Nascidos a partir de 1994, os jovens da geração "Z" que entram agora no mercado são bem preparados e aprendem rápido, mas têm dificuldades para se relacionar no mundo "real" – longe de aplicativos de mensagem e redes sociais.
"A comunicação é a maior deficiência dessa geração, e isso se manifesta na hora de trabalhar em equipe", diz Bete Adami, especialista em gestão de pessoas e professora da PUC-SP.
É justamente essa habilidade que eles devem demonstrar em um processo seletivo de trainee -que pode chegar a 1.400 candidatos por vaga, como o da Ambev em 2016.
Sai na frente quem acumular experiências de vida e mostrar habilidades que o curso superior não desenvolve, como iniciativa, expressão verbal e liderança.
Para isso, vale abraçar uma causa, fazer trabalho voluntário, ter projetos extracurriculares, participar de empresas juniores, competições esportivas e até bandas.
"Queremos profissionais que tenham história para contar, que criem projetos pessoais. Não nos interessamos por aqueles que passam pela faculdade sem aproveitar oportunidades para explorar novos interesses", diz Vanessa Lobato, vice-presidente de RH do banco Santander.
O administrador Pedro Agra, 23, acredita que suas atividades extracurriculares o ajudarão a conquistar uma vaga no trainee da Ambev.
Além de ser baterista e falar inglês e espanhol, durante a faculdade ele participou de um centro de estudos de finanças e de um projeto que trazia líderes empresariais para debater economia.
"Acho que esses diferenciais me ajudaram a conseguir um estágio e serão muito úteis para brigar pela vaga de trainee neste ano", diz.
Antes de disparar currículos, é preciso investigar as empresas e buscar informações além dos canais oficiais, como redes sociais.
A designer Elissa Suzuki, 22, virou trainee do banco Santander após se inscrever em dez processos seletivos e se classificar em quatro.
"Lia muitas revistas de negócios e sites especializados em programas do tipo. Buscava as perguntas mais comuns nas entrevistas, redigia respostas para ver onde podia melhorar e fazia tabelas com as datas de inscrição, para não me perder", diz.
O candidato também deve visitar sites de avaliação nos quais funcionários dão opiniões anônimas e falar com colegas e professores para ter uma visão menos idealizada da empresa dos sonhos.
Para Leonardo Berto, da consultoria de RH Robert Half, conhecer a organização ajuda o candidato a selecionar empresas que tenham o seu perfil, o que faz diferença na hora da contratação.
"Um jovem introspectivo e analítico, por exemplo, dificilmente vai despertar o interesse do recrutador de uma empresa mais agressiva", diz.
DESCANSO
Participar de um processo seletivo de trainee pode ser tão desgastante quanto o período pré-vestibular: há provas, dinâmicas e entrevistas.
O ideal é não se inscrever em mais de dez seleções, recomenda Cecília Noronha, coordenadora do centro de carreiras da FGV (Fundação Getulio Vargas).
"O jovem em geral concilia o fim da faculdade, o estágio e outras atividades com as provas. Se ele atira para todos os lados, fica difícil se dedicar ao que interessa", diz.
Além disso, vale investir em atividades de lazer que ajudem a controlar o estresse natural do período.
Suzuki, trainee do Santander, andava de skate para relaxar. "Se há uma hora para não deixar os hobbies de lado, é essa. Fica difícil se manter equilibrado se não há espaço para descansar direito."
E, se a sonhada aprovação não chegar neste ano, é hora de aproveitar o momento para avaliar o que deu errado e mudar o plano para 2018.
"Errar faz parte, e quem aprende a se recuperar com mais rapidez vai responder melhor às pressões e desafios do trabalho no futuro", afirma Maurício Nagy, da consultoria de RH Korn Ferry.