O cabo do Exército Michel Augusto Mikami, de 21 anos, morto durante patrulhamento da força de pacificação no Conjunto de Favelas da Maré, no Rio de Janeiro (RJ), estava a quatro dias de concluir a missão e voltar para a casa da família, em Vinhedo (SP), quando sofreu o atentado nesta sexta-feira (28). Segundo o Exército, o contingente ao qual ele pertencia, seria substituído na quarta (3). Mikami foi o primeiro militar das Forças Armadas morto desde o início do processo de pacificação, há seis anos.
O corpo do militar chegou do Rio de Janeiro ao Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP), às 14h30, e seguiu em comboio, escoltados por veículos militares, até o Velório Municipal de Vinhedo, onde o velório teve início por volta das 17h. O cabo vivia no município paulista com o pai, um pintor, a mãe, uma dona de casa, e três irmãos mais novos. Ele entrou no Exército em 2012 e foi promovido a cabo já no ano seguinte, servindo pelo 28º Batalhão de Infantaria Leve, sediado em Campinas.
'Fatalidade', diz comandante
O comandante do batalhão acompanhava o patrulhamento da tropa de Mikami naquela tarde e, por isso, presenciou o momento em que ele foi atingido na cabeça. "Todos nós estamos emocionados com o que aconteceu, no momento em que houve o episódio eu estava junto e isso me toca mais ainda. Uma vida vale muito e a perda é sempre muito sentida. Mas nós temos em mente que a ida dele não foi em vão. A ida dele representa muito para ajossa tropa, representa uma energia que vai fazer com que nós cumpramos nossa missão com muito mais vontade, com muito mais dedicação para levar a pacificação àquela comunidade do Rio de Janeiro", afirmou.
De acordo com o general João Camil Campos, comandante militar do Sudeste, o jovem foi atingido no momento em que se deslocava de uma área coberta para outra durante patrulhamento diário de praxe. "A emboscada, nesse tipo de operações em ambiente urbano, ela acontece. Acontece um tiro de um local de onde você não prevê. Imagine você uma comunidade enorme como aquela, plana, onde você não tem como prever de onde vem o tiro. Na verdade, todos os procedimentos estavam tomados e ações desse tipo tem ocorrido diariamente mais de uma vez, portanto, o que ocorreu foi uma fatalidade", relatou o oficial.
Volta para casa
A missão do Exército no Complexo da Maré teve início em 31 de março e se encerra em 31 de dezembro. Nesse período, o Exército realiza substituições escalonadas do efetivo e o grupo ao qual Mikami pertencia teria o último dia de trabalho na terça e, no dia seguinte, viajaria de volta para Campinas. Os pais do cabo não quiseram dar entrevista, mas alguns amigos e familiares relataram que havia uma grande expectativa deles e dos irmãos do militar em relação ao retorno dele. O jovem já havia atuado na missão de paz das Nações Unidas no Haiti e na operação de segurança da Copa do Mundo em São Paulo.
Segundo alguns parentes, o jovem, decendente de japoneses, era o único militar da família. Ele ingressou no Exército após passar uma temporada com os pais no Japão. "O menino sempre sonhou em servir ao Exército", relatou um amigo da família.Alguns colegas de farda mais próximos de Mikami foram liberados antecipadamente da missão para retornar ao interior de São Paulo para acompanhar velório e sepultamento. O enterro está previsto para as 12h deste domingo (30), com honrarias e homenagens. "O pessoal vai sentir muito a falta dele, a gente era muito colado, eu posso dizer que ele era o meu melhor amigo de farda. Ele era um moleque espontâneo, que vai fazer falta para todo mundo que estava na missão", disse emocionado cabo Chaves, companheiro de missão da vítima.
G1