Impressionante que mesmo recebendo as mesmas informações, mesmo recebendo a mesma genética, mesmo estudando na mesma escola, um filho é totalmente diferente do outro. Acabo de receber o boletim de Joãozinho, tudo muito rápido, só sorrisos, é um menino de ouro. Levanto, vou até o bebedouro que fica no corredor e tomo um copo d´água, todo garboso. Vou até a classe de Maria Flor, a professora, que até então sorria, emburra.
– O senhor que é o pai da Maria Flor?
– Sim… Eu mes…
– Então, por favor, sente-se, que temos de ter uma conversa séria!
E assim foi o primeiro bimestre. Ela sempre foi mais arteira que João, mas o que incomoda é que ela só faz as coisas na hora que ela quer. E, no auge de sua sapiência de 3 anos, consegue convencer todo mundo.
– Pai… me empresta o celular???
– Não, filha… Papai tá jogando Clash.
– Então, posso jogar com você?
– Pode.
Pega o telefone, só coloca os personagens femininos.
– Nós ganhamos, papai?
– Não, Mamá.
– Viu? Então não é pra jogar. Vou ver Marcos. Tá bom, papai?
Pega o celular e me dá um beijo no rosto. Me enrola num segundo. Mas com Francisco não vai ser assim; 40 anos de diferença não me fazem um pai/vô. Parecendo adivinhar meus pensamentos, ele puxa minha calça apontando para a geladeira.
– Dadadadadada.
– O que você quer Franz?
Me pega pela mão e me leva perto da geladeira. Abro a porta.
– Dadadadadada.
Aponta para uma garrafa de Coca pela metade na geladeira. Fico olhando pra ele. Ele mesmo balança seu dedo indicador negativamente.
– Não pode.
– Dadadadadada.
– Tá!!! Chega de pressão!!! Não conta nada pra sua mãe, viu!
Ele dá uma risada mostrando os seus 5 dentões enquanto lhe dou um abraço de urso.