Em uma semana, dois tornados atingiram o Centro-Oeste do país, com ventos que provocaram um acidente que levou a mortes em Mato Grosso do Sul e assustaram moradores de Brasília. Apesar de raros no país, meteorologistas explicam que esse tipo de fenômeno é mais frequente do que as pessoas pensam, e que os estados que compõem o Centro-Sul do Brasil formam a segunda região do mundo que mais registra condições climáticas propícias para a formação deles.
Nesta quarta-feira (1º), um tornado foi registrado nas proximidades do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília, resultante de uma forte tempestade. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), foi a primeira vez que este fenômeno foi documentado e confirmado no Distrito Federal. No último dia 24, um barco-hotel afundou no Rio Paraguai com 26 pessoas a bordo ao ser atingido por outro redemoinho momentos antes de sua atracagem. Ao menos 11 pessoas morreram e há três desaparecidos.
De acordo com Ernani de Lima Nascimento, professor de meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (RS), a formação de tempestades intensas nesta época do ano no Centro-Sul do Brasil (que engloba o Sul, Sudeste e Centro-Oeste) pode culminar em tornados.Estamos saindo do período seco, e as primeiras tempestades estão surgindo. Não podemos dizer que é algo raro, explica Nascimento.
Brasil na rota
Ele cita um estudo publicado pelo americano Harold E. Brooks, do Laboratório Nacional de Tempestades Severas, ligado à Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês).De acordo com a pesquisa, depois dos Estados Unidos, a região Centro-Sul do Brasil é a segunda que mais registra condições favoráveis para a formação de tornados. São entre 15 e 20 dias ao longo de um ano.
Segundo a escala Fujita-Pearson o tornado tem sua intensidade medida entre F-0 e F-5, sendo a mais fraca com ventos entre 60 km/h e 117 km/h, e a mais forte com velocidade entre 420 km/h e 510 km/h o suficiente para arrastar tudo o que houver pela frente e considerado o tipo mais mortal.No Brasil, é comum o surgimento de tornados F-1, com ventos entre 117 km/h e 181 km/h. O de Brasília, desta quarta, pode ser considerado um exemplar deste tipo. Mas no país já ocorreram tornados do tipo F-3 (em Indaiatuba, em maio de 2005, e Taquarituba, em setembro de 2013). Segundo Nascimento, há suspeita de que um F-4, com velocidade entre 320 km/h e 420 km/h, tenha tocado o solo em Itu, no interior de São Paulo, em 1991.
Ingredientes
Para a formação de um fenômeno climático como esse, são necessários alguns ingredientes: atmosfera instável (quando qualquer movimento permite que o ar quente suba rapidamente), alto nível de umidade do ar e ventos intensos nos primeiros mil metros de altura. Esses três fatores, ao mesmo tempo, permitem a formação de um tornado.
Não há uma estimativa de quantos redemoinhos surgem ao longo de um ano, mas, segundo o especialista, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul são estados em que podem haver mais ocorrências muitas delas não percebidas pela população.O meteorologista afirma que novos tornados podem surgir no país até o início do outono, em março de 2015. "Durante a primavera e o verão, as tempestades ficam mais comuns. Nenhum estado está livre".
G1