Depois de superar uma dívida de R$ 5 milhões, o chinês Jin Li, de 26 anos, conhecido nas redes sociais como Paulo Chaina, sentiu que precisava dar um novo impulso à PLB, importadora localizada há 18 anos na Rua 25 de Março, região central de São Paulo.
Inspirado nos vídeos a que assistia no YouTube, ele começou a publicar conteúdos engraçados nas redes sociais sobre os produtos que vendia. Para se diferenciar, decidiu brincar com estereótipos associados a asiáticos, ao lado da esposa, Feiping Lin, de 28, apelidada de Lulu. Eles viralizaram, impulsionaram as vendas e se transformaram em influenciadores digitais.
Chaina e Lulu nasceram na China e estão juntos há sete anos. Ele veio para o Brasil em 2011, para encontrar o pai, que tinha uma importadora na Rua 25 de Março.
O pai de Chaina tinha um sócio, mas a sociedade foi desfeita após desentendimentos. Com o fim da sociedade, os gastos cresceram e as receitas caíram. O resultado foi uma dívida que chegou a R$ 5 milhões em 2017. Chaina, na época aos 19 anos, assumiu a empresa.
O chinês conseguiu organizar as contas, mas sentia falta de algo para impulsionar as vendas. No fim de 2022, ele decidiu fazer vídeos com produtos da PLB para as redes sociais. A inspiração para a mudança veio de um hobby da adolescência. “Quando cheguei ao Brasil, eu assistia a muitos vídeos do (fisiculturista) Léo Stronda no YouTube e queria ser igual a ele, mas achava que não conseguiria fazer nada parecido. Não queria abrir mais lojas, mas precisava expandir, então pensei em fazer conteúdos para a internet com os itens que eu vendia.”
O primeiro passo foi contratar uma equipe para ajudar no desenvolvimento das ideias e na produção dos conteúdos. “Eu gostava de aparecer nas câmeras, mas precisava de alguém para ajudar com a parte criativa. Tem pontos que acho engraçado por ser estrangeiro, mas o brasileiro pode não gostar, precisava desse equilíbrio entre culturas”, diz Chaina.
‘Mais barato, só na China’
Os principais produtos comercializados pela PLB são artigos religiosos, acessórios femininos e bijuterias importados da China, como alianças, que custam em média de R$ 1 a R$ 2 cada unidade e são vendidas em kits com 36 itens. Nos vídeos, as peças ganham destaque pelo preço baixo e variedade de modelos. As brincadeiras também envolvem futebol e estereótipos de asiáticos e brasileiros, como o jeito de falar, além do slogan “Mais barato, só se for na China”.
Nas imagens, Chaina brinca que o custo das alianças vendidas pela importadora “é tão baixo que os casais podem terminar sempre que quiserem”.
Lucas Sousa, diretor de marketing da PLB, afirma que os comentários dos seguidores servem como fonte de sugestões, mas também como um termômetro de o que funciona ou não. “Decidimos brincar com os estereótipos porque todo mundo que assistia fazia essas brincadeiras. Em vez de ver como uma ofensa, usamos ao nosso favor. Mas sempre com respeito, sem atacar ninguém.”
O sucesso da PLB nas redes sociais atingiu o objetivo de Chaina, que era atrair novos clientes. Sousa não revela o faturamento, mas afirma que as vendas cresceram 30% depois dos vídeos. Eles reformularam o site para atender às demandas do varejo, que antes eram quase nulas, mas atualmente respondem por 15% das vendas.
“Algumas pessoas seguem só pelo entretenimento, outras vêm até a loja só para tirar foto com a Lulu, mas também tem uma parcela grande interessada em conhecer e comprar mercadoria”, diz Sousa.
Para o ano que vem, a grande mudança será o endereço: a importadora deixará a Rua 25 de Março e irá para o bairro do Brás (também na região central da capital). Além de mais espaçosa, a nova localização foi pensada para facilitar a entrega das compras online. “Os Correios não vêm até a loja, por conta do fluxo de pessoas na via, o que gera desgaste maior para despachar pedidos. No Brás, esse problema deixa de existir”, informa o diretor.
Expansão
Sousa afirma que o maior desafio da empresa é atender a alta demanda sem gerar frustrações. O número de funcionários saltou de seis para 45, mas o diretor de marketing aponta que os novos contratados precisam de tempo para se adaptar ao ritmo acelerado. “As empresas contratam para crescer, mas, no caso da PBL, ela cresce e precisa contratar, porque o crescimento é muito rápido. Fizemos uma promoção de Black Friday, mas tivemos de pausar o tráfego pago e encerrar antes, porque os pedidos diários subiram de 60 para 150. Tem de dar um passo para trás para garantir a melhor experiência para o cliente”, comenta.
O consultor de negócios do Sebrae-SP Alfredo Firmino afirma que estar presente nas redes sociais é essencial para qualquer negócio, independentemente do setor. A interação é importante não só para manter o relacionamento com clientes antigos, mas também para conquistar novos consumidores. “A concorrência, em todas as áreas, é mais acirrada a cada dia. A indicação boca a boca nunca vai deixar de existir, mas o alcance é pequeno. Se você tem uma presença digital consolidada, é mais fácil se destacar e chamar a atenção.”
Firmino aponta que ser o rosto do seu negócio, como Chaina e Lulu, é a melhor estratégia para humanizar o perfil e se aproximar dos seguidores. Contudo, ele alerta que é importante ter cuidado com o tipo de conteúdo produzido e que o humor, apesar de popular entre os internautas, pode não ser a melhor opção para todo mundo. “Fazer humor não é fácil.”
Mantra
Segundo o especialista, a expressão “futebol, política e religião não se discutem” deve ser o mantra das empresas nas redes sociais. Para ele, temas sensíveis podem deixar os clientes desconfortáveis e afastar possíveis compradores.
A melhor rede social depende do público-alvo do seu negócio, mas há duas plataformas importantes para qualquer empresa: o Perfil da Empresa, ferramenta do Google que permite cadastrar informações sobre o empreendimento na Busca e no Maps, e o WhatsApp Business, versão profissional da rede social mais popular do Brasil.
Além disso, Instagram, Facebook e TikTok funcionam como um auxiliar de compras, especialmente para quem quer vender para os jovens. Uma pesquisa do Conselho Internacional de Shopping Centers (ICSC, na sigla em inglês), realizada em 2023, mostrou que 85% das pessoas de 16 a 26 anos fazem compras influenciadas por redes sociais.