Cuiabá é conhecida pelos traços da religiosidade, pela diversidade linguística, rica em festas populares, mergulhada no caos urbano, por outro, prenhe de poesia, com sua gente doce e resistente: de tudo isso escorre um mistério denso sobre a cidade que toca o coração de cada um. Completando sua beleza e fazendo parte do seu “lírico mistério”, está a topografia das casas comerciais, dos casarios antigos, das praças, dos bairros, as igrejas onde acontecem as festas, oportunizando duas perspectivas de contemplá-la e dela usufruir.
Os poetas Silva Freire, Ivens Cuiabano Scaff e Luciene Carvalho, realizaram em seus poemas a mais completa compilação sobre a memória de Cuiabá e, certamente, são os mais fiéis divulgadores. Em Trilogia Cuiabana (1991) Silva Freire imagina a cidade cheia de humanidade. Ao descrever as ruas, becos, encruzilhadas, insere a cidade na delicadeza de uma temporalidade cheia de significados. Cada experiência com o lugar vivido transforma-se em uma relação existencial entre o poeta e o lugar, em que tudo emana cores, cheiros e sons.
Ivens Cuiabano Scaff também em vários de seus poemas faz inúmeras declarações de amor à cidade. Em suas poesias Ivens Scaff nos convida a pensar nos lugares que produzimos em nossa relação cotidiana, em nossa percepção de mundo, em Cuiabá que está encarnada em nós, principalmente em sua mais bela poesia Kyvaverá.
Em Porto (2012) Luciene Carvalho relata o cotidiano do bairro. O mercado, a igreja de braços abertos para o cais, o rio. No caso do Porto, os poemas de Luciene Carvalho nos conduzem aos modos de vida das lavadeiras, das prostitutas, dos pescadores, dos ribeirinhos. Assim, para se ler Trilogia Cuiabana, Kyvaverá e Porto, há de se ter um olhar que seja capaz de ver através do lugar, a partir das histórias e memórias aí existentes, mas se permitindo emocionar, vivenciar, entender e sentir prazer com a leitura de nossos poetas e prosadores. Parabéns Cuiabá!.