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Clubes divergem sobre fair play financeiro e discutirão assunto em comissão

Cartolas dos 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro e dirigentes da CBF se reuniram nesta quarta-feira, na sede da entidade, no Rio, para discutir mudanças na principal competição do País. Poucas novidades foram aprovadas. A implementação do fair play financeiro e a proibição de gramados sintéticos, dois dos temas mais importantes e controversos, foram postergados. Não há, por ora, uma decisão em relação a essas questões.

Dois dirigentes presentes nas reunião com os quais a reportagem conversou apontaram divergências entre os clubes a respeito desses temas. Parte dos times deseja que o fair play financeiro seja instituído com urgência. Outros falam em transição e pedem um prazo para adequação a essa regulamentação, caso ela seja aprovada. Mas a maioria é a favor de que existam regras mais rígidas para premiar os times de boas práticas financeiras e punir os que têm gestões temerárias.

A implementação do fair play financeiro e a discussão sobre proibir os gramados sintéticos nos jogos do Brasileirão ficarão a cargo da Comissão Nacional de Clubes (CNC), que existe dentro da CBF desde o ano passado. Hoje, esse grupo é formado por dirigentes de Flamengo, Fortaleza, Internacional, Palmeiras, São Paulo e Vasco. Será essa comissão que vai analisar os temas ao longo do ano. Os assuntos foram discutidos no conselho desta quarta, mas os cartolas preferiram não abrir votação.

A CBF vem estudando e tem um material robusto sobre o fair play financeiro já há algum tempo. Membros da comissão vão se reunir no futuro para discutir o assunto. Dirigentes veem ser possível aprovar uma regulamentação ainda neste ano, provavelmente com um prazo para os clubes se adequarem às regras. O mesmo vale para o piso artificial, sobre o qual a CBF prepara a apresentação de um estudo, com incidência de lesões e outros fatores.

O fair play financeiro tem como objetivo manter “o equilíbrio da indústria do futebol por meio da saúde financeira dos clubes”, como explicou o economista César Grafietti, em entrevista recente ao Estadão. Boas práticas incluem não atrasar o pagamento de salários e encargos trabalhistas, recolher impostos em dia e evitar o acúmulo desenfreado de dívidas. A ideia nasceu há cerca de 15 na Europa, após a Uefa ver clubes de maior investimento ficarem em débito com outros mais modestos, que, por sua vez, não conseguiam manter suas operações estáveis.

“Já enxergo que os números de 2024 serão muito ruins do ponto de vista de resultado e dívida, e 2025 será ainda pior. Não adianta todo mundo gastar o que não tem porque o resultado será sempre prejuízo e aumento de dívida”, afirmou Grafietti. “O que Flamengo e Palmeiras fazem é justificável. O Bahia também, porque é do Grupo City, que tem muito dinheiro. Os outros, não, porque ninguém tem todo esse dinheiro. Só que eles se sentem na obrigação de ‘correr’ para acompanhar esses que têm mais condição”.

MUDANÇAS NO BRASILEIRÃO
Foram poucas as mudanças aprovadas para o Brasileirão deste ano, e nenhuma delas é exatamente uma novidade: o comitê consultivo de especialistas internacionais de arbitragem, anunciado há um mês pela CBF, o sistema de bolas múltiplas, já utilizado no Paulistão, a paralisação do campeonato durante a disputa do Mundial de Clubes, o que era sabido, a a adoção de um protocolo de combate ao racismo.

O Brasileirão vai adotar o protocolo antirracista implementado pela Fifa. O procedimento de três etapas consiste em cruzar os braços em forma de X para denunciar um ato de cunho racista e pode ser sinalizado por árbitros, jogadores ou oficiais da competição. Jogadores e oficiais devem comunicar ao árbitro por meio do gesto.

“Seremos extremamente vigilantes no combate ao racismo em todas as partidas com a instrução para o acionamento do Protocolo Global se necessário for”, prometeu Rodrigo Cintra, novo gestor da comissão de arbitragem e substituto de Wilson Luiz Seneme, demitido no mês passado, quando a CBF formou seu grupo de especialistas em arbitragem.

“Foi uma reunião de alto nível, todos os pontos abordados foram trabalhados e estamos sempre de portas abertas”, declarou o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.

Luiz Flávio de Oliveira, Marcelo Van Gasse, Fabrício Vilarinho, Luis Carlos Câmara Bezerra, Eveliny Almeida, Emerson Filipino Coelho compõem a nova comissão de arbitragem.

Já o comitê de consultores internacionais tem o italiano Nicola Rizzoli e o argentino Néstor Pitana, que apitaram as finais da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, entre Alemanha e Argentina, e de 2018, na Rússia, entre Croácia e França, além de Sandro Meira Ricci.

O sistema de bolas múltiplas, usado no Campeonato Inglês e no Paulistão, passará a valer para que os jogos tenham mais tempo de bola rolando. Serão 16 bolas posicionadas em torno do gramado, em cones, e o jogador apenas “retira” a bola do suporte, nos quais as bolas serão repostas pelos gandulas.

O Brasileirão começa no dia 29 deste mês, um sábado, e a última rodada está prevista para o 21 dezembro. Pela primeira vez, a principal competição do futebol nacional será disputada ao longo de dez meses.

Estadão Conteudo

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