O senador Cidinho Santos (PR-MT), suplente do ministro Blairo Maggi (Mapa), contestou o enredo da escola samba Imperatriz Leopoldinense, que crítica ações de degradação ambiental em zonas de produção agropecuária. Em sua fala no Senado Federal, nesta quinta-feira (9), o congressista a apresentou números sobre o agronegócio para mostrar o peso do setor na economia brasileira.
Segundo Santos, o agronegócio representa hoje 23% PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil e 48% das exportações totais do país. Disse ainda que o Brasil consegue ser um dos maiores produtores de alimento do mundo mantendo preservados 61% do bioma natural, graças ao aumento de produtividade por hectare que as pesquisas agropecuárias.
“Dados do Ministério da Agricultura e Pecuária mostram que os ganhos de produtividade entre 1976 e 2015 pouparam mais de 150 milhões de hectares de desmatamento no Brasil. Saímos de uma produção de 1,4 tonelada por hectare nos anos 70 para uma produtividade de 4,5 toneladas por hectare. Ou seja, produzimos mais, sem a necessidade de ampliar as áreas desmatadas”, afirmou o senador.
O senador ainda apresentou dados sobre a geração de energia sustentável. O Brasil produz os 31 bilhões de litros de etanol, que somados a outros biocombustíveis, representam 29% da oferta de bioenergia produzida pelo Brasil.
“Como mato-grossense, eu louvo a iniciativa de homenagear os povos do Xingu, nossos irmãos, mas para isso, não é necessária essa ofensa à agricultura e pecuária do Brasil. Temos que divulgar que somos um país sustentável, com regras sanitárias invejáveis, legislação trabalhista que respeita o trabalhador, de forma a ampliar mercados, gerando emprego e renda para o nosso país”.
No mês passado, outros senadores da bancada ruralista também mostraram irritação com a proposta do enredo da Imperatriz Leopoldinense para o carnaval 2017.
O líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), prometeu articular a realização de uma sessão temática no plenário da Casa, para investigar os possíveis ataques feitos ao agronegócio. “Vou buscar a realização de sessão para discutirmos os motivos de um samba-enredo que denigre a imagem do agronegócio”, afirmou.
Defesa ambiental
O samba Xingu: o clamor que vem da floresta exalta a luta de povos indígenas e alerta para os riscos que sofrem as etnias nativas e, segundo a agremiação, não é uma crítica ao agronegócio.
“Jardim sagrado, o caraíba descobriu/Sangra o coração do meu Brasil/O Belo Monstro rouba as terras dos seus filhos, devora as matas e seca os rios/Tanta riqueza que a cobiça destruiu”, diz trecho do samba-enredo, interpretado por líderes do agronegócio como uma crítica ao setor.
Além da canção, o desfile vai trazer alas que tratam de ameaças sofridas pelos índios.
A escola, entretanto, alegou que não houve qualquer intenção de fazer crítica ao setor do agronegócio. “Em nenhum momento foi pauta essa crítica ao setor. Nosso enredo defende a causa do índio, e o nosso tema é a valorização da cultura indígena e as necessidades dos povos do Xingu”, declarou o carnavalesco Cahê Rodrigues.
Ele afirmou que o “Belo Monstro”, citado no samba-enredo, é uma referência aos impactos da construção da Usina de Belo Monte. Sobre a ala “Fazendeiros e seus agrotóxicos”, Cahê disse que se trata de uma crítica ao uso abusivo de agrotóxicos. “É uma questão ambiental e não ligada ao agronegócio. Não queremos apontar o dedo para ninguém.”
O carnavalesco lembrou que, no ano anterior, ao homenagear a dupla Zezé Di Camargo & Luciano, a escola de samba teve uma ala dedicada ao homem do campo e à agricultura, e disse esperar que a questão seja esclarecida o mais brevemente possível para não prejudicar a agremiação carioca.
Em nota, a Imperatriz disse que “em nenhum momento” atacou o setor e seus trabalhadores. “Reforçamos que o nosso enredo não versa contra esta importante cadeia produtiva de nossa economia nem desqualifica os seus incansáveis trabalhadores. Como poderíamos exaltá-los de forma grandiosa num carnaval para em seguida criticá-los no outro?” (Com Estadão)
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