Mix diário

Com foco ainda no tarifaço, Ibovespa cai 1,04% ao menor nível desde 22/4

O Ibovespa iniciou a semana decisiva do tarifaço americano – previsto para ser implementado contra o Brasil na sexta-feira, 1º de agosto – da forma como encerrou as duas sessões anteriores, em baixa. Nesta segunda, 28, o índice da B3 oscilou entre 131.550,39 e 133.901,70 pontos, encerrando em queda de 1,04%, aos 132.129,26 pontos, o menor nível de fechamento desde 22 de abril, então a 130,4 mil.

Como nas últimas sessões, o giro permaneceu contido, hoje a R$ 17,6 bilhões. Em julho, que chega ao fim nesta quinta-feira, o Ibovespa já acumula perda de 4,84% – por enquanto, a caminho de seu pior desempenho mensal desde agosto de 2023, quando havia cedido 5,09%. No ano, o Ibovespa limita o avanço a 9,85%.

No fechamento, as ações de grandes bancos mostraram perdas de até 2,10% em Itaú PN, a principal do segmento. Entre os setores mais pesados do índice, o bancário liderou as perdas nesta segunda-feira, pressionado por dados fracos de concessão de crédito e pelo temor dos impactos das tarifas dos EUA sobre a economia brasileira, observa Luise Coutinho, head de produtos e alocação da HCI Advisors. “As ações do setor metálico também recuaram, acompanhando a queda de preço do minério de ferro.” Ela acrescenta que o mercado aguarda com expectativa a próxima reunião do comitê executivo do Partido Comunista Chinês, que pode anunciar novas medidas de estímulo à economia, com efeitos para o setor.

Vale ON encerrou em baixa de 0,97%, enquanto Petrobras teve desempenho misto no fechamento, em baixa de 0,06% na ON e alta de 0,13% na PN, com avanço de mais de 2% para o petróleo em Londres e Nova York nesta segunda-feira. Os contratos futuros da commodity foram impulsionados por declarações do presidente americano, Donald Trump, ao indicar que encurtará para 12 dias o prazo máximo para que o presidente russo, Vladimir Putin, chegue a uma trégua com a Ucrânia.

Por outro lado, a Petrobras informou hoje que reduzirá em 14%, em média, os preços do gás natural para as distribuidoras a partir de 1º de agosto. Segundo a estatal, os contratos com as distribuidoras preveem atualizações trimestrais da parcela do preço relacionada à molécula do gás e vinculam esta variação, para cima ou para baixo, às oscilações do petróleo Brent e da taxa de câmbio do real em relação ao dólar, reporta a jornalista Beth Moreira, da Broadcast.

Na ponta ganhadora do Ibovespa, São Martinho (+3,56%), YDUQS (+2,26%) e Ultrapar (+2,18%). No lado oposto, Vivara (-5,23%), CSN (-4,42%) e Magazine Luiza (-4,27%).

A comitiva de senadores que está em Washington com a missão de abrir uma nova frente de negociações com os Estados Unidos recebeu com cautela o anúncio realizado neste domingo, 27, sobre o acordo entre o governo Donald Trump e a União Europeia. Há uma avaliação de que o acerto não é tão bom para o Brasil e deve deixar o País mais isolado, reportam de Brasília as jornalistas Pepita Ortega e Isadora Duarte.

Mantendo o tom político da disputa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje que o ex-presidente Jair Bolsonaro “não merece o sacrifício do povo brasileiro”, citando a imposição da tarifa de 50% sobre os produtos do Brasil. Ao anunciar a sobretaxa dos produtos brasileiros, Trump usou como justificativa o que chamou de “caça às bruxas” no processo contra Bolsonaro em andamento no Supremo Tribunal Federal.

O governo brasileiro avisou à Casa Branca que o chanceler Mauro Vieira pode viajar a Washington, nos próximos dias, se for recebido por um interlocutor do presidente americano. Às vésperas de o tarifaço sobre toda a pauta de exportação brasileira aos EUA entrar em vigor, Vieira foi a Nova York, onde cumpre agendas na Organização das Nações Unidas (ONU) nesta segunda-feira.

“Embora acordos estejam sendo alcançados com outros parceiros, como a União Europeia, Trump já deixou bem claro que não haverá adiamento da data de 1º de agosto para que as tarifas ao Brasil sejam efetivadas. E isso continua a ir para o preço dos ativos brasileiros, como voltamos a ver hoje na Bolsa”, diz Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos. “Há uma quebra de expectativa de que pudesse haver brecha para uma negociação e solução de última hora”, acrescenta. Nesse mesmo contexto, o dólar à vista fechou o dia em alta de 0,50%, a R$ 5,5899.

Dólar

O real foi pressionado nesta segunda-feira, 28, desde a abertura pela política tarifária dos Estados Unidos. O dólar ganha força globalmente, após acordo comercial americano com a União Europeia, e outras rodadas de negociação inclusive com a China. E o Brasil não parece estar na lista de prioridades do governo Donald Trump, mesmo com a tarifa de 50% a produtos brasileiros entrando em vigor a partir desta sexta-feira, 1º de agosto.

Com mínima a R$ 5,5686 e máxima a R$ 5,6062 pela manhã, o dólar à vista encerrou esta segunda-feira em alta de 0,50%, a R$ 5,5899. Foi a maior cotação desde 4 de junho de 2025. O DXY, índice que mede a moeda americana contra uma cesta de pares fortes subia mais de 1%, aos 98,639 pontos, por volta das 17h20.

