O presidente do Sindicato dos Motoristas (STETT/CR), Ledevino Conceição, relata que há dois anos já começou em Mato Grosso o movimento de contratação de estrangeiros, principalmente dos países da América do Sul, e que o principal destino tem sido a área de frigoríficos.
“Devido à precariedade das estradas e falta de qualificação, as empresas estão com deficit de funcionários, problema que está sendo amenizado com a vinda de estrangeiros. Ainda não temos um balanço de quantos já trabalham no Estado, mas sabemos que há argentinos, bolivianos e colombianos. E esse mesmo movimento está sendo realizado também no sul do Brasil”, diz Conceição.
No Paraná, desde fevereiro levas de colombianos estão sendo capacitados para começar a atuar no transporte rodoviário. E de acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte do Paraná, o interesse de motoristas estrangeiros em trabalhar no Brasil é crescente, tanto que logo no início do convênio para trazer esses trabalhadores cerca de 200 currículos chegaram ao sindicato.
Para Ledevino, a falta de capacitação não é o único empecilho para a falta de trabalhadores nessa área, pois também a falta de estrutura nas estradas dificulta muito a vida desses profissionais.
“As pessoas não querem trabalhar com transporte rodoviário porque as estradas estão cada vez piores, o que leva eles a passarem mais tempo longe de casa, o que dificulta o investimento em alguma formação e poucas pessoas querem continuar em uma profissão sem crescimento”, diz.
Importação divide opiniões
Entre os motoristas ainda há divergência sobre a vinda de estrangeiros para atuar no Brasil, principalmente entre os trabalhadores mais antigos, mas há quem aprove a medida, pois o deficit de motoristas nas empresas tem deixado vários caminhões parados nas garagens.
No grupo dos que discordam da medida está Laudelino da Costa, 70 anos de idade e 50 de profissão. Para o motorista, o que está faltando é valorização da profissão e mais treinamento para os jovens.
“É muito melhor profissionalizar o brasileiro e valorizar nossa população do que trazer pessoas de fora para ganhar pouco. Atualmente, os mais novos só entram na profissão por causa da ilusão de viajar, mas não têm responsabilidade nenhuma e o resultado são caminhoneiros usando cocaína antes de pegar no volante, como já vi várias vezes”, diz Costa.
Já para o caminhoneiro Ivo Frare, 40 anos, a vida na estrada é arriscada. Por isso, ele acredita que poucos querem seguir na carreira, então a vinda de estrangeiros é uma boa opção.
“Em várias empresas há muitos caminhões parados, só de falar que é motorista ‘jogam' a chave na nossa mão oferecendo bons salários, sem nem termos pedido emprego. Então a vinda de estrangeiros é uma saída, tanto que já vi um haitiano na estrada e não vi problema nenhum, pois há espaço na área”, diz Frare.