Opinião

Carta Aberta à Classe Cultural e Política de MT

 Ano que vem no dia 14 de Outubro, completa 30 anos que voltei pra Mato Grosso e respectivamente completo 30 anos de trabalho cultural no Estado. Estou publicando este texto neste ano pra não ser entendido como politicagem no ano que vem.
 
Durante esses 29 anos vi muito pouco ou nenhuma autoridade política maior ter consciência e vontade política para com a nossa cultura, visto que tudo que conseguimos até agora foi com briga, desgastes, ameaças etc. Conto no dedo as autoridade que se conscientizou de algo que nos favorecesse e empenhou na sua realização. Pelo contrário, só aparece mais político especulador analfabeto cultural querendo destruir o que conquistamos a duras penas até agora.
 
Dinheiro de cachês de cultura nunca enriqueceu ninguém e nem vai enriquecer. Só conheço quatro coisas que enriquece rapidamente pessoas neste país: A “indústria da carreira política” (obviamente armado com corrupção), tráfico de droga, assalto de banco e prêmio de loteria. O resto é conversinha de boteco.
 
Vivemos num país que ainda vê a cultura brasileira com a visão do Tratado de Tordesilhas de 500 anos atrás, basta saber hoje quais as regiões que vai participar da abertura da Copa 2014 e saberá que já estão fechados com Rio de Janeiro, São Paulo e Nordeste. As outras regiões nem é citado, é como não existisse como na época do Tratado.
 
O retrocesso que a classe cultural sofreu após a entrada do secretário de Estado Paulo Pitaluga, o qual rebaixou os recursos do Conselho Estadual pra menos de 50% do total em detrimento aos interesses da politicagem do governo e cargos comissionados, limitou para 80 mil o valor maior dos projetos de extrema relevância que antes era de 150 mil, deixando todos enviáveis (alguns desapareceram como Literamerica, Festa Internacional do Pantanal etc.), sem contar que durante esses cinco anos a inflação e desvalorização desses recursos com acréscimo do preço de materiais de trabalho e cachês de artista (obviamente eles alinharam os seus preços, de acordo com a inflação anual), confinou a classe artística cultural a “fila da miséria”. Enquanto que no estado do Rio de Janeiro o governo aumentou no mês passado de 0,38 % para 1% do ISS destinado pra cultura.
 
Não nego que houve no governo Blairo Maggi um grande “boom” da cultura, foram quatro anos que seu ex-secretario João Carlos Vicente Ferreira, fez brilhar Mato Grosso e Cuiabá. Pode se contar desde o nascimento da Orquestra de Mato Grosso, a Big Band, Literamerica, restauração da Igreja do Rosário, Ponte do Coxipó, e outros tantos patrimônio histórico, até a “desencravada” situação do restauro do Cine Teatro.
 
Mas com entrada do governador Silval Barbosa em 2010, o retrocesso piorou ainda mais. O pagamento dos recursos do PROAC -2012 estão atrasados até hoje, a Secretaria de Estado de Cultura virou um “entra e sai de secretários”, demonstrado o descaso e o desinteresse do próprio governo e ainda apareceu no ano passado o deputado Romualdo Junior do próprio governo querendo acabar com o órgão. Eu sei que muitos parlamentares não são originários do Estado e, também eles não têm culpa de nascer em região que não desenvolveu uma cultura própria, obviamente o coração não bate igual ao nosso, por isso há necessidade deles ouvir a classe cultural antes de começar qualquer ação, e não achar que o que é bom pra eles é bom pra nós.
 
Já vai pra mais de três anos que Cuiabá foi agraciado para ser a cidade representante regional do Centro-Oeste junto ao MINC, e pra desgraça nossa isso depende de auxílio dos parlamentares federais do Estado (senadores e deputados federais). Até agora a politicagem enrolou e não saiu do papel, sendo que dos parlamentares que estão conscientes disso há mais mato-grossenses nato que de outros estados. Nota-se que eu não estou criando picuinha regional, por que eu acho que é obrigação deles todos resolverem isso, foram eleitos pra isso. Estou dizendo isso hoje, mas pode ser que o prazo de posse já deve ter se expirado com a entrada da nova gestão.
 
Foi notável que ganhamos o direito a Copa de 2014, de Campo Grande, a causa foi o nosso brilho e autêncidade cultural e não outros motivos. Faltando menos de dois anos e o que se vê é esse quadro de desrespeito com os artistas, querendo que faça milagre com a “quirera” do recurso de orçamento para o PROAC 2013. Qual secretário quer trabalhar desse jeito? Qual Conselho? Pra ficar mal falado e passar raiva o ano todo? O que se diz no nosso meio é que agem assim pra denegrir os nossos trabalhos pra dar motivo pra “promoteres especuladores” trazerem artista de fora como fazem as prefeituras do interior em época de Carnaval e eventos de grande porte do município.
 
Somos muito mal pago pelos nossos trabalhos pra dar esse brilho que acontece com as apresentações artísticas, nas rodas de siriri, e outras performances que acontecem nas aberturas e celebração pra autoridade que visitam nosso Estado e que no ano que vem será mais intenso. Enquanto que a vida que levamos sem nenhuma salvaguarda para a velhice é uma maldição que não desejo pra ninguém. Sem casa pra morar, sem assistência de saúde e às vezes até passando necessidades básicas, enquanto que os parlamentares ganham durante sua gestão a verba indenizatória, uma fortuna que alimenta e promove diretamente a corrida para a “indústria da carreira política”.
 
Após esses 29 anos de trabalho fazendo pesquisas, composições musicas para cinema, teatro, orquestra, cantores populares, livros, e representações do Estado ao vivo em diversas regiões do país e no exterior… estou cansado e doente de ver as autoridades política me tratar como se estivesse fazendo favor e achar que o trabalho dele é melhor do que o meu e ainda querer respeito, desrespeitado a minha classe.Outrossim a descriminação das Rádios locais com a nossa música em detrimento aos lixos vindo do eixo Rio/São Paulo.
 
Essas palavras minhas são também motivadas pela maioria da classe artística cultural que não tem acesso à imprensa e estão indignados com a situação. Não estou pleiteando cargo público e, nem pretendo me candidatar, sempre conheci meus limites. Como eu não tenho medo de dizer o que sinto e sei que nem o que vem de baixo ou de cima não me atinge, se vier não vai me matar, e nem me deixará pior do que já está.
 

Autor: Milton Pereira de Pinho-
 
Milton Pereira de Pinho Guapo é Cantor/Compositor/Pesquisador e Escritor da Cultura Musical Mato-grossense

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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