“A política tarifária é o centro das atenções do mundo agora. Perspectiva de que os EUA estão saindo, de certa forma, vitoriosos nos acordos em que estão fazendo tende a fortalecer o dólar. Mas o real acaba sofrendo bastante. Estamos vendo bastante esforço do Brasil para negociar com os EUA, mas acabamos sendo deixados de lado pelas autoridades americanas”, comenta o economista Rafael Prado, da GO Associados.

A comitiva de senadores que está em Washington com a missão de abrir uma nova frente de negociações com os Estados Unidos recebeu com cautela o anúncio deste domingo, 27, sobre o acordo entre o governo Trump e a UE. Há uma avaliação de que o acerto não é tão bom para o Brasil e deve deixar o País mais isolado, disseram fontes ao Broadcast.

Já na última sexta-feira, 25, o noticiário apontou que a maior economia do mundo preparava mais bases legais para justificar as tarifas de 50% a produtos brasileiros – já que, do ponto de vista econômico, não faria sentido, pois os EUA registram superávit comercial em relação ao País. “EUA já está preparando uma base legal para a implementação das tarifas contra o Brasil, ajudando a concretizar o cenário das tarifas propostas no início deste mês”, disse o Inter.

“A medida, vista como retaliação política, eleva o grau de incerteza sobre o câmbio e as exportações brasileiras”, avalia o head de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T XP, Diego Costa.

Juros

A quatro dias do início da vigência da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos ao Brasil – caso nenhum consenso entre os dois países seja alcançado até lá -, a incerteza segue elevada, mas a percepção de que a medida teria viés desinflacionário aliviou ligeiramente a curva de juros local na segunda etapa do pregão desta segunda, 28. Com menos exportações, a tendência é que as empresas direcionem seus produtos ao mercado doméstico no curto prazo, o que diminuiria os preços por aqui. Ao mesmo tempo, os setores mais atingidos também tendem a reduzir seu nível de atividade, num momento em que a política monetária já se encontra em patamar restritivo.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 oscilou de 14,929% no ajuste de sexta-feira, 25, para 14,930%. O DI de janeiro de 2027 passou de 14,23% no ajuste anterior para 14,215%. O DI de janeiro de 2028 marcou 13,575%, vindo de 13,592% no ajuste antecedente, e o DI de janeiro de 2029 cedeu de 13,538% para 13,535%.

Na ponta mais longa da curva, o contrato do primeiro mês de 2031 fechou em 13,780%, de 13,796% no ajuste. O DI de janeiro de 2033 também rondou a estabilidade, ao variar de 13,919% para 13,900%.

Segundo Ian Lima, gestor de renda fixa da Inter Asset, existem três cenários possíveis com o qual os investidores trabalham: no primeiro deles, mais benigno, o presidente dos EUA, Donald Trump, cederia de alguma forma, para algum porcentual menor de tarifa. O terceiro, mais pessimista, embute a aplicação de 50% de sobretaxa nos produtos brasileiros e retaliação do governo Lula em igual teor sobre as importações americanas.

Já a hipótese de meio-termo – considerada a mais provável, e que fez preço na curva de juros brasileira hoje – considera a imposição da tarifa integral de 50%, mas sem qualquer reação aos EUA. “Parece que o mais provável é que a tarifa de 50% vai ficar e o governo vai trabalhar para revertê-la ao longo do tempo. Isso gera uma sobreoferta no mercado interno, o que joga os preços para baixo, e tem efeito na atividade dos setores atingidos. Com menos inflação, os juros ficam pressionados para baixo”, aponta Lima.

Com a Selic em 15%, patamar bastante restritivo, e sendo o próximo movimento esperado de corte da taxa, ainda que não tão cedo, eventos com viés de baixa na inflação levam o mercado a antecipar a expectativa de redução do juro básico pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), afirma o gestor da Inter Asset.

O banco Pine reduziu a estimativa para a variação do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de 2025, de 1,5% a zero, tendo o tarifaço como uma das principais influências. Segundo o diretor de pesquisa econômica da instituição, Cristiano Oliveira, é pouco provável que a data de 1º de agosto, quando devem passar a vigorar as tarifas para cerca de 60 parceiros comerciais, incluindo o Brasil, seja alterada.

“Em nossa opinião, as tarifas impostas por Trump aos produtos brasileiros tendem a ter impacto desinflacionário para os preços domésticos via maior oferta doméstica de bens (em especial itens da agropecuária) e via queda de preços internacionais de commodities com o menor crescimento esperado para os EUA e do comércio global”, diz Oliveira.

Já sobre o nível de atividade interno, o Pine avalia que o impacto da ofensiva comercial americana seria limitado, mas pondera que setores específicos podem sofrer mais. Seriam eles produtos florestais e celulose, autopeças, químicos e bens intermediários industriais. No agro, o efeito deve ocorrer nos mercados de café, suco de laranja, carne bovina e açaí.

Estadão Conteudo

About Author

Deixar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Você também pode se interessar

Mix diário

Brasil defende reforma da OMC e apoia sistema multilateral justo e eficaz, diz Alckmin

O Brasil voltou a defender a reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC) em um fórum internacional. Desta vez, o
Mix diário

Inflação global continua a cair, mas ainda precisa atingir meta, diz diretora-gerente do FMI

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva disse que a inflação global continua a cair, mas que deve