Política

Coligações partidárias e a crise do sistema político

A união dos partidos de centro ao projeto do pré-candidato à Presidência, Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e algumas alianças entre diretórios em Mato Grosso deve gerar uma situação nunca antes ocorrida em Mato Grosso. As coligações podem fazer se apresentar, quase paralelamente, e acompanhados por um mesmo presidenciável, o governador Pedro Taques (PSDB-MT), o ex-prefeito de Cuiabá Mauro Mendes (DEM-MT), e o senador Wellington Fagundes (PR-MT), todos pré-candidatos à vaga ao Palácio Paiaguás.

O bloco de centro, que oficializou apoio a Alckmin nesta semana, é formado por PR, PP, PRB e DEM. Em Mato Grosso, os republicanos preparam a candidatura de Fagundes, que diz lutar por um projeto alternativo e de oposição a Taques. Ambos trocam declarações ríspidas desde o ano passado, quando o senador mostrou disposição a concorrer ao Paiaguás.

O PR-BR ainda pode ter a coligação com PRB, sigla do deputado federal Adilton Sachetti, que rejeitou o cargo de vice de Taques para lançar campanha ao Senado. O Partido Progressista, do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, e o deputado estadual Ezequiel Fonseca, integrante do Centrão, ainda não decidiu em qual chapa irá ingressar, mas com a decisão da Executiva nacional, pouco espaço haverá para a diferenciação da regional.

Taques segurou a confirmação de sua pré-candidatura até quando pôde e a oficializou na terça (24). O tucano disputará reeleição em chapa que também traz o deputado federal Nilson Leitão (PSDB), e a juíza aposentada Selma Arruda, ambos concorrentes ao Senado. O grupo tucano também deverá conceder espaço a Jair Bolsonaro já que a ex-juíza e o presidente do PSL-MT, deputado federal Victório Galli, aceitaram a formar aliança.

Os democratas lançaram a candidatura de Mauro Mendes também na terça (24), junto com a apresentação de Jayme Campos, líder no partido, e o ex-vice-governador Carlos Fávaro (PSD-MT). O DEM planejava o lançamento da candidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), mas a desistência foi confirmada algumas horas antes do bloco do centrão oficializar apoio a Alckmin.

Uma situação semelhante, de convergência de candidaturas, ocorreu nas eleições de 1998. Os então candidatos ao governo de Mato Grosso, Júlio Campos, pelo PFL, e Dante de Oliveira, pelo PSDB, se viram obrigados a recepcionar o mesmo presidenciável Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) por causa da aliança nacional com PFL.  

Bipartidarismo e ditadura

O analista político Onofre Ribeiro diz que, no entanto, o contexto atual pode ser remetido ao período da ditadura militar, época em que vigorou um sistema bipartidário no Brasil, dos que eram a favor dos militares e dos que tentam mostrar resistência.

“Não existe diferença entre os partidos. Não dá para se falar de partidos. As coligações estão se agrupando dois partidos grandes, amalgamando todas as coisas. Uma situação bem semelhante de bipartidarismo durante o período militar”.

Ele não vê bons olhos a situação, que considera prejudicial para o desenvolvimento político. O analista diz o sistema político passar uma “involução”, representada principalmente pela falta de ideias. “A situação das coligações é características da falta de diferença entre ideias. Há um constrangimento da política, em que a principal busca é pelo poder”, comenta.

Aberração do sistema

O cientista político João Edisom afirma que último reduto de ideias no país era feito pelo PT que se implodiu com a entrada no poder no início do século XXI. “O PT era o último resquício de ideia que existia na política Brasil. Mas, o partido se autodestruiu quando assumiu o poder.”

O cientista diz que o desgaste do sistema político brasileiro é o fator determinante do amálgama de união de partidos tradicionais em bloco. A crítica se concentra na falta de reforma política, que, segundo ele, nunca ocorreu no Brasil.

“O sistema está saturado. Precisa de reforma que nunca realmente aconteceu no país. O que fez foram remendos. A situação atual decorrência de falta de reforma e mudanças necessárias no sistema político. Para ser uma ideia, em Santa Catarina, os PSDB e PT vão formar coligação para disputar as eleições, partidos que historicamente são de bandeiras diferentes”, comenta.

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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