Mix diário

Casal preparava Donuts em casa, abriu rede de lojas e agora fatura R$ 4,8 milhões

Uma viagem ao Panamá apresentou os noivos Isadora Negrão, de 21 anos, e Gabriel Lopes, de 25, aos donuts, em 2019. Meses depois, eles não encontraram o doce em Bauru (SP) e decidiram produzir algumas unidades para matar a vontade e vender para amigos.

Após uma pausa no início da pandemia, eles criaram a Bem Querer Donuts, que escalou rapidamente com retiradas e delivery. A primeira loja física foi inaugurada em 2021 e, neste ano, eles chegaram a 23 unidades em operação, com ajuda do franchising.

Provaram donuts no aeroporto após voo atrasar

Empreender aos 15 anos não estava nos planos de Isadora. Em 2019, ela estava no segundo ano do ensino médio e não sabia com o que queria trabalhar. Já Gabriel, aos 20 anos, fazia faculdade de Fisioterapia e servia ao Exército.

Os dois, que estão juntos desde 2018, foram para a Cidade do Panamá participar da Jornada Mundial da Juventude, evento que reúne jovens católicos de diversas partes do mundo. Na hora de voltar ao Brasil, o voo atrasou e o casal ganhou um voucher da companhia aérea para se alimentar.

A escolha deles foi um doce da Dunkin Donuts, franquia especializada na produção de donuts. A experiência foi ótima e, oito meses depois, Isadora quis comer o bolinho frito novamente, mas não o encontrou em Bauru, cidade do interior de São Paulo, onde ela e Gabriel moram.

Eles decidiram produzir algumas unidades na cozinha do apartamento de Isadora, para matar a vontade e testar se seria possível vender para amigos e familiares. O investimento foi de R$ 273.

“Procuramos na internet a receita para ver se dava certo. Os primeiros levamos para pessoas próximas experimentarem e elas incentivaram a venda, então, já criamos um perfil no Instagram e lançamos a Bem Querer Donuts”, conta Isadora.

Virada de chave veio com entregas durante a pandemia

Os donuts eram vendidos na escola de Isadora, na faculdade de Gabriel e no trabalho da mãe dele, mas o casal também fazia entregas em Bauru. O número de pedidos era baixo e, com a chegada da pandemia, eles suspenderam a produção.

Contudo, o casal começou a receber mensagens de pessoas interessadas em comprar os donuts para consumir em casa e decidiram retomar o negócio. Em seis meses, o aumento da demanda foi tão grande que eles precisavam de 12 entregadores por dia para atender a todos os pedidos.

Sem dinheiro para investir em uma loja física, eles apostaram em carrinhos para ir a eventos e feiras livres. “O nosso foco era o delivery, mas sabíamos que era importante ter uma forma de ir até o cliente”, explica.

Primeira loja foi inaugurada em 2021

Apesar de ter sido adiado, o sonho da loja física foi realizado em 2021. Eles tinham dois objetivos: oferecer um espaço para consumo e facilitar as retiradas, já que a cozinha de produção de donuts ficava longe da região central de Bauru.

O local escolhido foi o Bauru Shopping. “A demanda era alta e a gente queria expandir, mas, honestamente, não tivemos estratégia. Acreditamos que era o melhor caminho e seguimos”, conta Isadora.

O casal não pensava em transformar a Bem Querer Donuts em uma rede de franquias, mas, após algumas propostas, começaram a estudar a ideia. Primeiro, eles optaram por abrir a segunda unidade e, depois, passaram mais de um ano desenvolvendo o projeto de franchising – com ajuda de uma consultoria.

A primeira franquia foi inaugurada em 2023. Em 2024, a Bem Querer Donuts chegou a 23 unidades em Goiás, Minas Gerais, Paraná e São Paulo. A primeira loja da capital paulista foi inaugurada neste mês, no Tatuapé, na zona leste.

Isadora conta que o maior desafio da expansão foi lidar com franqueados, porque ela não sabia como gerenciar palpites e opiniões divergentes. Para lidar com as demandas de um negócio no começo da vida adulta, ela decidiu estudar e ouvir quem tinha mais experiência.

“É claro que a gente aprende muito na prática, mas é importante buscar conhecimento e pessoas que já passaram por isso. Ter uma equipe boa por trás também é fundamental, porque eu posso delegar tarefas, com a confiança de que tem pessoas capacitadas para me dar esse suporte”, diz.

Avaliação dos clientes

É possível ser ‘dono’ de uma lotérica? Saiba como isso é feito e quanto custa
A Bem Querer Donuts tem uma nota de 4,4 de 5 estrelas em avaliações do Google. Os elogios abordam o sabor agradável dos doces e a decoração das lojas, mas as críticas são direcionadas a problemas no atendimento, demora na entrega dos produtos e quantidade de recheio.

