Opinião

Coisas de Marília

Do lado de fora, sentada confortavelmente na rampa que dá acesso à Casa do Parque, falávamos de Marília Beatriz. Um texto anteriormente ensaiado não impedia que lente da câmera, que mais parecia uma lente de aumento a ampliar minhas imperfeições, não me deixava à vontade, tartamudeando minha fala.

Passeávamos pelos anos de 2018 e 2019, quando a Casa do Parque foi palco de duas exposições: O homem algodão e Colchas de retalhos: costurando sonhos. A primeira delas, em um abraço de barro, termo do tecido/texto de Marília Beatriz – Mar&Ilha, especialmente escrito para a abertura da exposição individual da ceramista cuiabana Nice Aretê, ocorrido na noite de 30 de novembro. Sobre o acervo cerâmico de Nicê Aretê, Maurília Valderez Lucas do Amaral, conclamou em sua A sabedoria da mistura dos corpos para se encontrar com Só Elas – Claudete Jaudy, Juliana Abonizio e Margarete Xavier – e todas juntas para aclamar a artesã no tecido/texto de Mar&Ilha: o que não é lembrança nas imagens dessa arte/sã? Sua tessitura no barro deixa entrever uma inclusão maior e menor dos textos lembrados e dos tecidos vividos.

A segunda exposição, Colchas de retalhos: costurando sonhos, um encontro de mãos, muitas mãos na arte de coser tecidos. Todas artesãs do Centro de Promoção Humana Emanuel – Cenprhe Canopus, em Várzea Grande. Agulhas, tesouras, linhas, carreteis, fitas métricas, alfinetes, canetas, teclas, computador para resultar em tecidos de vivências. Fragmentos desses momentos de horas infindas congeladas em cores, qual os retalhos-enigmas. As costureiras, o atelier, a máquina de costura, os retalhos e os panos recebendo formas e combinações.

Unidos às artesãs dos retalhos, os poetas da cidade verde reunidos por Marília. E em retalhos de vivências, todos a escrever, em tecido/texto, fragmentos de vidas. De uas vidas. Em confidências. O coser tecidos e a escrita de palavras em pronunciações de amores-desamores que se deixaram revelar pelas linhas do pesponto e da tinta. E, no entusiasmo criador de costureiras e poetas, num ato de conversação, enlaçaram-se para suturar cicatrizes.

Esses universos rememorados naquela quarta-feira de fevereiro ainda novo, em um tempo de intensas recordações e saudades, uma chuva de sementes desce de uma das três palmeiras da espécie cariota, a mais próxima de nós. A complementar o cenário com o descortinar de inúmeras sementes redondinhas e sonoras, em festa, a descer a ladeira da Casa do Parque.

Final da cena.

 

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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