Cidades

Calouro alvo de trote pode ficar cego de um olho

Uma notícia lamentável se repete a cada ano: a selvageria dos trotes nas universidades.

Carla, 18 anos, caloura de Ciências Biológicas, é uma das vítimas do ácido.

Carla Crivellaro, vítima de trote: Jogaram, acho que de cima para baixo. Aí foi escorrendo até o fim da perna.

Fantástico: Doeu muito no dia?
Carla: Ardeu bastante.
Caio também tem 18 anos. É calouro da turma de Engenharia Ambiental.
Caio Eduardo Igino, vítima do trote: Meu olho começou a doer bastante. Praticamente eu não vejo.
Fantástico: Não vê?
Caio: Não, tipo, é tudo embaçado. Não dá para decifrar o que é, o que não é.

Era começo da noite de segunda-feira (2). Imagens exclusivas, de uma câmera de segurança, mostra a chegada dos estudantes para o primeiro dia de aulas na FAI, Faculdades Adamantinenses Integradas, uma universidade particular com 4,5 mil alunos. Ela fica na cidade de Adamantina, a quase 600 quilômetros da capital paulista.

O trote aconteceu do lado de fora da faculdade. Segundo a polícia, os veteranos foram preparados para humilhar os calouros.

“Eles se organizaram anteriormente. Foram usados materiais veterinários, substâncias como creolina, água de milho podre, óleo queimado, fezes de animais. Cada um trazia já de casa, pelo o que a gente apurou até agora, e aplicava nos alunos”, afirma a delegada Patricia Tranche Vasques.
“Passaram esmalte na minha sobrancelha, passaram tinta, batom. Riscaram meu braço, minha perna. E aí veio todo mundo, aí nisso, cada um jogava uma coisa. Nisso, nessa hora que jogaram algum produto na minha perna, aí começou a arder. Eu cheguei na médica e aí ela disse que poderia ser algum ácido que poderiam ter tacado alguma coisa assim”, conta Carla Crivellaro, vítima do trote.

Quatro calouros se feriram durante o trote em Adamantina. O caso mais preocupante é do Caio, que pode ficar com sequelas em um olho. A lesão atingiu 70% da córnea esquerda.

Fantástico: Você viu quem jogou esse produto em você?
Caio Eduardo Igino, vítima do trote: Não, não tem como ver na hora porque é muita gente.
Fantástico: Você tem algum ressentimento, alguma raiva de quem fez isso com você?
Caio: Não. Eu só penso em voltar aqui e estudar.
Fantástico: Você lutou para entrar na faculdade. E, de repente, no primeiro dia você recebe esse tipo de tratamento.
“Eu fiquei chocada pelo que aconteceu. Eu dou graças a Deus de não ter acontecido uma coisa pior, por ter não ter pegado no meu rosto, nada disso”, diz Carla.

A polícia de Adamantina afirma ter identificado um dos suspeitos de ter jogado produto químico nos quatro estudantes. Os alunos da faculdade também estão ajudando na investigação, dando depoimentos e mandando vídeos com imagens do trote para a delegada do caso, que promete esclarecer o crime ainda nesta semana.

A faculdade está ajudando e já abriu uma sindicância para apurar o caso.

“É proibido o trote dentro da nossa instituição. O trote ele é crime, o trote ele não pode acontecer. Infelizmente, esses alunos vêm e, sem autorização de ninguém eles acabam fazendo”, afirma o diretor-geral da faculdade Márcio Cardim.

No mesmo dia do trote do ácido aconteceu um outro fato grave e humilhante envolvendo alunos da faculdade. O caso também já está sendo investigado.

Foi na entrada da faculdade que cinco calouras do curso de veterinária passaram por um trote constrangedor. Elas foram obrigadas a simular um ato sexual na frente dos estudantes veteranos. Quem não colaborava ou resistia à brincadeira de muito mau gosto corria o risco de ter os cabelos cortados.
A caloura de pedagogia que teve queimaduras de terceiro grau por causa do ácido jogado pelos veteranos falou de outra situação constrangedora.
“Ficava dando bebida alcoólica para as meninas, tipo pinga pura, essas coisas. E puxava, rasgava as blusas das meninas sem elas quererem também, forçando”, ela conta.

“Esses alunos, sendo identificados, mesmo se eles não tenham praticado especificamente daquela ação do produto químico, eles também serão punidos”, garante Márcio Cardim.

Na segunda-feira (2), também aconteceu um trote violento na capital paulista. Um calouro, que não quis se identificar, diz que foi obrigado a tomar bebida alcoólica e acabou desmaiando. Chegou ao hospital desacordado e com vários machucados.
“Eu não quero que outra pessoa passe por isso. Já está ficando exagerado”, diz ele.

Em Adamantina, a direção da faculdade já decidiu: vai expulsar todos os veteranos que participaram do trote com ácido.

“Para mim não são alunos, são criminosos. E como criminosos eles têm que ir para a cadeia e serem expulsos da instituição. Não importa se esse aluno está no segundo ano ou no último ano, ele será expulso. Nós precisamos fazer com que isso sirva de exemplo não só aqui para nossa instituição, mas para o resto do Brasil”, garante Márcio Cardim.

Fonte: G1

Redação

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