Antônio Correia/Divulgação
O cacique Raoni, liderança indígena Kayapó, de Mato Grosso, teve seu rosto retratado pelo muralista paulistano Eduardo Kobra em um prédio de Lisboa, em Portugal. Esta semana o artista, que é reconhecido internacionalmente assim como Raoni, entregou a obra que tem 11,5 por 15 metros. Esta é a primeira obra do artista no país.
Segundo Kobra, a obra é um alerta para proteção dos povos indígenas, das etnias e da preservação da floresta amazônica.
Kobra pediu autorização ao cacique Raoni antes de dar início a obra e o cacique aceitou prontamente. “E o mundo precisa saber de nossa luta, respeitar os índios e respeitar a natureza como um todo”, disse o cacique.
O artista considera este um de seus mais importantes trabalhos pela causa que representa. “Fiz questão de colocar uma figura icônica indígena, uma liderança, pintada no mural. Para mostrar que é preciso falar dos índios. É preciso que todos lembrem que os índios estavam e ainda estão no Brasil”.
Portugal é a quinta etapa da viagem de Kobra. Em abril, ele esteve em Blantyre, em Malawi, África, onde pintou dois murais em um hospital infantil, a convite da cantora Madonna. Depois, realizou em Murcia, na Espanha, o mural “Dali” (sobre o pintor Salvador Dalí), obra que já se tornou atração cultural e turística na cidade.
História
Raoni há quatro décadas trava uma luta em defesa da preservação da floresta amazônica, onde nasceu. Pai fundador do movimento para preservação das últimas florestas tropicais, patrimônio inestimável da humanidade, ele arriscou muitas vezes sua vida por essa nobre causa.
Sua página oficinal na internet aponta que, para além da Amazônia, Raoni representa o símbolo vivo da luta levada pelas últimas tribos do mundo para proteger uma cultura milenar, em conexão direta com a natureza: uma luta pela vida.
Ninguém sabe com precisão qual foi o dia em que veio ao mundo. Foi provavelmente no inicio dos anos 1930, talvez em 1932.
Foi em 1954 que Raoni encontrou-se com os irmãos Villas Boas, famosos indigenistas brasileiros. Com eles, começou a aprender a língua portuguesa e tomar consciência do mundo afora, aquele dos homens brancos. Ficou um ano inteiro perto dos irmãos Villas Boas.
No fim dos anos 1950, encontrou-se com seu primeiro presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek. Mais tarde em 1964, cruzara o caminho do rei Leopold III da Bélgica, que estava em expedição na região. Sinal do destino já que será outro belga que ira transformar o curso da sua existência, alguns anos mais tarde.
O encontro com o belga em questão, o jovem cineasta Jean Pierre Dutilleux, ocorreu em 1973. Fascinado pela personalidade e o carisma inacreditável de Raoni, Dutilleux voltara a visitá-lo alguns anos mais tarde com a ideia de dedicá-lo seu primeiro filme documentário longa-metragem.
O filme "Raoni" é apresentado no festival de Cannes em 1977. Foi um sucesso de crítica, mas Jean Pierre Dutilleux transforma o teste conseguindo implicar Marlon Brando, filmando-o para uma versão inglesa.
Raoni foi então indicado ao Oscar e exibido no Mann's Chinese Theatre de Los Angeles. O Brasil aclama o filme e Raoni torna-se o índio mais famoso do pais continente. Este toma então consciência de que Kritako, o homem do nariz de faca, apelido indígena de Dutilleux, e sua câmera deram para ele o poder de divulgar as preocupações do povo Caiapó quanto ao desmatamento que ameaça seu meio ambiente.
Em 1989, com ajuda do cantor Sting (que lhe foi apresentado por Dutilleux), Raoni deixa o Brasil pela primeira vez e lança, em 17 países, um pedido de ajuda. Divulgado pela maior parte das redes de televisão, contribuirá para a tomada de consciência: o desmatamento não só destrói as últimas tribos indígenas como compromete o futuro de todos.
Doze Fundações Rainforest (Selva Virgem) foram então criadas, com o primeiro objetivo de obter recursos para ajudar na criação, na Amazônia, na região do Xingu, de um parque nacional com uma superfície de mais ou menos 180 000 km2 (cerca de um terço da França).
A missão foi cumprida em 1993, depois do formidável sucesso obtido pela sua vinda. Este parque, situado nos estados do Mato Grosso e do Pará, constitui hoje uma das maiores reservas de florestas tropicais do planeta. Depois desta campanha, o G7 desbloqueou os fundos necessários à demarcação de todas as reservas indígenas existentes hoje no Brasil.
O presidente francês Mitterrand, foi o primeiro a apoiar a iniciativa de Raoni; seu apoio trouxe um formidável impulso nesta cruzada memorável. Seguiram, dentre outros, Jacques Chirac, o rei Juan Carlos da Espanha, o Príncipe Charles e o Papa João Paulo II…
Em 2000, enquanto o mundo se questiona sobre os grandes desafios que a humanidade irá enfrentar no novo milenário, Raoni volta à França, depois de 11 anos de ausência, no mesmo momento em que o Brasil celebrava o 500° aniversário de sua «descoberta» e anunciava oficialmente a continuidade do desmatamento como resposta às encomendas exteriores de madeira preciosa.
Ele obteve novamente o apoio do presidente Jacques Chirac para seu projeto do Instituto Raoni, um conceito de liderança para preservar uma imensa área de floresta tropical no coração da Amazônia brasileira. Apesar de um estudo de viabilidade financiado pela França e de grandes esperanças, o projeto ficou congelado depois dos eventos de 11 de setembro 2001.
É o projeto do imenso complexo de barragens, a de Belo Monte, que ameaça diretamente o território que ele protegeu com tanta dificuldade, que fez Raoni sair da sua reserva em 2009. Ele decidiu, então, lançar-se numa última campanha para procurar apoio na Europa e dar um novo impulso ao Instituto Raoni, com o apoio do fiel amigo Jacques Chirac.