-feira, 11, foi marcada por fechamento generalizado da curva a termo, com intensificação da queda das taxas, que atingiram mínimas intradia em quase todos os vértices. O movimento seguiu de perto o recuo dos rendimentos dos Treasuries, que reagiram a notícias de que três dirigentes do Federal Reserve (Fed) são considerados para substituir o presidente atual da instituição, Jerome Powell. Dois deles – Michelle Bowman e Philip Jefferson – têm postura mais inclinada a cortes de juros.
No âmbito doméstico, a continuidade da melhora das expectativas de inflação do mercado – uma condição fundamental destacada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para iniciar ciclo de flexibilização monetária por aqui – deu alguma contribuição em uma sessão esvaziada na divulgação de indicadores. Mas a mensagem do comitê de que a Selic ainda ficará parada em 15% por longo período impede variação maior dos vencimentos mais curtos.
Já nos juros longos, a influência de baixa hoje veio da queda firme dos juros dos títulos americanos, com os novos nomes ventilados para substituir Powell no comando do Fed.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 oscilou de 14,908% no ajuste de sexta-feira para mínima no dia de 14,900%. O DI de janeiro de 2027 passou de 14,12% no ajuste anterior para 14,070%, também menor patamar no dia. O DI de janeiro de 2028 marcou 13,31%, de 13,391% no ajuste antecedente. O DI de janeiro de 2029 cedeu de 13,28% no ajuste a 13,19%.
Os vértices mais longos também diminuíram: o de janeiro de 2031 recuou de 13,493% no ajuste de sexta a 13,4%. O do primeiro mês de 2033, de 13,609% no ajuste para 13,52%.
Publicado hoje pelo Banco Central, o boletim Focus indicou que a projeção para a alta do IPCA em 2025 foi reduzida pela 11ª semana consecutiva, para 5,05%, vindo de 5,07%. A previsão para 2026 também diminuiu 0,02 ponto porcentual, a 4,41%, quarta queda seguida. Para 2027 e 2028, no entanto, as previsões do mercado foram mantidas, em 4% e 3,8%, pela ordem.
Segundo Flávio Serrano, economista-chefe do banco BMG, o cenário inflacionário prospectivo mais benigno dos analistas pode ter ajudado na ligeira queda dos juros curtos hoje, uma vez que a melhora do horizonte do mercado para a trajetória da inflação é uma das maiores preocupações do BC.
Ao participar de evento da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) nesta manhã, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, reiterou que a autoridade monetária ainda não está vendo as projeções de médio e longo prazo de inflação do mercado em convergência à meta de 3% como desejado, e que a instituição segue enxergando o mercado de trabalho como um foco de resiliência. Em outros segmentos, como o crédito, porém, já é possível observar um maior efeito da política monetária restritiva, o que contribui para um cenário “agridoce” e com sinais mistos na atividade doméstica, comentou Galípolo.
“Temos indícios de que a atividade está desacelerando, exceto o mercado de trabalho. Isso vai ser fundamental para o BC pensar em corte de juros”, aponta Serrano, destacando que, agora, a discussão está mais concentrada em quando o ciclo de redução vai começar, e não no orçamento total dos cortes. Por ora, diz, a curva mostra concentração das apostas em março.
Devido a uma “melhora no cenário para a política monetária”, a Bradesco Asset reduziu de 13% para 12,75% a previsão para a Selic ao fim de 2026. O primeiro corte, porém, só é esperado para maio do ano que vem. Em revisão de cenário divulgada hoje, a gestora afirma que a mudança ocorreu em razão de dados de crédito mais fracos, que devem levar a um fechamento mais rápido do hiato do produto.
Nesta semana, os investidores vão monitorar a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho, que ocorre amanhã, o desempenho das vendas do comércio restrito e ampliado, que o IBGE publica na quarta, e o do volume prestado de serviços, a ser conhecido na quinta. Com exceção do IPCA, os indicadores de atividade são referentes a junho.