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Campos Neto reconhece que decisão dividida do Copom em maio arranhou credibilidade

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu que a decisão dividida do Comitê de Política Monetária (Copom) no mês de maio – que opôs diretores indicados pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e aqueles que já estavam na autoridade monetária sobre o ritmo de corte de juros – provocou uma cicatriz na credibilidade da autoridade monetária. Ele falava justamente sobre a credibilidade de políticas monetária e fiscal quando fez o mea culpa. Campos Neto participou de uma reunião com investidores organizada pelo Deutsche Bank, em Londres.

“Quando olhamos para as decisões que o Banco Central tomou ultimamente, eu entendo a decisão tomada em maio criou uma cicatriz em termos de credibilidade. Quando você olha para o que temos feito ultimamente, tudo tem sido com um grande grau de consenso, a comunicação tem sido basicamente a mesma com todos os diretores. Minha percepção é que do lado do Banco Central pode haver algum problema de credibilidade, mas tentamos resolver isso”, defendeu o presidente do BC.

Na avaliação de Campos Neto então, a desancoragem das expectativas no Brasil nesse momento ainda é mais influenciada pelo aspecto fiscal. “Não tenho evidências empíricas disso, mas essa é a sensação que tenho dos preços de mercado para a reação, que vimos na parte posterior dessa desancoragem, acho que está muito mais associado ao fiscal”, disse.

Últimos números de inflação no Brasil mistos

O presidente do Banco Centra disse também que os últimos números de inflação do Brasil trouxeram mensagens distintas. Em duas ocasiões, os núcleos de inflação tiveram leituras melhores. No último IPCA-15, houve uma piora disseminada mas marginal da inflação subjacente.

“No Brasil, a inflação entrou em uma fase de convergência, mas claramente estacionou em algum momento”, comentou Campos Neto. “Estávamos em um processo de convergência, aí precisamos ajustar o ritmo de cortes porque estávamos vendo uma pressão vindo, e as pressões vieram maiores e mais rápido o que o esperado.”

O banqueiro central citou as surpresas positivas repetidas no ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), além de “alguma pressão” no mercado de trabalho, com o desemprego caindo a nível muito baixo, apesar de alguns sinais distintos na margem.

Campos Neto destacou, ainda, o aumento das projeções de inflação do BC e das inflações implícitas. Por tudo isso, houve a opção de tornar o balanço de riscos assimétrico e revisar o hiato do produto para o campo positivo, disse.

Falando sobre a inflação, o presidente do BC destacou que o aumento quase exponencial dos eventos climáticos – que se manifesta ainda mais em países produtores de alimentos – indica um risco para os preços no longo prazo.

Aprofundamento do mercado de juros e poder da política monetária

Campos Neto disse ainda que o Brasil tem passado por um processo de “aprofundamento” do mercado de renda fixa, que tende a resultar em um aumento do poder da política monetária. Ele destacou, no entanto, que é difícil estimar o efeito líquido desse processo, quando se leva em conta o crescimento do crédito direcionado.

“O mercado olha muito para o que é o crédito subsidiado e qual seria o seu impacto no juro real neutro, mas também acho que há um aprofundamento do mercado”, afirmou Campos Neto.

O banqueiro central ponderou que as emissões do mercado de renda fixa cresceram e que mesmo instrumentos isentos de impostos, como LCAs e LCIs, têm essa característica levada em conta nos preços. “Você tem um ajuste inicial porque é livre de impostos, mas não é como se isso não fosse influenciado pela política monetária”, ele afirmou.

Estadão Conteudo

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