Cidades

Cegos enfrentam desafios diários para conquistar independência

Com uma bengala e mãos ao vácuo, Marcino Benedito de Oliveira já conhece cada palmo do Icemat (Instituto dos Cegos de Mato Grosso) e tem orgulho de cada parede levantada no local. Marcino é presidente da instituição que abriga e ensina pessoas com deficiência visual há mais de três décadas, em Cuiabá. Criada em 1979, para ser uma espécie de ‘abrigo’, hoje já conta com vários professores, colaboradores e pessoas interessadas em ensinar ao próximo, que dão uma nova chance a pessoas com cegueira. Assim como ele, várias pessoas já conquistaram seus diplomas e puderam prestar concursos e ter uma vida independente.

A falta de um espaço especializado na capital de Mato Grosso, na época, obrigava os deficientes visuais a se deslocarem até Campo Grande (MS) ou outros estados para ter atendimento especializado. O fato fez despertar em Marcino a necessidade de criar uma instituição que apoiasse os cegos de Cuiabá e região.

Com um início modesto há mais de 35 anos, hoje o Icemat presta serviços gratuitos como assistência social, aula de informática, estimulação precoce, práticas educacionais para uma vida independente, psicomotricidade, orientação e mobilidade, Braille e técnica do uso do Soroban. Na área de ensino, os assistidos adquirem conhecimento para se desenvolver, aprendem a caminhar com segurança, a ter uma postura adequada, tem noções de cidadania etc.

De acordo com o fundador, dezenas de pessoas foram encaminhadas pelo Icemat para outras instituições esportivas e de ensino superior e muitas vidas já foram beneficiadas com este trabalho social. Sebastião da Silva, 30 anos, também nutre muito carinho e respeito pela associação. "Tive aula de estimulação precoce, alfabetização, Braille e Soroban. O Icemat me preparou para o mundo e é, para mim, como uma segunda casa. Hoje, trabalho aqui e faço de um tudo. Além de tocar na banda ‘Os Bengalas’", conta Sebastião. Ele e outros tocam na banda formada somente por cegos e com aulas regulares na instituição.

Desafios diários para os cegos cuiabanos

Com a missão de se tornarem independentes, os deficientes visuais e cegos enfrentam aventuras arriscadas para conquistar autonomia na capital mato-grossense. Com o caos urbano e calçadas intransponíveis, deficientes visuais enfrentam desafios diários para realizar tarefas simples como ir ao banco ou comprar qualquer mercadoria.

A professora Wana Carvalho, que dá aulas sobre orientação com bengala e noções de espaço e orientação, contou sobre as dificuldades de locomoção na capital de Mato Grosso. “O Centro da Cuiabá é o pior lugar para um cego andar. Aqui no Icemat, mudamos a rota de um aluno em mais dois ônibus, para evitar que ele passasse por lá”, revelou a professora.

Conforme Wana, bocas de lobo abertas, calçadas irregulares, telefones públicos mal posicionados são os principais fatores para tornar a tarefa de caminhar quase impossível. “Lá é um caos, se para as pessoas com visão já é difícil, para um cego é uma aventura arriscada. Em certos momentos precisamos ensinar ‘errado’, para eles caminharem pela rua e não em cima da calçada”, contou.

João Marcelo, de 28 anos, perdeu a visão há 5 anos em um acidente de trânsito e com pouco mais de um ano e meio já conseguiu se adaptar à nova condição. “Eu me considero alguém que fez uma mudança e logo buscou mecanismos para adaptação. Mas às vezes preciso sair do centro para ir aos bairros, onde é mais acessível resolver as coisas”, contou. Mas João não desanimou: "A cegueira não é o fim. Pode ser o início de muitas coisas boas. Precisamos pensar em políticas públicas que melhorem a vida e a adaptação das cidades para nós. Temos de cobrar que isso melhore, para que possamos de fato participar e ter nossa cidadania”, disse.

Outro lado

A prefeitura de Cuiabá, por meio do Departamento de Fiscalização, disse que as questões relacionadas às calçadas são de responsabilidade dos proprietários dos imóveis. De acordo com Aécio Pacheco, diretor da pasta, cerca de 300 fiscais autuam diariamente várias irregularidades pela capital. “Primeiro nossos fiscais notificam o proprietário da calçada, para providenciar a sua recuperação. Depois de um prazo, caso ele não cumpra a medida, nós lhe aplicamos uma multa de R$ 200 por metro linear de área a ser recuperada”, explicou Pacheco.

As maiores notificações da área central são relacionadas à retirada de rampas, que atrapalham a passagem dos pedestres, à recuperação de buracos que se formam ao longo do tempo e à retirada de pavimentos escorregadios.

Apoio necessário

A prefeitura de Cuiabá e a de Várzea Grande, além do Governo do Estado, são alguns dos apoiadores do Icemat. Os órgãos municipais cedem instrutores para atuar nas atividades de ensino da associação. “Novos apoios são bem-vindos, a instituição está montando uma quadra poliesportiva de goalball e futebol de cinco e precisa de doações de toda espécie”, disse o presidente da instituição. https://videospelautomater.com/casinospel/baccarat.html

Além da quadra, é preciso melhorar o aspecto físico do local: reformas nos tetos, pintura e melhoramento do refeitório. O local também carece de um miniauditório para reuniões maiores com todos os membros da instituição. Outra medida é a ampliação das salas de aulas, para comportar mais alunos.

Apoio para formatação de novos projetos e organização de ações eficazes que possam ajudar o Icemat também podem colaborar para a melhoria da instituição filantrópica. Empresários também podem ajudar a instituição com alimentos e material de construção. “Há ainda outras formas de contribuir e são todas bem-vindas”, disse Marcino. Quem estiver interessado em ajudar, pode entrar em contato direto com o Icemat, que fica na Rua 48, quadra 17, lote 01, bairro CPA 3 – setor 4, em Cuiabá Os contatos são: telefone (65) 3646-1400 ou pelo e-mail icematmt@ig.com.br

 

Ulisses Lalio

About Author

Você também pode se interessar

Cidades

Fifa confirma e Valcke não vem ao Brasil no dia 12

 Na visita, Valcke iria a três estádios da Copa: Arena Pernambuco, na segunda-feira, Estádio Nacional Mané Garrincha, na terça, e
Cidades

Brasileiros usam 15 bi de sacolas plásticas por ano

Dar uma destinação adequada a essas sacolas e incentivar o uso das chamadas ecobags tem sido prioridade em muitos países.