O tema da redação do Enem 2015 é "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira". Logo após o tema ter sido divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), a colunista do G1 Andrea Ramal aceitou o desafio de redigir um "texto modelo" com uma proposta para o tema.
Veja abaixo o texto escrito por Andrea Ramal:
"Quem vai olhar por elas?
Embora constitua um crime grave, a violência contra a mulher persiste no Brasil. Segundo a Central de Atendimento à Mulher, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, em 2014, 35% das mulheres em situação de vulnerabilidade sofreram agressões semanalmente, tanto na forma de violência física, como psicológica e sexual. Na última década, foram assassinadas mais de 43 mil mulheres no país, o que representa um aumento de 17% no índice de homicídios. Como reverter esse vergonhoso quadro?
A violência contra a mulher tem raízes profundas, ligadas a relações de classe, etnia, gênero e poder. Já na Grécia Antiga apenas os homens tinham direitos civis e políticos, exercendo dominação absoluta sobre as mulheres. Milênios depois, em alguns países orientais esta situação continua, como é o caso dos que seguem a tradição islâmica, como o Iêmen ou, em certos aspectos, a Arábia Saudita.
A sociedade ocidental configurou-se de forma que aos homens coubessem as atividades consideradas nobres, enquanto as mulheres ficariam restritas ao âmbito doméstico. Algumas religiões pregam, ainda hoje, que a mulher deve obedecer e “suportar tudo calada”. Isso atesta que, embora tenha se avançado bastante, com a emancipação progressiva do gênero feminino, ainda não foram superados paradigmas de um modelo patriarcal, no qual é naturalizado o direito dos homens de controlar as mulheres, podendo chegar, até mesmo, à violência.
A Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, no Brasil, foi um marco significativo no combate à prática infame da violência doméstica. Até então, o crime era tido como algo de “menor potencial ofensivo” e julgado junto com brigas comuns, como disputas entre vizinhos. Essa Lei alterou o Código Penal, permitindo que os agressores passem a ser presos e aumentando as penas. Entretanto, ela não é suficiente, em si mesma, para desconstruir uma realidade cristalizada. Para alcançar avanços significativos, ao menos duas ações devem ser empreendidas.
Em primeiro lugar, há que trazer o tema para o processo educativo, tanto na escola como na família. Crianças que vivenciam relações de igualdade de direitos entre os gêneros ficam menos suscetíveis aos preconceitos baseados em relações obsoletas de poder. Há que educar as jovens para não ver as agressões como normais e orientá-las sobre como se proteger. Os jovens, por sua vez, precisam ser formados para ver as mulheres como semelhantes, e não como inferiores.
Ao mesmo tempo, faz-se necessário zelar pela aplicação severa das leis de proteção da mulher, garantindo segurança às vítimas. Muitas não procuram as Delegacias da Mulher por medo dos agressores ou por não receberem o tratamento adequado das autoridades. As redes sociais e a mídia podem ser boas aliadas nessa causa, com campanhas de conscientização e denúncia, para que o Brasil supere o quanto antes esse cenário aviltante e desonroso."
Fonte: G1