Já no Reclame Aqui, a marca tem 11 reclamações registradas, sobre problemas no atendimento e quantidade de recheio, o que não é suficiente para calcular uma nota de reputação.

Isadora afirma que os franqueados recebem a massa e o recheio prontos e são responsáveis pela montagem. Para garantir que os donuts estejam dentro do padrão da franquia, eles fazem auditorias mensais e treinamentos, além de investirem em clientes ocultos para avaliar o atendimento das lojas.

Meta para 2025 é chegar a 50 lojas

A Bem Querer produz em média cinco mil donuts por dia. Apesar dos pontos físicos, o delivery ainda é responsável por 40% do faturamento da rede. Com royalties, taxa de publicidade, taxa de franquia e venda de produtos para os franqueados, Isadora e Gabriel faturaram R$ 4,8 milhões em 2023.

O sabor mais popular é o Kinder Bueno, recheado com creme de avelã e brigadeiro de leite em pó, com valor que varia de R$ 17,99 a R$ 23,99, a depender do tamanho. Além dos doces, o casal também passou a vender milkshakes e donuts salgados, como parte do processo de ampliação do cardápio.

“A gente nunca tinha pensado em um donuts de queijo, por exemplo, mas as pessoas começaram a perguntar e decidimos testar para aumentar as opções. O nosso foco agora é ir além dos donuts, mas trazer produtos que combinem com eles”, explica Isadora.

Além de mudanças no cardápio, o principal objetivo do casal para 2025 é chegar a 50 unidades e acompanhar de perto as franquias, para melhorar o desempenho.

Veja os dados da franquia da Bem Querer Donuts:

– Investimento inicial: a partir de R$ 250 mil para o quiosque e a partir de R$ 300 mil para as lojas de rua ou shopping

– Faturamento médio mensal: R$ 60 mil para o quiosque; R$ 80 mil para a loja de rua e R$ 100 mil para a loja de shopping

– Lucro médio mensal: de 14% a 18% do faturamento

– Prazo de retorno: de 18 a 24 meses

– Prazo de contrato: 5 anos

– Royalties/mês: 5% do faturamento

– Número de unidades em operação: 23

Ser cliente do seu negócio é essencial no empreendedorismo

A analista de negócios do Sebrae-SP Rafaela Brugnatti avalia que o ponto forte da Bem Querer Donuts é que Isadora e Gabriel são clientes da sua própria empresa, o que é essencial para ser bem sucedido.

“O dono precisa olhar para o negócio e pensar como o consumidor. Entender o que ele gostaria ou não de encontrar nos produtos e nos atendimentos, para oferecer essa experiência ao seu cliente”, explica.

Por outro lado, empreender com foco em apenas um produto – no caso, os donuts – traz riscos a longo prazo, já que a concorrência tem a chance de se especializar na mesma área rapidamente. A solução, de acordo com a especialista, é estudar o mercado e entender quais itens podem ser agregados para harmonizarem com o carro-chefe do negócio.

Como empreender com doces?

O mercado de doces, bolos e confeitarias é uma das principais portas de entrada para o empreendedorismo: só no primeiros quatro meses de 2024 foram abertas mais de cinco mil micro e pequenas empresas e Microempreendedores Individuais (MEIs) ligados ao setor no Estado de São Paulo, segundo dados divulgados pelo Sebrae-SP. O número representa um aumento de 14% em comparação com o mesmo período de 2023.

Justamente por isso, a concorrência é acirrada. Para se destacar, Rafaela aponta que o empreendedor precisa estudar as tendências, já que o segmento é volátil. O ideal é inovar nos sabores, apresentações e experiências oferecidas ao cliente.

Para encontrar as novidades, existem diversos caminhos. As feiras de confeitaria e panificação ajudam não só a buscar inspirações, mas também a desenvolver o networking. Já nas redes sociais, além de procurar referências, também é possível investir na produção de conteúdos com os produtos para atrair novos consumidores.

“A parte mais importante é pesquisar o mercado, fazer testes e inovar. Às vezes, o empreendedor pode testar 90 opções e as pessoas só vão gostar de 20, mas o que vale é ver na prática o que funciona para o seu público”, avalia.

Outro cuidado necessário é adaptar o cardápio à temperatura do local onde o negócio está instalado. Nas áreas mais quentes, os pratos mais frios e menos calóricos costumam ser mais procurados e, nas regiões mais frias, o oposto acontece.

Estadão Conteudo

About Author

Você também pode se interessar

Mix diário

Brasil defende reforma da OMC e apoia sistema multilateral justo e eficaz, diz Alckmin

O Brasil voltou a defender a reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC) em um fórum internacional. Desta vez, o
Mix diário

Inflação global continua a cair, mas ainda precisa atingir meta, diz diretora-gerente do FMI

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva disse que a inflação global continua a cair, mas que deve