A crônica é um gênero de grande sucesso no Brasil. Texto curto, tratando basicamente de problemas da hora que passa, desperta o interesse pelo próprio tema, tratado com maior ou menor dose de lirismo, ironia e graça, conforme o estilo do autor.
Inicialmente publicadas em periódicos, passaram em seguida ao livro, sob forma de coletâneas, e alcançaram bons índices de venda, inclusive junto à faixa mais jovem de leitores.
Surge agora uma edição inteligentemente dirigida a adolescentes. Reunindo quatro de nossos maiores cronistas numa seleção bem feita, o livro dá excelente amostra do que se pode transmitir de humor e sensibilidade em textos que não ultrapassam três páginas.
Reunidas pelos temas gerais, quais sejam crianças, animais, no mundo do consumo, tipos humanos e a linguagem e o homem, o série “Para Gostar de Ler” oferece rara ocasião de confronto e análise de estilo narrativo, de autores que sabem tirar da linguagem coloquial o que ela tem de comunicativo, sem com isso empobrecer, sob qualquer aspecto, a beleza da forma.
O lirismo perpassado de crítica de Carlos Drummond de Andrade pode ser sentido vivamente em O Pintinho, em que narra a história de um garoto que ganha esse pequeno animal numa festa de aniversário e levando-o para o apartamento descobre a fragilidade de um ser vivo.
A graça de Fernando Sabino é apreciada logo na crônica de abertura, Hora de dormir, na qual é relatada a discussão entre um pai mal-humorado e um garoto impertinente. Em forma de diálogo, o texto é um primor de prosa coloquial e de apreensão da psicologia dos personagens.
Rubem Braga, em Recado ao Senhor 903, demonstra suas qualidades ao comunicar de forma leve e bem-humorada o problema do isolamento a que está relegado o habitante da grande cidade e a sua frustração em relação à vontade ancestral de conviver abertamente com seus semelhantes.
Graficamente o livro é de excelente qualidade, com lições de sensibilidade e humor.