Com o fim da safra de verão, parte da cadeia produtiva ligada à agropecuária – de serviços de fornecimento de insumos rurais, de processamento, de distribuição e de comercialização de produtos agrícolas – continua a todo vapor nos Campos Gerais do Paraná neste 2º semestre.
Engana-se quem pensa que o trabalho é intenso e o lucro é maior apenas no período de colheita.
Lucro depois da safra
Nos Campos Gerais, as vendas de máquinas agrícolas, em geral, têm um superaquecimento depois da safra de verão – que são as lavouras de soja, milho e feijão, as principais para os agricultores da região.
Na MacPonta Agro, em Ponta Grossa, 67% do faturamento anual ocorre no 2º semestre, ou seja, depois da safra de verão.
A principal justificativa é a de que, depois da colheita, o produtor rural consegue trabalhar com previsões: ele já sabe o rendimento da lavoura, tem conhecimento sobre as tendências para as próximas safras e consegue programar os investimentos necessários.
Ao término da safra de verão, a empresa realiza, tradicionalmente, uma feira com ofertas de máquinas agrícolas, peças e serviços. "De 30% a 40% das nossas vendas do ano são feitas no evento", explica o gerente comercial, Alexandre Maggioni.
Ainda de acordo com ele, a força do agronegócio nos Campos Gerais tem impedido que o setor sinta os reflexos da crise econômica brasileira.
"Os agricultores da nossa região não perderam o poder de compra por conta da grande produção. Aqui, eles são muito voltados para a compra de novidades, investem em tecnologia. É uma região boa! Então, não sentimos tanto os efeitos como os outros setores", acrescenta.
Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), no ano passado, em todo o país, a venda de máquinas agrícolas e rodoviárias também foi mais alta entre os meses de agosto e outubro – o que reforça o poder das safras de verão em todo o país.
Nas cooperativas, a movimentação também continua depois da safra de verão: é a hora de, por exemplo, vender para as indústrias o produto tirado do campo.
Também é depois da safra de verão que o agricultor dos Campos Gerais começa a preparar o solo para os próximos plantios. A acidez das terras regionais, por exemplo, faz com que a aplicação de calcário seja indispensável.
De acordo com a Calcário Calpar, em Castro, as vendas costumam dobrar ao fim das safras de soja e de milho. “O pessoal precisar tirar a cultura do campo antes. Então, entre os meses de março e setembro, a venda de calcário aumenta”, esclarece o diretor Paulo Bortolini.
Ainda segundo Paulo, a expectativa, neste ano, é a de que sejam vendidas 1,2 milhão de toneladas de calcário, o que equivale a 35 mil caminhões carregados. O número deve ser semelhante ao de 2016, talvez um pouco maior.
Para Paulo, boa parte da cadeia ligada à agropecuária enfrenta, sim, os efeitos da crise. Ele, que também é diretor da empresa Gran Finale Sistemas Agrícolas, diz que o comércio de silos tem sentido mais o impacto na economia.
“Silos são um investimento a longo prazo. Eles se pagam a partir de cinco anos. A pessoa investe em armazenagem quando tem uma perspectiva positiva, o que tem sido complicado neste momento", acredita.
As transportadoras também têm, por vezes, esbarrado na crise. Porém, apesar da instabilidade econômica, há empresários que ainda encontram no 2º semestre uma oportunidade de lucrar ainda mais do que na safra de verão.
De acordo com o diretor da Rodoprince Transportes Ferroviários, Mauri Marcelo Bevervanço, o transporte de itens agrícolas deve continuar em alta na empresa nos próximos meses.
É por conta, essencialmente, do transporte da produção que não foi vendida e ficou estocada.
"O cliente vende 30%, 40% da produção em março e em abril, época da safra de verão, na região. O que fica no estoque, ele começa a vender no 2º semestre. Tem milho safrinha, soja e feijão para transportar. É preciso que tudo seja vendido para investir no próximo plantio", explica.
Conforme Mauri, o faturamento na trasportadora de Ponta Grossa costuma ficar 50% maior entre agosto, setembro e outubro. Neste período do ano, ainda segundo o diretor, 100% da frota opera.
Nos Campos Gerais, outros produtos ligados ao agronegócio, como fertilizantes, nutrientes para o solo, sementes e defensivos agrícolas fortalecem o setor de transportes na região. Porém, no setor, o carregamento de grãos ainda é o carro-chefe.
A maioria dos clientes da Carrocerias Rainha, em Ponta Grossa, transporta itens agrícolas. E é também depois da correria da safra de verão, principalmente, que os interessados em novas carrocerias e em consertos nas velhas. É hora de faturar mais.
Para o administrador da fábrica, Adilson Schoemberger Junior, que trabalha há 24 anos na área, diante de um cenário desafiador na economia, uma coisa é certa: a agropecuária tem sido a salvação de muitos empresários da região.
"O agronegócio é o que nos impulsiona. É o que nos mantém", explica.
Economia em movimento
O economista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) Wilhelm Meiners cita mais empreendimentos ligados ao agronegócio que lucram, independentemente da safra de verão, com a agropecuária nos Campos Gerais.
Entre elas, estão a indústria cervejeira em Ponta Grossa, que conta com a alta produtividade de trigo na região dos Campos Gerais no inverno; e também a tradicional comercialização de queijos e outros laticínios na Colônia Witmarsum, que é possível graças à bacia leiteira de Castro.
Para Wilhelm, essa forte cadeia produtiva que se instalou na região influencia positivamente outros setores dos Campos Gerais, como o de construção civil e o de venda de veículos, por exemplo.
"O poder aquisitivo das pessoas ligadas ao agronegócio reflete em bens duráveis adquiridos por elas, como casas e carros, por exemplo. Reflete na educação, como na procura das melhores escolas. É uma cadeia produtiva que movimenta toda a economia da região", finaliza.