O Brasil chegou atrasado ao saque que a humanidade fez à natureza. Só por isso – por ter chegado depois, não por ser bonzinho – não participou do butim, que foi dividido entre as nações desenvolvidas.
Esta vantagem temporal deu aos países europeus e asiáticos, depois aos Estados Unidos, a possibilidade de usarem suas terras sem qualquer controle. Naquele momento, como ninguém se preocupava com a preservação da natureza e nem sabia da importância dela, puderam expandir cidades, extinguir florestas, canalizar rios, drenar várzeas, fazer estradas e agricultar, sem restrições, toda e qualquer área apta à produção de alimentos e fibras e emitir CO2 à vontade.
A chamada consciência ecológica não é um valor universal nem atemporal. Povos diversos em variadas épocas, lidaram de forma diferente com a natureza. Mas hoje, como confirma a Cúpula do Clima, há uma convergência dos países ricos no sentido de proteger o planeta do aquecimento global.
E eles decidiram que o Brasil precisa participar dessa tarefa, se quiser continuar a vender seus abundantes produtos agrícolas no mercado mundial.
A contribuição nossa, e isso me parece uma boa ideia, seria a preservação das matas, principalmente as da região Amazônica. Mas temos um problema: manter as florestas de pé custa caro e nossos recursos são escassos.
Sobre este custo preservacionista, já fui mais radical. Opinei, aqui mesmo neste espaço, mais de uma vez nos últimos anos, que deveríamos exigir dos povos ricos o pagamento pelo nosso esforço de não jogar na atmosfera o CO2 armazenado nas árvores, porque o não uso das terras ocupadas pelas matas é um grande fardo para o povo e para os agricultores brasileiros.
Já escrevi também que americanos, europeus e asiáticos só poderiam cobrar de nós a preservação florestal a partir do momento que tivessem, como o Brasil, mais de 65% de matas preservadas.
Hoje, entendo que eles nunca se preocuparão com isso, porque têm uma arma muito mais poderosa, cômoda e eficiente para nos pressionar, que é o poder de compra, em grande quantidade, das carnes, dos grãos e das fibras que produzimos muito melhor que eles.
Assim, o pragmatismo nos ensina que a política do confronto, adotada pelo governo federal, certamente tem efeito contrário ao desejado.
Governadores brasileiros já entenderam isso e enviaram uma carta ao Biden comprometendo-se com iniciativas que mitiguem o aquecimento da terra. Até o Presidente, a julgar por seu discurso na Cúpula, entendeu que a ideia de preservar não tem volta.
Há uma chance real de buscarmos a parte que nos toca daquele saque que, no passado, fizeram à natureza, que é um bem coletivo. O avanço do financiamento verde Europeu e Americano, aliado à abundância do dinheiro Chinês buscando a segurança alimentar, indicam que nossa hora está chegando.
Mas, não convém sair da desastrosa arrogância estimulada pelo Trump, para o vil servilismo, defendido pelos ambientalistas. O ideal é aprendermos a usar as armas certas na mesa das negociações.
Nosso trunfo é a floresta Amazônica, que aprisiona em suas árvores, bilhões de toneladas de CO2. O mundo quer nossa vigilância para que este gás não escape e ajude a aquecer a terra. Podemos fazer isso, mas precisamos receber o justo valor por esse custoso serviço de carcereiro.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor