A floresta já foi festa. Hoje arde. A umidade relativa do ar está em alerta até para o nível camelo.
Hienas e porcos, alguns já sem as pérolas, se digladiam. Parte dos embates é espalhada pelos matagais. Pombos correios estão ficando sem rumo de tanto ir daqui pra ali, de lá pra cá.
Papagaios estão roucos de gritarem as novidades quase antigas, desatualizadas rapidamente pelo atropelar do rolo com efeito porco espinho dos acontecimentos.
O caso é menos de cachoeira, que despenca e segue obediente o saracoteio do rio, e mais de avalanche ou queimada. Daquelas imprevisíveis, que mudam ao sabor dos ventos.
Ah, os ventos… Dizem que são bons, mas enquanto sopram causam um verdadeiro furdunço, sacudindo a mata e vergando sua altivez. Faíscas abrem caminho para o fogo lamber a vegetação ressecada pela secura do ar e da terra, sem chuva há luas. Enlouquecida e esbaforida com o calor e a fumaça sufocante a bicharada procura abrigo.
É um pandemônio.
Natural, econômico e social. Porque uma coisa leva à outra, mesmo quando não dá pra saber o que é outra e o que é coisa, tal o emaranhado umbilical existente entre elas. A bicharada faz barulho, mas ninguém escuta. Então, ninguém se entende.
Com isso a produção florestal reduz drasticamente, categorias trabalhadoras como as formigas os burros que são de carga e acreditem, os camelos, são dispensados, na tentativa de reduzir custos e evitar maiores prejuízos nos balancetes da fauna e da flora.
Mas não adianta mais. Primeiro, as más notícias eram esporádicas. Depois, viraram costumeiras, antes de se tornarem diárias e, agora estarem distribuídas em períodos cada vez menores.
E haja coração para a fauna e ar fresco para a flora enquanto a governante-chefa, preocupada com sua imagem e cuidando da autoestima, faz regime para manter a forma e tentar segurar a cabeça coroada em meio a tantos percalços e atropelos. Boas medidas.
O “daqui não saio, daqui ninguém me tira” declarado a levou a negociar com os conselheiros de sempre, dessa vez sem apoio da clareira, das trilhas e de seus antigos aliados. Situação esperada, já que todos da floresta, animais, vegetais e minerais, sabem que tradicionalmente os ratos são os primeiros a abandonarem o navio.
Enquanto os arrasa-quarteirões incendiários iam aumentando, a Carboflora, aquela empresa que já foi o orgulho da floresta, anuncia a venda de 25% de seu distribuidor de Oxigênio, o maior patrimônio florestal.
Protestos houve, mas proporcionais aos gemidos e gritos provocados por outros dados e medidas anunciados. Como o desemprego 7,5 crescente, o anúncio de linhas de créditos para as montadoras de veículos florestais, o aumento dos impostos e a liberação de verbas para membros da corte geral revoltados, inclusive os novos(!)
As alamedas e clareiras da floresta têm sido palco de protestos: contra ou a favor. A favor mas contra a política econômica. Por reajustes, mais empregos, menos impostos.
Uns querem tirar, outros querem botar, o baixo conselho dá suas cartas, quem pode despacha o que pode para paraísos vizinhos mais amigáveis.
A floresta arde, queima, sufoca, se depura. O ciclo parabólico da natureza se repete. Como sempre, como se não fosse o mesmo. Como se depois, no meio da terra crestada não fosse germinar a semente, os animais não ressurgissem e a vida não seguisse em frente…