Há doenças que dão e passam, outras após um período agudo podem ficar crônicas e algumas saram, mas deixam sequelas.
O Brasil nos últimos anos pegou duas sérias doenças políticas: a primeira, depois de um período em que parecia ter sumido, reapareceu. Trata-se da esquerda que voltou revitalizada.
A outra só aconteceu por culpa da primeira, pois foi esta que deu condições para o seu aparecimento: é a extrema-direita. Ou seja, os abusos da esquerda foram decisivos para criar um clima favorável para a direita, mas a extrema-direita ocupou seu lugar.
Ambas as doenças se nutrem de notícias falsas, alimentando e retroalimentando as chamadas câmaras de eco, onde são potencializadas. Câmara de eco na física é o ambiente fechado onde o som produzido é ouvido repetidamente, fazendo o ruído original parecer mais potente do que de fato é.
Metaforicamente, mídias sociais e WhatsApp são câmaras onde as ideias circulam somente entre os participantes e a cada interação ficam mais fortes. Ali não há espaço para discórdias, pois todos buscam somente o viés de confirmação, reforçando o pensamento dominante do grupo.
Assim, cada grupo, vivendo em seus universos paralelos, tal qual uma seita fanática, acabam pensando da mesma forma e acreditando que os demais creem nos mesmos valores e que o pensamento que desenvolvem é o único possível na sociedade.
No caso do Brasil temos um agravante, pois os dois grupos são mais ou menos numericamente equivalentes e criaram uma ojeriza recíproca, ou mais que isso, estimularam um ódio inadministrável.
Não são como o PSDB ou o PMDB, por exemplo, que eventualmente podem até se unirem em favor de um bem comum. Os afilhados dos extremados PT e PL – os dois partidos com mais representantes no Congresso Nacional – são inimigos declarados, sem chance de convívio social.
Esses universos paralelos, além de privar as pessoas da renovação do pensamento que acontece quando os indivíduos são expostos a novas ideias, favorecem a divulgação das fakes News muitas incentivando a violência.
São tantas formas de lavagem cerebral que algumas pessoas se inclinam a acreditar em baboseiras absolutamente ridículas.
O grande mal é que passam a se alimentar politicamente somente nas suas câmaras de eco, terminando por ignorar e repudiar toda a imprensa tradicional. Os próprios grupos doutrinam os participantes a rejeitarem jornais, revistas, rádios e televisão, atribuindo-lhes a pecha de comprados, comunistas, tendenciosos, etc.
Os dois universos paralelos (extremas direita e esquerda) comungam a ideia de combater a grande imprensa. O Lula, por exemplo, por muitos anos atribuiu ao principal canal televisivo do país sua derrota para o Collor em 1989. O Bolsonaro até hoje ataca a mesma rede de televisão que o Lula desancava e o maior jornal do País como sendo seus principais inimigos.
As doenças acima citadas um dia vão passar, mas uma sequela já ficou. O ato de informar-se seguramente através da imprensa profissional, principalmente de jornais -digitais ou impressos – já está comprometido.
Renato de Paiva Pereira
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